5. Sinhá Castelo

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AVISO: Este capítulo não tem a intenção de ofender nenhuma crença. Todas as cenas que descrevem a espiritualidade das personagens foram inspirações da autora, sem o objetivo de contrariar ou distorcer a religiosidade de uma pessoa ou um grupo.






Arthur não viu problema em fechar a confeitaria mais cedo a pedido das meninas. Achava mesmo que estava trabalhando demais e aproveitar a vida era o que ele devia estar fazendo desde os seus últimos exames. Uns amigos de longa data estavam chegando em Tijuana logo, e ele mal podia esperar para encontrar seus velhos companheiros de estrada. Ele também merecia uma folga.

— Nos vemos mais tarde, vovô. – Arthur recebeu um abraço de Lauren, seguido por Jessica.

As meninas estavam agitadas, planejando isso há dias. Jessica teve pouco contato com coisas místicas, já que Suzana – uma das prostitutas da Imperium – tinha uma sensibilidade maior que as outras pessoas para "o outro mundo", como ela dizia, mas nunca teve a chance de conhecer algo mais a fundo porque Rosa impedia que Suzana mostrasse seus dons espirituais pelo bordel. Mas ela aceitou ir na casa da amiga da avó de Lauren, esta que parecia a mais animada nessa história.

Primeiro Lauren buscou algum número nas agendas do avô, mas nada achou – talvez bruxas não usam celular –, e era quase impossível ter algo registrado no GPS. Jessica não queria ter que perguntar a Arthur, não queria expor seu caso ou admitir para mais alguém as alucinações que lhe assombram, então apenas deixou para lá. Mas Lauren não. Vasculhando as coisas de sua vó, ela achou uma carta escrita por ela para sua velha amiga, Sinhá Castelo. Lá estava o endereço, e ela torcia para que a mulher continuasse residindo naquele lugar.

— Como se sente?

— Nervosa – Jessica admitiu. — Não pela coisa toda, mas sei lá. Não sei o que vou encontrar, o que vou descobrir. Eu não sei.

— Seja o que for – a de cabelos rosas sentia o medo de Jessica, e possuía um olhar de calmaria para a amiga —, eu vou estar com você – juntou suas mãos, sorrindo ainda encarando a castanha, que sentiu o nervosismo aumentar, mas por um outro motivo.

Elas não soltaram suas mãos enquanto caminhavam, vez ou outra verificando no celular se estavam no caminho certo. Era tarde, o céu possuía uma coloração laranja, e as árvores da floresta que as duas adentraram completava o cenário que Jessica não soube definir como assustador ou fascinante. Mantendo um caminho reto, como nas coordenadas escritas na carta, logo uma casa rústica e típica dos filmes de bruxa surgia no campo de visão delas. Era linda.

Em passos lentos, as duas se aproximaram daquela estrutura de madeira, antiga e conservada, com plantas por toda parte. Aquela casa era escondida e camuflada por todas aquelas folhas a sua volta. Antes que criassem coragem para bater na porta, uma senhorinha de pele avermelhada e cabelos brancos abriu-a. Assustadas, Lauren sorriu nervosa e Jessica sentiu o coração acelerar.

— Vocês demoraram – sorriu, parecendo realmente feliz com a chegada das duas. — Vamos, entrem.

•••

As gargalhadas preenchiam aquela casa já tão lotada de tralhas. Nada como Jessica imaginava. Não tinha um caldeirão ou vassouras espalhadas, a velha nem sequer tinha uma verruga no nariz. A casa era grande, mas cheia de livros, panelas, jarros de plantas, mais livros... Fazia parecer pequena no meio de tantas coisas. Ela estava envergonhada de si mesmo por ter criado na cabeça uma figura totalmente ridícula, e nem sabia se "bruxa" era a palavra certa para aquela senhora tão espirituosa.

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⏰ Última atualização: May 16, 2021 ⏰

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