Juliet estremeceu com o percurso de seu coração em direção à asseveração de Katherine e as impressões que aquela colisão direta lhe provocou. Nada nela suscitava nenhum indício de que ela tivesse qualquer dúvida do que lhe dissera. E, como ela podia estar tão segura de algo tão perigoso? Como ela podia dizer aquela frase com essa solidez inquestionável? Agora ela entendia o fascínio da madalena por metáforas e alegorias com fogo, ela era realmente insana ao ponto de não temer queimar-se nas chamas do inferno.
Mas eu não! – Exclamou Juliet para si virando-se abruptamente. Não tinha a mesma disposição de Katherine em desafiar as leis do que era natural e correto de acordo com os preceitos religiosos, dia-a-dia encalcados em suas mentes incansavelmente pelos representantes da igreja anglicana. Caminhou até perto da tina d'água que estava alguns metros à frente e se ajoelhou para começar a esfregar o piso imaculado da capela do asilo.
— Você não vai dizer nada? — Questionou Katherine caminhando até ela ainda limpando lágrimas remanescentes da crise nervosa que acabara de enfrentar.
Juliet sentiu uma inquietação diferente a cada passo que ela dava até ela. Sua aproximação, antes tão almejada e estimada, agora quase chegava a lhe produzir repulsa, embora seu coração se recriminava por esse pensamento. Apesar de tudo, nunca poderia repudiar Katherine.
— Não há nada a dizer. — Sua voz chegou a manifestar o tremor interno de que ela padecia. — Temos que terminar essa limpeza o mais rápido possível se ambicionamos dormir algum tempo essa noite.
Katherine olhou em volta e observou o piso quase polido tamanha a limpeza que refletia. E ainda assim Juliet insistia em faxiná-lo como se ele estivesse tomado de imundície. Entristeceu-se ao concluir que, provavelmente, era nela em quem Juliet enxergava tanta sujeira.
— Mas... — Katherine se ajoelhou de frente para ela e, mesmo na escassa iluminação daquele ambiente, Juliet pôde observar o vívido brilho daqueles intensos olhos azuis que obviamente esperavam algo dela que ela jamais poderia dar.
— Eu fico feliz que você esteja melhor. — Juliet interrompeu-a pouco disposta a seguir o diálogo pretendido por Katherine. — Pode descansar em um dos bancos, eu me responsabilizo pelo trabalho, afinal de contas, foi por minha culpa que você acabou aqui.
— Juliet... — Insistiu Katherine, que recuou ao captar a recusa no olhar de advertência da amiga. — Está bem, não falemos mais disso, eu não quero te constranger. Você não tem nenhuma responsabilidade em que eu esteja aqui, — tocou rapidamente sua mão ao pegar um dos panos que estavam na borda da tina sentindo um ferino calor que agora devia reprimir — o mais provável é que seja precisamente o contrário. É você quem está sendo punida por minha constante conduta transgressora diante de irmã Hollie.
— Você não merecia nenhuma punição. — Juliet desviou o olhar que estava em um único ponto do chão que ela não parava de esfregar. — Isso foi uma grande injustiça.
— Irmã Hollie notou meu carinho singular por você. — Juliet imediatamente desviou o rosto voltando a demonstrar incômodo com a direção das palavras de Katherine. — Ela só te puniu porque sabia que sua dor me afligiria.
— A sua também me aflige. — Confessou Juliet. — Você é a melhor amiga que eu tive em todo o tempo que estou aqui.
Amiga! – Exclamou Katherine internamente. Talvez, ao anjo que Deus lhe enviara lhe faltasse uma asa. Definitivamente Juliet não sentia o mesmo que ela e estava fazendo toda questão do mundo de deixar isso muito claro. Talvez Juliet tivesse razão em se comportar daquele modo, aqueles sentimentos eram completamente inapropriados e, para muitas pessoas da sociedade, até mesmo repulsivos.
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Marcadas pelo Pecado - DEGUSTAÇÃO
Fiksi SejarahROMANCE DE ÉPOCA LÉSBICO. E se a lady não se encantasse pelo marquês e, sim por uma bela plebeia de cabelos loiros e olhos azuis que vai desordenar sua vida? Inglaterra, 1872. No auge da Era Vitoriana, vários países da Europa mantém casas de trabal...