Ana sempre foi uma eterna romântica que se deixa conduzir pelos livros que lê. Os romances, principalmente os clássicos, sempre foram mais do que simples entretenimento. Eles são sua fonte de inspiração e criação: a ensinam a sonhar, a persuadem a a...
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Ana sempre estava agarrada a algum livro, dizia que essa era a sua forma de estudar e se preparar para o seu futuro. Ainda que demorasse muito para terminar a leitura — porque se apegava demais aos personagens e histórias, e queria prolongá-los pelo máximo de tempo possível —, sempre fazia questão de contar à sua amiga sobre os livros que lia e as frases que mais lhe impactavam.
Sara não era muito fã de literatura, mas gostava de ouvir as histórias que sua amiga lhe contava com tanta empolgação. Os hobbys dela eram outros, sendo o principal correr — o que verdadeiramente amava fazer. Quando corria, se sentia livre, o mundo ao seu redor parava de girar, tudo silenciava e, por alguns instantes, ela encontrava paz.
Uma sonhava em ser escritora, a outra planejava ser uma atleta profissional e, quem sabe um dia, até trabalhar como fisioterapeuta também. As duas almejavam rumos diferentes para as suas vidas, mas sabiam que ainda podiam seguir unidas — do que dependesse de Ana, pelo menos até o fim da faculdade. Por isso as amigas viviam se ajudando: queriam fortalecer uma a outra nas dificuldades que possuíam, e chegar juntas no começo da estrada traçada em seus planos.
— Sá, me promete que, quando nos formarmos, vamos para a mesma faculdade? Eu não quero nem me imaginar no meio de uma completa turma de estranhos. Ninguém tem a paciência que você tem comigo... — falou com a voz manhosa. Ana tinha o costume de agir como uma criança quando queria pedir algo.
— É, eu deveria ganhar um prêmio por isso — riu com ironia. — Ana, uma hora vamos ter que nos separar, e você vai precisar aprender a lidar com as pessoas, sabe disso.
— Sim, sei. Mas essa hora ainda pode demorar muuuito — disse com um sorriso no rosto que fez Sara se confundir: não sabia se ria da cara de pau da amiga, ou se lhe dava uma bronca por não conseguir falar sério quando deveria.
A verdade era que a futura atleta já possuía outros planos para si. Ela ia para a faculdade, sim, e cursaria Educação Física; entretanto seria em uma instituição diferente da que as meninas haviam conversado, e em outro estado também. Sabia que seria um choque para a romântica ter que lidar com isso, e, por este motivo, só estava adiando a notícia.
As amigas frequentavam o mesmo cursinho pré-vestibular após as aulas do ensino médio; faziam questão de irem e voltarem juntas todos os dias. Sara, sendo a mais sensata da dupla, se sentia responsável, ao menos um pouco, por cuidar de Ana, que vivia atrasada, tropeçando em alguém, esquecendo o material em casa e, no ápice da sua falta de atenção, até pegava o ônibus errado e acabava por perder o dia de aula.
Em uma das poucas vezes que Sara fora sozinha para o curso — porque sua amiga estava doente no dia —, notou, devido ao uniforme, outro aluno de sua escola que também havia descido no mesmo ponto e entrado no prédio da instituição. Ele fizera tudo por rumo, já que não desgrudava os olhos do livro que estava em suas mãos. Sara achara estranho aquilo, porque tinha absoluta certeza de que mais ninguém, do local onde frequentava o ensino médio, conhecia aquele cursinho.
Ela chegou a pensar em contar à amiga o que havia descoberto — acreditou que aquele poderia ser um caminho para que a futura escritora se animasse em fazer novas amizades —, mas, de imediato, desconsiderou a ideia, sabia que tinha um assunto muito mais importante para tratar com Ana. Aquilo não lhe saía da cabeça, sua consciência a estava alertando de que não podia mais adiar a conversa.
— Preciso fazer isso... — refletiu sozinha, sentindo leves pontadas em seu coração. — Só espero que ela possa me entender.