Londres
O nervosismo se podia sentir em cada expressão do terceiro duque de Psalmshire. O homem de quarenta e cinco anos caminhava pelo escritório atento a cada som que imaginava que podia vir do piso superior. Esperava escutar um significativo choro de criança, mas àquela altura, até mesmo passos lastimosos pelas belas escadas da Flowercolors, tal qual ele já havia ouvido duas vezes nos últimos três anos, lhe dariam algum conforto. Ou, pelo menos, uma resposta.As sutis rugas de seu rosto que era o cartão postal de sua aparência agradável, se retraíam pela ansiedade que ele não podia controlar e deixavam sua expressão mais indócil que o normal. Sob aquele cabelo claro que se acoplava perfeitamente aos olhos de um castanho sutil, os lábios na espessura correta e delicada como se imaginava que seria a expressão de um duque, o nariz discreto e bem desenhado e o formato quadrado tão masculino, o suor e a inquietação faziam com que aquele ambiente parecesse muito menos amplo do que realmente era. Como se a qualquer momento o homem fosse sair correndo dali.
Fez sinal para o criado que, imediatamente, atendeu sua ordem e lhe serviu mais um whisky. O álcool era a única coisa que poderia lhe trazer uma mínima tranquilidade naquele momento. A saúde da duquesa nunca fora das melhores. Além de já ter se casado tão tardiamente pelos rígidos princípios morais de seu pai que não havia aprovado nenhum dos vários pretendentes que se interessavam muito mais pelo condado do que por ela, precisava arcar com a inóspita herança de sua mãe que tivera muita dificuldade em segurar qualquer gravidez. A duras penas a trouxera ao mundo e pagou as consequências daquilo até o último dia de sua vida.
Lady Francis de Courtenay, a duquesa de Psalmshire, nascera de seis meses e passara a vida tendo muitos problemas respiratórios. Além disso, precisou ver sua mãe definhar ao longo do tempo até falecer quando Francis tinha apenas dez anos, insistindo até o último instante em produzir aquele herdeiro para o duque, que Deus nunca quisera mandar. Pouco antes da morte do pai, um arranjo como o que era feito para a maioria dos casamentos da aristocracia, determinou que ela se casasse com Christopher Hanway de Redvers, um primo distante de seu pai que, em alguns meses, se tornou o terceiro duque de Psalmshire.
A ilusão inicial do casamento com a única filha do duque, logo foi se transformando em amargura para Christopher que vira duas gestações da duquesa serem abruptamente interrompidas, enquanto a mulher mal conseguia se levantar da cama cada vez que insistia em gerar uma criança. Por vezes ele pensava em sua filha Juliet e no que lhe fizera. Talvez se corrigisse aquele evento, Deus poderia se compadecer dele lhe permitir que sua descendência lhe sucedesse naquele título do qual ele tanto se orgulhava, mas temia que se terminasse com ele e não fizesse a história que ele havia sonhado.
Quanto mais as horas passavam e o choro de criança não acontecia, o prático duque ia se convencendo que não receberia uma notícia diferente daquela vez, ainda que a duquesa tenha conseguido segurar essa gestação até o sétimo mês. Sua palidez, a fraqueza, a insistência em não se levantar da cama, a força em alimentar-se ainda que sem vontade havia rendido resultado, mas, aparentemente, não o suficiente. Provavelmente, não seria daquela vez que a mulher de trinta e oito anos se converteria em mãe. Ou talvez nunca fosse acontecer.
O duque se virou e empalideceu ao ver, parado diante de si, o médico que havia subido há cerca de duas horas para o quarto de sua esposa, acompanhado de duas ajudantes. As mulheres baixaram o rosto, fizeram sua reverência e se retiraram sob o olhar dos dois homens consternados. Tom Wilson, um dos únicos amigos que conservava do tempo que não era duque e, praticamente o único que conhecia todos os detalhes da vida de Christopher que ele se empenhara em esconder, tinha a resposta desagradável estampada em seu rosto.
— Não sobreviveu. — Disse o médico com aquele jeito carrancudo que sua calvície evidenciava.
— O que era? — Indagou o duque lamentoso.
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Marcadas pelo Pecado - DEGUSTAÇÃO
Historical FictionROMANCE DE ÉPOCA LÉSBICO. E se a lady não se encantasse pelo marquês e, sim por uma bela plebeia de cabelos loiros e olhos azuis que vai desordenar sua vida? Inglaterra, 1872. No auge da Era Vitoriana, vários países da Europa mantém casas de trabal...