Capítulo 9 - Lembranças

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No dia seguinte ao aniversário, após o almoço, P'Prae foi visitar Krist. Como Myna estava passando o dia com os avós, ela sabia que o encontraria sozinho e tinha muitas coisas que gostaria de conversar com ele. A pedido de Singto, ela trouxe um presente que iria ajudar Krist a passar suas horas vagas: um notebook. Apesar de não saber de quem se tratava na época que recebeu a encomenda, ela comprou e equipou o melhor equipamento para ser usado por um programador.

A irmã de Singto tinha uma personalidade única. Quando chegava em algum lugar parecia um furacão. Era o centro das atenções mesmo sem precisar fazer nada. Gostava de falar tudo que pensava, de maneira direta e sem rodeios. Era impulsiva e não tinha medo de se arriscar. Tudo que falava tinha um certo ar de provocação.

Quando ela entrou em casa e chamou por Krist, ele veio do quarto em sua cadeira de rodas. Apesar de estar começando a andar, havia prometido a Singto que, enquanto estivesse só em casa, não iria tentar andar sozinho pra não sofrer nenhum acidente e prejudicar sua recuperação.

Olhando pra ele sentado a sua frente, ela perguntou sem a menor cerimônia.

- Como está meu cunhado preferido? Dando uma risada e logo em seguida se aproximando para dar um abraço nele, após colocar a encomenda de Singto sobre a mesa.

- É bom ver você também, P'Prae. Respondeu Krist. Dando um sorriso, mas já ficando vermelho.

- Falando sério agora, Krist. Sinto muito o que aconteceu com vocês, mas estou feliz em ver que você e Myna estão bem, mesmo vendo que você ainda está se recuperando.

- Eu entendo o que você quer dizer... também me senti assim por algum tempo... imaginar que tivemos sorte, mesmo depois de termos sofrido o acidente e termos perdido Anong... é um sentimento confuso de se sentir. Falou Krist.

- Só posso apenas imaginar! Respondeu Prae.

- Vamos nos sentar no terraço? Acho que lá é mais confortável pra gente conversar! Falou Prae.

- Vamos! Respondeu Krist. Você me dá a honra de segurar em seu braço? Perguntou em seguida.

- Com todo prazer. Tudo pelo meu cunhado querido! Falou às gargalhadas.

Ficando novamente vermelho, Krist segurou no braço de Prae para se apoiar enquanto se apoiava para se levantar de sua cadeira de rodas. Após pegar a sua muleta para dar apoio ao outro braço, os dois caminharam lentamente para o terraço e sentaram-se no balanço que ficava virado para o jardim e para a praia.

Enquanto olhavam a paisagem, Krist lembrou-se de quando conheceu P'Prae. Quando foi contratado para preparar e configurar o sistema de segurança de dados da empresa, e de como ela dizia que ele era o cunhado que ela estava procurando. Mesmo após dizer que não era gay e tinha namorada. Com sua personalidade arrojada, ela não se deixava intimidar. Apenas ria e dizia que era porque ele ainda não tinha conhecido o irmão dela, levando os dois a rirem. O tempo passou e se tornaram bons amigos. Lembrou-se quando falou que iria casar e ela perguntou se realmente amava Anong. Ela dizia que só porque estavam juntos desde a adolescência, quando se conheceram no orfanato, ele não devia se sentir obrigado a casar. Casamento é muito mais do quê a coisa certa a se fazer. Ela falava que faltava o brilho nos olhos dele quando falava que ia casar. Perguntava se ele sentia o estômago embrulhar de ciúmes quando alguém chegava perto de Anong. Se, quando estava fora de casa, ele contava os minutos que faltavam para terminar o dia e ir correndo para casa se jogar nos braços dela pra fazerem amor. Mesmo assim, com todos esses argumentos de P'Prae, ele ainda achava que casar-se com Anong era a coisa certa a se fazer.

Depois de permanecerem em silêncio durante um tempo, Prae começou a falar sem nem olhar pra Krist.

- A vida é engraçada. Eu planejei tantas vezes apresentar meu irmão a você antes do seu casamento e sempre deu errado. Eu tinha tanta certeza que vocês foram feitos um pro outro. Sempre que ele ia a Bangkok eu convidava vocês dois para saírem comigo na esperança de se conhecerem e nunca dava certo. Um dos dois terminava faltando ao encontro por algum motivo. O caminho de vocês nunca se cruzou e de repente, depois de uma tragédia, você cai de paraquedas na vida dele. Se isso não for o destino não sei que nome devo dar pra isso.

O Fisioterapeuta (Portugues-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora