𝙲𝚑𝚊𝚙𝚝𝚎𝚛 2.4

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Um ano.
Já faz um ano.

Um ano que conheci minha filha. Que reencontrei a mulher que eu amo. Que tenho vivido o sonho mais doce e lindo do mundo.

Mas já está na hora de acordar.
Não está?
Sim,está.

O cheiro de hospital me deixa aéreo e me trás náuseas. Sinto que vou vomitar a qualquer instante. Minhas mãos estão soando. Minhas pernas trêmulas não param de balançar. O medo e a frustração percorrem cada mínimo centímetro da minhas células. O suor escorrendo por minha testa de forma lenta é quente e angustiante.

— Mãe- a chamo com a voz rouca e falha. Ela me olha com os olhos inchados e vermelhos — O que houve? Por que...como isso aconteceu?- pergunto

Minha mãe fechou os olhos e respirou fundo. Juntou as mãos e me olhou.

— Seu pai está com problemas,querido- diz chorosa — O estresse é demais para o coração frágil dele. Viemos duas vezes aqui semana passada por conta das dores...não achei que seria tão forte dessa vez- a lágrima escorrendo por seu rosto partiu meu coração

— Por que não me contou? Por que não me ligou?- pergunto frustrado — Meu irmão sabe?- pergunto a olhando

Ela assentiu culpada. Fechei minhas mãos em punhos. Engoli a seco toda a frustração.

Sou o caçula da família. O mais rebelde também. Meu pai nunca me contou nada por isso,e minha mãe evitava me deixar preocupado. Acham que não ligo para a saúde e vida de meu pai apenas por não ser presente.

Quanta tolice.

Quando o médico chegou,era notável sua expressão cheia de empatia e tristeza. Eu odiava esse olhar. Mas um frio percorreu minha espinha e meu estômago pesou.

Eu sinto muito...

Parei de escutar quando ele disse isso. Fiquei surdo e mudo. Acho que até mesmo asmático,pois eu puxava o ar com dificuldade e meus pulmões doíam. Meu coração doía.

Durante todo o processo,desde velar e enterrar o corpo até as orações,eu não chorei. Mesmo com Eunbi segurando minha mão e dizendo que poderíamos conversar,eu não consegui chorar.

— Papai- a voz de Jiwoo me faz acordar do transe. A olho com atenção. Seus olhinhos estavam vermelhos e inchados.

Meu pai pode ter sido horrível comigo,mas fez de tudo por Jiwoo durante esse curto período. Ele a amou de verdade e isso o fazia humano.

— Diga,meu anjinho- falo a pegando no colo

Ela tocou meus olhos com cuidado com seus pequenos dedinhos gordinhos. Sorriu fraco e beijou a ponta de meu nariz,me deixando surpreso.

— Está tudo bem,paisinho- fala,me abraçando em seguida. — A mamãe disse que o vovô está bem agora e que ele foi muito amado. O senhor amou muito o vovô,não é? Não se preocupe com isso- diz e sinto sua mão em meu cabelo

Não o amei o bastante.
Nem sequer sei se o amei.
Nem sequer sei se um dia senti remorso por isso.

— Certo- falo sorrindo fraco — Eu amei o vovô sim- toco seu nariz — Vá brincar,hm?- a coloco no chão

Jiwoo corre até onde Eunbi e meu irmão conversavam. Ela me olhou e sorriu fechado.

Aquilo me acalmava.
O sorriso delas.
O apoio.

Amor- escuto Eun me chamar e a olho

Ela foi até sua gaveta da cômoda ao lado da cama,tirando um envelope de lá. Franzi o cenho ao não reconhecer.

 𝓞𝗻𝗲 𝗻𝗶𝗴𝗵𝘁 ‡ 𝒉𝒂𝒏 𝒋𝒊𝒔𝒖𝒏𝒈 Onde histórias criam vida. Descubra agora