O som da bola na quadra, é lindo não é? Ela indo livremente para todos os lados fazendo o braço de alguns ficar vermelho com a força que ela os atinge, o desespero (e pouquíssimas vezes a calmaria) para que a bola não toque nunca o chão, a felicidade em poder falar "a gente ganhou" acontecendo bem na sua frente, eu quero sentir isso.
Não importa quantas vezes eu olhe, a quadra sempre parece grande demais. Eu queria estar lá dentro, poder sentir o que Hinata e Kageyama sentem. Mas toda vez que eu olho para eles eu percebo o quão dispensável eu sou aqui. Eu queria sentir toda a dor depois de um jogo emocionante de vôlei, o cansaço, a dor nos braços, o formigamento nas mãos. Eu queria saber fazer o mínimo, talvez correr rápido, pular ou sorrir na cara do inimigo como meus companheiros de equipe.
Mas eu não tenho nada de especial, não tenho o otimismo do Ryuu, a força de vontade do Hinata, não tenho nem um porcento da habilidade do Kageyama e nem a velocidade e empolgação do Noya. Nada, eu não me destaco em nada. Por que alguém olharia para mim? Por que ELE olharia para mim... Eu nunca liguei muito de ser um espectador, eu também sentia a felicidade quando nosso time ganhava, e a tristeza avassaladora de perder, eu sempre corria para comemorar ou ser aquele que da conforto depois da derrota, especificamente com ele mas... Não é o suficiente. A verdade é que eu me tornei uma pessoa muito mais ambiciosa, só que sem coragem para tomar as rédeas da situação, o que torna minha minha ambição inútil.
— Yamaguchi! — Ouvi uma voz meio sonolenta e cansada me chamar um pouco mais alto me fazendo sair do meu mundinho autodepreciativo. Ele deve estar me esperando para irmos embora.
— Tsukki, desculpe, me distrai olhando os meninos jogando — Falei sorrindo assim que cheguei perto do loiro — Vamos?
— Hm — A carranca de "tanto faz o que você estava fazendo" apareceu no rosto dele e o mesmo começou a andar sabendo que eu o seguiria.
— Tsukki... — Minha voz saiu meio baixa com medo de que a pergunta o deixasse bravo, o mesmo só olhou para mim de soslaio para que eu prosseguisse — E-eu... bem, você podia me ajudar com os treinos de vôlei nos fins d...
— Você sabe que eu treino com o Bokuto e Kuroo nos finais de semana — Uma verdadeira Tramontina, acho que ele percebeu meu incômodo pelo corte depois de olhar para mim que não consegui disfarçar a cara chateada, ele sussurrou um "desculpe" baixinho que me deixou surpreso, embora parecia que ele não queria que fosse ouvido, já que se eu não estivesse tão perto não teria nem percebido que o mesmo abriu a boca para falar.
— Ah... claro, tudo bem então, eu peço para outra pessoa me ajudar — Dei um sorriso falso e senti o olhar dele sobre mim por um tempo prolongado antes de suspirar e não dizer mais nada.
Quando chegamos em uma rua que dividia meu caminho e o dele, eu apenas dei um sorriso e um acenar de mãos antes de me virar para andar.
— Yamaguchi, tá tudo bem? — Sua voz estava carregada de desinteresse, e talvez aquela pergunta fosse apenas por educação, mas a pergunta vindo dele me deixou um pouco animado, pude até sentir meu coração errar algumas batidas — Você parece um pouco mais desligado do que de costume...
— Eu tô bem, Tsukki — Mentira. Mas não é como se ele pudesse fazer algo em relação ao que eu sentia, ele nem parecia realmente interessado ao perguntar.
— Mentiroso.
— O que disse? — Sua resposta me deixou surpreso, não pela palavra em si, mas a voz de decepção que o mesmo usara. Ele não me respondeu, apenas virou as costas e me ignorou... Eu o irritei.
Não consegui dizer mais nada, apenas o observei ir embora, e assim que o mesmo sumiu de vista, voltei a caminhar em direção a minha casa. Minha cabeça estava de novo trabalhando para me deixar para baixo, senti meu coração apertar novamente quando a lembrança do que ele falara a pouco tempo atrás começou a se repetir várias vezes na minha cabeça -"Você sabe que eu treino com o Bokuto e Kuroo nos finais de semana" - ele escolheu eles de novo. Eu sempre estive do lado dele, mas Bokuto e Kuroo são tão incríveis que ocuparam mais espaço na vida dele do que eu em apenas um jogo, era frustrante, mesmo feliz por ele conseguir novos amigos, não consigo deixar de sentir ciúmes, queria que ele olhasse com aquela admiração disfarçada para mim também.
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Todos os meus defeitos
RomanceInsegurança é tudo o que me assombra hoje, eu pensei ter superado, pensei que as sequelas da infância não me afetassem mais. Mas talvez o loiro inesperadamente seja meu porto seguro no meio de toda essa bagunça onde tudo o que eu vejo são meus defei...