Quando vai voltar?

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É sexta feira à noite e não tenho medo do cheiro que tu trás quando dá mais um trago no cigarro, nem do desleixo nos passos.

Os nós do cabelo encaracolado despenteado te deixam mais belo do que eu gostaria de admitir, do que tenho coragem de admitir.

Me aproximei calmo de você, temendo que desaparecesse entre os carros e cartas inacabadas quando lhe beijo, lembrando mais uma vez que o veneno pode ser tão saboroso.

É beladona, de fato.

Não me assusta mais, o gosto amargo tão suculento, igualmente doce da tua boca na minha, o amargo da falta e o açúcar da saudade saciada. Eu aperto sua cintura descontando a raiva.

Me sinto em chamas, temendo verdadeiramente queimar sua imagem quando lhe ergo e impresso o corpo forte na parede do meu quarto. Não lembro quando subimos as escadas pra ser verdadeiro.

O perfume, o anonimato, é tudo diferente do jeito animado que tinha, da bondade intrínseca resplandescida no sorriso bobo.

O shampoo novo, o olhar morto, o sorriso torto e acintoso é chamativo, fraudulento para meus princípios mas eu o amo. Amo você, e odeio admitir que amo o novo jeito que me segura nos teus braços.

Tateio seu corpo, procurando com o pouco que consigo ver tudo que preciso para escrever esse homem que beija meu pescoço, marca meu rosto e sussurra meu nome em prazer até que a madrugada diga que é o bastante por enquanto.

Quando some novamente, me sinto frio, oco.

Quando a manhã aparece, já estou sentado na escrivaninha de cor sem graça.

Escrevo seus traços antes que me esqueça.

Então choro copiosamente de novo. Pois preciso te eternizar, antes que te esqueça.

De: Alguém que não sabe se ficou surpreso pela sua volta.

Para: Um conhecido vilão ( Alguém que já foi herói )




Quando vai voltar?






Para alguém que já foi heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora