Lorde - jikook kookmin

Capitulo 2

Jimin enfia as mãos no fundo dos bolsos na vã tentativa de aquecer os dedos frios. Encolhido no cachecol, ele atravessa a garoa gelada de inverno em direção ao prédio residencial no Chelsea Embankment. É quarta-feira, seu segundo dia lá sem Krystyna, e ele está voltando ao apartamento com o piano.

Apesar do clima, sente-se vitorioso, porque sobreviveu ao trajeto no trem lotado e apertado sem a ansiedade de sempre. Está começando a entender que Londres é assim mesmo. Gente demais, barulho demais e engarrafamento demais. Porém, o pior de tudo é o gato de ninguém se falar a não ser para dizer "com licença" quando esbarra em você ou "vá para o fundo do vagão, por favor". Todos se escondem atrás dos jornais gratuito, ouvem música nos fones de ouvidos ou olham fixo para os celulares ou livros eletrônicos, evitando qualquer contato visual.

Naquela manhã, Jimin tivera a sorte de encontrar um assento no trem, mas a mulher ao seu lado passará a maior parte do trajeto gritando no celular sobre seu encontro mal sucedido de noite anterior. Jimin tentou ignorar e ler o jornal gratuito para melhorar o seu inglês, mas queria mesmo era escutar música, não a reclamação barulhenta daquela mulher. Terminada a leitura, ele fechou os olhos e imaginou montanhas majestosas salpicadas de neve, pastagens onde o ar tinha aroma de tomilho e era dominado pelo zumbido das abelhas. Jimin sente saudade de casa. Saudade da paz e silêncio. Saudade da mãe e do piano.

Flexiona os dedos dentro dos bolsos enquanto relembra sua música de aquecimento, ouvindo as notas em alto e bom som, vendo-as em cores vivas. Quanto tempo faz desde a última vez que tocou? Sua empolgação cresce ao pensar no piano a sua espera no apartamento.

Atravessa a entrada do prédio antigo em direção ao elevador, quase sem conseguir conter o entusiasmo, e segue até a cobertura. Durante alguma horas, todas as segundas, quartas e sextas, aquele lugar maravilhoso com cômodos grandes e arejados, chão de madeira escura e piano de cauda é todo dele. Jimin abre a porta, preparado para desativar o alarme, mas, para sua surpresa, o sistema não emite um bipe. Talvez esteja desativado ou quebrado. Ou... Não. Ele se dá conta, horrorizado, de que o dono deve estar em casa. Ouvindo com atenção, tentando detectar qualquer sinal de vida, ele para no corredor amplo com paredes decoradas com fotos de paisagem em preto e branco. Não ouve nada.

Mírë.

Não. "Que bom". Inglês. Pense em inglês. Quem quer que more ali deve ter ido trabalhar e se esquecido de ativar o alarme. Ele nunca viu o sujeito, mas sabe que tem um trabalho bom, porque o apartamento é imenso. De que outra forma poderia bancar aquilo? Ele suspira. O sujeito pode ser até rico, mas é um porco. Jimin já esteve ali três vezes, duas delas com Kystyna, e o apartamento está sempre uma bagunça, demandando horas de arrumação e faxina.

O dia cinzento se infiltra pela claraboia ao final do corredor, então Jimin liga o interruptor, e o lustre de cristal acima dela ganha vida, iluminando a passagem. Ele tira o cachecol de lã e o pendura com o casaco no armário ao lado da entrada. Pega na sacola plástica os tênis velhos que Magda lhe deu e substitui as botas e meias molhadas por eles, satisfeito por estarem secos e aquecerem seus pés. Sua camiseta e o casaquinho finos não são páreo para o frio. Ele esfrega os braços com força reanimá-los um pouco enquanto anda até a cozinha e entra na lavanderia. Ali, larga a sacola de compras na bancada. Tira de dentro o uniforme de náilon grande demais que Kystyna lhe deu e o veste por cima da roupa. No armário debaixo da pia, pega o kit de limpeza e, do alto da máquina de lavar, tira um cesto de roupa, seguindo para o quarto dele. Se ele se apressar, pode terminar a faxina antes da hora e ter o piano para si por um tempinho.

Ele abre a porta, mas fica na entrada do quarto.

Ele está aqui.

O homem.