Joe Baldrol - Luz e Sombras

Uma Breve Parada

No dia seguinte, a chuva finalmente havia cessado e a luz da alvorada se infiltrava através do velho tecido batido. Ao acordar, Joe nota que a guerreira já não estava presente e o velho permanecia desacordado. Ao sair da carruagem, avista seu cavalo pastando tranquilamente. Olha ao redor e não havia sinais da justiceira. O silêncio predominava no ambiente, até que alguns pássaros assustados se ergueram como uma nuvem espessa num canto da floresta, chamando a atenção do intrépido guerreiro. Joe empunha suas armas e vai em direção ao bosque de onde as aves dispersaram assustadas. Pisando de forma sorrateira, aguçou os sentidos para não ser pego novamente desprevenido. Ouve um barulho de queda d'água. Decide adentrar na mata fechada para averiguar, nota um riacho e uma pequena cascata entre as árvores. Um juncal denso crescia em sua margem, a grama verde estava repleta das mais variadas flores. Por um segundo ele admirou a viva e bela paisagem a sua frente, mas desta vez o guerreiro atento escuta passos rasparem a vegetação, então rapidamente se esconde atrás de uma árvore.

Após alguns segundos pode ver a dona dos passos. Era ela, a misteriosa justiceira que havia o atacado na noite anterior. Ela fica por um tempo olhando seu reflexo na água cristalina. Ele pode a observar melhor com a luz do dia. Apesar de ter algumas cicatrizes em seu rosto, ela era uma mulher com traços suaves e rosto agradável, sua pele era cor de mel salpicada por sardas, cabelos longos e vermelhos. Seus misteriosos olhos verdes-dourado pareciam carregar uma profunda tristeza. A bela e selvagem mulher se vestia com simplicidade, usava um gibão negro, calça de couro e botas escuras de cano longo. A justiceira pendura seu florete em um galho e, inesperadamente, começa a se despir. O guerreiro, ao vê-la seminua, sente um calor subir pelo seu corpo, mas rapidamente vira-se de costas envergonhado. Tenta retornar para a carroça, mas seu instinto o faz olhar por cima dos ombros. Não pôde deixar de olhar para os seios dela, o jeito como ela se movia enquanto caminhava nua até o lago. Tinha um corpo esbelto e cheio de curvas, mas também estava marcada por várias cicatrizes dos pés à cabeça, algumas muito profundas. Joe percebeu naquele momento que aquela mulher de personalidade forte percorria por um caminho cheio de dor e ódio, isso a fez se tornar uma mulher violenta e destemida. Mas existia algo mais em sua personalidade, algo que o britoniano não podia ver, mas podia sentir.

Então ele vira-se outra vez retomando seus passos até a carruagem. Por azar, ou ironia do destino, o guerreiro pisa em um galho seco fazendo um enorme barulho. Seu corpo se arrepia em um misto de vergonha e medo que o deixa estático.

- Quem está ai! Grita a mulher com uma voz furiosa.

O guerreiro se abaixa tentando ocultar-se entre as plantas. Logo ouve a mulher articular novamente:

- Ah, é você! Espero que tenha vindo se desculpar pelas costelas quebradas. – Articula a justiceira dando gargalhadas.

Em seguida o britoniano ouve o barulho de quando ela pula na água o deixando curioso e confuso, fazendo com que o guerreiro se vire novamente olhando para ela. Quando notou, deu um suspiro aliviado, era seu fiel amigo, Fúria que estava ali outra vez para salvar o dia. Joe olha seu cavalo com gratidão, ele era seu anjo da guarda. Sempre dava seu jeito de intervir para salvar seu dono. O britoniano, a passos leves e rápidos, retorna até a carruagem. Quando chega até o local, nota que o velho senhor estava sentado na borda da carroça revirando uma bolsa cheia de ervas e pomadas. O velho leva um susto ao ver o guerreiro se aproximando e recua para o fundo da carroça espantado.

- Pelos deuses, voltou para me matar? Grita o velho com expressão de horror.

- Fique calmo, permita-me apresentar. Sou Joe, encontrei o senhor inconsciente e o ajudei. O que aconteceu aqui? – Pergunta o britoniano em bom tom.