Eu não te culpo por ir.
Tudo bem, nós tínhamos a chave do que estávamos construindo e você tinha direito de ir ou vir. Eu entendo. Eu também não me culpo por esperar você tanto tempo, é que alguns tem peito para correr e outros não tem pulmão para isso (eu não tive coração).
Quando você foi embora do que me parecia ser nosso lar, eu não soube para onde ir. Não soube para onde correr. Não entendia esses textos sobre idas, para onde eu ia, onde eu virava, qual era a esquina da certeza ? Ninguém me ensinou.
Não sei se você jogou migalhas de amor no chão, mas se deixou, eu não vi (o que me assustou mais, você foi sem me deixar rastros?)Eu fiquei sem saída, voltei para o que construimos e vi destroços por todos os lados, o tempo tava maltratando aquele lugar que eu preferia me manter para guardar lembrança daquilo que um dia foi real.
Não posso te chamar de covarde, quem foi mais covarde nessa história aliás? Você que correu do amor ou eu que me acovardei de também correr dessa história (pela primeira vez eu me tranquei em algum lugar e não quis sair)
Eu guardei seus quadros para cima, queria te ver de alguma forma por aqui.
Tudo bem se você foi, mas eu pensei que você faria uma visita me explicando tudo.
Que me mandaria fotos dos lugares que conheceu, trechos de livros novos que você leu, pensei que você sabia que eu estava te esperando em casa (você sabia? )O que mais me doeu é que a sua ausência virou minha companheira de quarto. O seu cheiro foi sumindo ( eu já nem lembro como é, mas eu amava sentir ). Eu sei que foi criando poeira, foi criando saudade, teias de aranha, tudo aquilo que dá sinal de abandono. E aí eu vi que você e a solidão eram quase idênticas aqui em casa.
Eu então não a soltei mais, na esperança de você sentir ciúme dela e voltar para casa, onde sempre foi o seu verdadeiro lar.

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As borboletas do estômago voaram.
PoésieBorboletas no estômagos agora me dão náuseas.