Fúria

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Na manhã seguinte, Joe despertou antes do sol nascer e foi ao estábulo levar maçãs para seu fiel amigo: o cavalo que encontrara pastoreando nas florestas ao redor de Britonia. Na época em que o encontrou ainda era um pequeno corcel, muito arisco e selvagem. Aquele animal impetuoso de pelagem negra como a noite prontamente o cativou. Em razão do seu olhar destemido e intimidador Joe passou a chama-lo de Fúria. Toda manhã levava frutas para o pequeno corcel, sendo maçãs suas favoritas. De início, jogava uma ou duas próximas ao animal, Fúria sempre se aproximava, primeiramente com desconfiança, e com o passar do tempo, com mais desinibição. Devoravam-nas e logo desaparecia entre as matas.

Até que um dia o britoniano conseguiu se aproximar e, acariciando a pelagem macia de Fúria, deu um salto presunçoso e montou no arisco e, até então, indomado cavalo. Com temperamento selvagem e violento, o animal o derrubara por diversas vezes, mas Joe não cedeu e conseguiu adestrar o impetuoso cavalo. Depois de passar a maior parte tempo cavalgando pelas florestas e vilas ao redor de Britonia, Joe e Fúria criaram um forte laço de amizade.

Com o decorrer dos anos Fúria se tornou um corcel esplendido, rápido e forte. Joe nunca deixou de levar as desejadas maçãs para seu amigo e de escová-lo todas as manhãs possíveis. Esse era seu ritual sagrado ao acordar.

No portão principal sua mãe o espera com uma bolsa de couro, um cobertor de lã, um saco de aveia e frutas para ele e o animal, um cantil e alimentos diversos para viagem.

Joe sobe até o portão segurando as rédeas do cavalo já arreado e dá uma última checada em seus apetrechos antes de partir. Enquanto sua mãe se aproxima dando-lhe um abraço de despedida e o recomenda com ternura:

- Cuide-se, querido. Não vejo alguém mais qualificado para isto do que você.

Jodahes chega sorrindo como de costume e logo vai dizendo:

- Eu poderia me voluntariar desta missão, meu filho, mas você é jovem e muito mais hábil com as lâminas do que seu velho pai. Você possui algo que eu não possuo além da sua curiosidade pelos mistérios da vida. Você tem a habilidade de compreender as coisas com clareza o que o faz agir com muita precisão em momentos de pressão.

- Agradeço a confiança, pai. Sinto-me preparado e trarei a solução para esse problema o mais cedo possível. – Responde o britoniano

Os três se abraçam por um longo tempo, e Merid o recorda:

- Sempre foi curioso, meu filho. Lembro-me que desde pequeno me perguntava sobre as terras além de Britonia. Sempre soube que Britonia era pequena pra ti, esteja sempre atento e lembre se de espalhar o bem por onde passar. Sentiremos tua falta, tenha cuidado. - Mãe e filho se abraçam.

Enquanto eles se despediam um soldado anuncia o pronunciamento do rei Jodahes. O povoado lentamente se aproxima em frente do palácio real para ouvir seu soberano. Logo o rei surge na sacada pronunciando:

- Queridos britonianos, informo-vos que Joe baldrol irá em busca de respostas sobre essas forças desconhecidas que estão aterrorizando nossas casas. O sábio Zalmon o aguarda para uma reunião visando sanar esse mistério e logo obteremos as respostas para aniquilar o mal que paira sob Britonia. Traremos novamente a paz que tínhamos no passado. Peço que orem a deusa Lariel para o sucesso do jovem Joe nesta missão.

O povoado aplaude e ovaciona felizes com a atitude e coragem do rei perante a preocupação com a paz do reino. A partir daquele dia, todos admiravam ainda mais aquele homem.

O jovem de olhos azuis acena para o povoado em tom de despedida, e parte em direção de Aldebaran montado em seu fiel companheiro de aventuras.

O dia estava chegando ao seu fim, Fúria ia a passos lentos, enquanto o britoniano analisava a vegetação ao redor admirando os exóticos tipos de plantas que nasciam entre os carvalhos e faias. Já estava bem longe de sua cidade natal onde costumava conhecer todo o tipo de flora que a cercava.

A vegetação estava cada vez mais densa, e o crepúsculo começava a tomar conta da floresta. O cavalo ia sem pressa e seu dono estava apreensivo observando os cipós e samambaias que encobriam a visão como uma cortina semiaberta para a escuridão da mata fechada. Ao longe, por detrás das árvores, avistou uma fumaça azulada que subia de várias casas e se juntavam as nuvens escuras no céu, que anunciavam uma chuva forte que cairia antes do anoitecer.

Resignou-se a cavalgar mais alguns quilômetros em direção à pequena vila de onde subia aquela fumaça aconchegante das chaminés.

Subitamente fez com que Fúria parasse, desceu lentamente de sua cela e deu uns quatro ou cinco passos em direção a uma pequena árvore, onde subiu para observar melhor o vilarejo. Fúria pastava inquieto enquanto o britoniano observava a vila, o que não era um bom sinal, pois o cavalo sempre o precavia sobre os perigos que se aproximavam. Ele confiava em seu amigo, pois na maioria das vezes eles se viram em situações que só não eram piores devido aos avisos de sua montaria. Subiu novamente nas costas de Fúria e avançou rumo à vila. Sacou uma de suas espadas e atentamente olhava tudo ao seu redor. Após alguns passos já podia ver mais de perto as casas e sentir o agradável cheiro da boa comida.

Inesperadamente uma flecha passa zunindo em seu ouvido, Fúria ficou inerte como se não sentisse medo. O jovem guerreiro saltou e rapidamente sacou sua outra lâmina, procurando seu eventual inimigo. 

Joe Baldrol - Luz e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora