capítulo 12

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- Onde infernos você estava? - Ayla me interroga assim que chegamos ao aglomerado de barracas

- Só queria minhas frutinhas - bufo, frustrada

Nesse instante, Alex sai aos fundos, ele parece ter acabado de acordar com toda essa confusão

- Alguem morreu? - ele olha para nós, bagunçando o cabelo e bocejando

- Maya foi atacada - Kent diz, irritado

- Merda - surpresa toma conta de suas expressões - o que rolou?

- Eu só tava com fome - digo, tremendo de frio

Os três me olham, e eu faço um gesto de indiferença enquanto tento voltar pra barraca de Ayla
Mas então, ouvimos um grito

- ELE TÁ CONVULCIONANDO! - o dono da voz parece estar na floresta, presumo que seja um guarda.
Corremos atrás da voz, e logo vejo o grupo de soldados em volta do corpo deitado na neve

- O que aconteceu? - Kent pergunta, confuso

- Eu não sei! Ele estava logo atrás de mim, e do nada ele - o homem gaguejou - caiu no chão e começou a tremer

O corpo parou de convulcionar, mas agora está tão imóvel que temo que o pior aconteceu

- Santa mãe natureza, ele morreu? - O guarda pergunta, chocado

Me aproximo do corpo deitado e ponho meus dois dedos em seu pescoço, tentando ouvir algum sinal de pulso

Mas não ouço nada.

Olho para os demais guardas, e balanço a cabeça, triste pela vida que acabamos de perder bem debaixo do nosso nariz

Todos soltam suspiros, alguns choram

Presumo que ele fosse conhecido entre eles

Abaixo a cabeça e observo seus olhos abertos, mas já sem vida

E com delicadeza, fecho-os cuidadosamente.

Meu olhar se dirige para uma de suas mãos, onde noto um pequeno pontinho colorido entre os dedos quase fechados

Desconfiada, abro um pouco mais sua mão, e vejo uma das várias frutinhas que antes eu estava tentada à comer

Uma expressão de choque toma conta de mim

- Ele foi envenenado - digo, pegando da mão do cadáver a pequena fruta

- Por isso? - Alex pergunta, notando o que agora seguro em minha palma

- Provavelmente - encaro a frutinha

Então as frutinhas eram mesmo envenenadas...
O cara estranho não mentiu para mim.
Como ele sabia?

- São as mesmas que você tava procurando? -Ayla pergunta

- Infelizmente sim

Kent passa a mão pelo cabelo, frustrado

- Vamos enterrá-lo.

-  Devemos

Todos murmuram em concordância.

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Algumas horas depois, estamos todos prontos para deixar o acampamento provisório
E assim como eu, não vemos a hora de deixar essa parte deprimente da floresta.
O enterro de nosso membro custou algum tempo à mais, e foi um cenário triste para muitos de nós

Mas a busca tem que continuar. Estamos aqui por um propósito, e não podemos nos desviar dele.
Fiz uma promessa à minha corte, e à minha família
Não vou voltar para casa de mãos vazias.

- Como você está? - Kent chega por trás enquanto caminho com o restante do grupo. Estamos andando à algum tempo, e o clima pesado ainda não deixou nossos corpos

- Estou viva - respondo - poderia estar pior

- Poderia ter sido você.

Viro a cabeça e nossos olhares se encontram. Acho que nunca o vi tão abatido, a profundidade de seus olhos negros parece não ter fim

- Mas não foi - olho para a neve aos meus pés - estou bem agora

- Poderia não estar

- Mas estou - eu o encaro novamente, e a preocupação estampada em seu rosto quebra meu coração

- Quando ouvi você gritar... - ele franze as sobrancelhas - nem sei descrever como eu me senti, a sensação... de ouvir você chamar por ajuda, e não saber onde te encontrar...

- Ei, ei - pego suas mãos, que estão quentes e calorosas sobre a minha pele fria - Você chegou à tempo, Kent. Se não fosse por você, não sei o que teria acontecido

- O que você viu? Quem estava com você?

- Eu... - tento achar uma forma de explicar a ele o que eu vi - ele tinha uma voz grossa, e olhos assustadores

- Era humano?

- Eu não sei, poderia dizer que sim, mas a forma como ele me nocauteou..sua força..., isso não é algo que qualquer um possa ter

- O que mais? - ele pergunta

Um pouco à nossa frente, o grupo parou de andar para dar uma pausa à longa caminhada que já fizemos, e aproveito a deixa para contar os detalhes à Kent

- Era um pouco mais alto que eu, quase da sua altura, e...suas habilidades... - me lembro da forma que o estranho desapareceu assim que me largou, isso seria alta velocidade?

- Habilidades? Ele tem poderes?

- Possivelmente - Suspiro

- Maya - Kent segura mais firme a minha mão - me promete que não vai mais sair assim?

Eu tento falar, mas ele é mais rápido em se explicar

- A vida de todo mundo ta em jogo agora, depois do que aconteceu, sabemos que estamos todos vulneráveis no momento..então, só..toma cuidado

- Eu sei, e eu sei me defender sozinha, não se preocupe - sorrio, em uma tentativa falha de passar confiança

- Do jeito que se defendeu ontem? - ele pergunta, com um ar acusatório

- Ontem foi diferente...meus poderes falharam de repente..

- Princesa, eu sei que você é capaz de fazer muita coisa, droga, Maya - ele dá um sorriso no canto do labio - sabe o que pensei quando te vi pela primeira vez naquele vestido incrível descendo as escadas naquela festa?

Faço que não com a cabeça

- pensei que eu seria congelado pedaço por pedaço caso trombasse com você - ele ri, olhando para o céu - mas fiquei tão curioso que quis te conhecer melhor - ele olha em meus olhos

- Bom saber que você não era o metido arrogante que eu pensei que fosse

Ele dá uma risada de desdém

- De qualquer forma - ele sorri - O que quero dizer, é que confio em você, mas sair por aí sozinha de novo é perigoso demais, principalmente sem dar noticias...dá próxima vez, chame alguém , mas tente não ir só

- Tudo bem, vou tomar mais cuidado - Digo, e ele suspira aliviado

- Obrigado. E você é bem cabeça dura, já te falaram isso? - ele esconde as mãos nos bolsos da calça preta

- Mamãe e papai falavam direto - lembro dos momento em que eles me acusavam de ser teimosa, e a sensação de saudade de casa se aloja fundo em minhas emoções

Kent põe a mão no meu ombro, e juntos, nos juntamos ao grupo novamente.






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