2. Libertius

17 2 0
                                        




As vozes do avô e da neta foram ouvidas por Jessica antes dos dois entrarem na lanchonete, que já estava pronta para receber os clientes nas poucas horas de expediente do último dia da semana.

— FINALMENTE SÁBADO! – O sorriso de Lauren era contagiante e Jessica permitiu-se rir também, o que atraiu a atenção da garota de cabelo rosa, que direcionou os olhos para a castanha rapidamente.

— Você também gosta dos sábados, não é?

— Não faz muita diferença para mim – deu de ombros.

— Como não? – Arthur já tinha entrado na cozinha, depois de cumprimentar Jessica com um abraço. — É sábado! – A castanha apenas levantou uma sobrancelha, não convencida de que precisaria de tanta euforia por causa de um dia. — Se amanhã não tem expediente, significa que você pode acordar a hora que quiser, e isso te permite dormir a hora que quiser, e se escolher dormir tarde, você pode decidir como aproveitar as horas acordadas. Nada melhor que álcool!

— Você está falando de tomar um porre porque amanhã não vou precisar estar sóbria?

— Exatamente! – Lauren mal podia se conter. — A gente pode ficar leve, solta, doidona... – Jessica arregalou os olhos. — Não, nada de drogas. Apenas beber e dançar, sem ligar se vamos estar vivas amanhã – os olhos de Lauren brilhavam a cada palavra. Jessica nem podia imaginar o que a filhinha obediente fazia nas festas da UCLA*.

— Não sabe o que é isso?

— É claro que sei – eu morava numa boate! — Mas nunca fiquei doidona.

— Uh, você está precisando.

— Vamos trabalhar.

Jessica não havia dormido bem na noite passada. Lauren a fez lembrar de sua vida na Cidade do México, o que a fez se lembrar de sua mãe e, por sua vez, a fez se lembrar do caderno. Jessica não sabia ao certo o que havia despertado dentro de si ao conhecer Lauren, se parecia com o que sentiu com María mas era mais puro, genuíno. A castanha pensava na ferida que María deixou em seu peito e em como não quer sentir aquilo nunca mais. Lauren nunca a olharia com outros olhos, no que eu pensando? Sua mente trabalhou tanto, que teve que correr para desacelerar. "Hoje eu conheci o motivo dos meus sentimentos mais confusos", era isso?

— Jessica!

— O quê?! – Por quanto tempo fiquei viajando?

Estava longe, hein? – Lauren zombou, recebendo um pedido de desculpas baixinho. — Fica aí no caixa, deixa que eu atendo. Cuidado para não passar o troco errado! – Jessica se segurou para não levantar o dedo do meio enquanto ria indignada.

O sábado não foi tão movimentado quanto esperavam, ou foi a dinâmica de atendimento das duas que estava dando conta da clientela num piscar de olhos. Arthur estava orgulhoso.

A noite tinha começado quando o expediente acabou, Lauren já não estava tão elétrica quanto mais cedo e Jessica estava ainda mais avoada.

Ela cresceu dentro de uma boate mas não era muito fã, principalmente porque sabia o que acontecia nos bastidores. A única coisa que a fazia se sentir bem com aquele som alto e as luzes vermelhas era a certeza de que estaria no palco, de que seria a atração principal. A única coisa que a salvava era a paixão pela dança, paixão essa esquecida a muito tempo. Jessica estava enferrujada.

Caderno das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora