O homem nasce bom. Quem o corrompe é a sociedade.Jean-Jacques Rousseau
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Capítulo 3
—O que música significa para você?
Desde muito cedo, eu me apaixonei perdidamente pela sonoridade que os seres humanos eram capazes de produzir.
Sempre achei mais do que intrigante, que apenas sete acordes, eram capazes de reproduzir todos aqueles sons que eu ouvia.
Cada variante deles, cada sustenido, eles me encantavam mais e mais. A melodia, bruta ou delicada, rápida ou lenta, agradável ou provocativa, ela sempre me atraía. Porque a música em si, era a coisa mais intrigante que meus tímpanos já haviam tido o prazer de entrar em contato.
Mamãe sempre teve o costume de cantarolar baixinho pela casa, um som bagunçado ali e aqui. Creio que, uma das minhas primeiras memórias mais limpas da infância, era essa: Ela, incrivelmente linda, com seus cabelos pretos presos em uma trança embutida. Seu corpo alto e magro balançava para lá e para cá, cantando algo que eu não conseguia entender. Mas soava como um anjo.
Lembro também, da janela estar meio aberta, o vento um pouco gelado entrava pela cozinha —juntamente com a luz laranjada do sol. Deixava suas madeixas com um tom amarelado, o avental frouxo era sempre vítima de suas mãos desocupadas, tentando apertar o nó.
Papai entrava pela cozinha, e com ele, levava mais brilho para mamãe. Sua caneca, sempre azul claro, enfeitava suas mãos grandes, que eram meu porto seguro.
Meu porto seguro gostava de pousar na silhueta de minha mãe, e ali eles ficavam. Dançando, cantarolando e apreciando o vento gelado com a luz alaranjada. E, eu, costumava ficar atrás da escada, apreciando cada detalhe daquela música viva.
Música para mim, sempre teve a ver com momentos e sentimentos.
Não associar sonoridades às pessoas, lugares e situações era algo impossível para mim. Cada um deles necessitava de uma melodia específica, de letras que fariam aquele momento ou aquele ser eternos.
Então, quando senhora Karen perguntou algo tão significativo à turma, me permiti achar uma resposta à altura.
—O trabalho para a próxima quinzena será esse, pessoal: Façam uma melodia. Simples, sim?
Não. Criar algo do zero não era fácil, nunca foi.
—Ela precisa ser única, ter características próprias que você mesmo escolherá. Se inspirem, tudo bem? Estou pegando leve com vocês, não se acostumem.
Senhora Karen era professora de produção musical, sua experiência com novos conteúdos era de surpreender qualquer um.
Talvez seu único defeito era achar que estava pegando leve. Porque ela nunca estava.
Depois que a aula acabou, peguei minha bolsa e fui andando até o campus. A universidade de Busan era enorme, e seu pátio de recreação não era diferente. Alunos de todos os cursos costumavam passar boa parte de seu tempo ali, praticando tantas atividades que seria impossível de enumerá-las.
Apertei a mão na alça que se pendurava em meu ombro esquerdo, andando um pouco rápido para sair do prédio. Apesar de gostar do pátio, o jardim dos fundos da escola era pouco usado pelos alunos, logo, era meu lugar favorito. Jin, Namjoon, Hobi e Yoongi costumavam me acompanhar até lá. Acabou virando nosso lugar.

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Prímula
FanfictionEle era a bagunça vestido de jeans e coturnos. Ele me fazia questionar minha sobriedade. Digno da beleza angelical de um Deus da antiga Grécia, carregado com o charme infernal do próprio anjo caído dono do inferno. Apolo. Lúcifer. Park Jimin. •...