Dois Amores

𝟕𝟏| 𝐓𝐞𝐧𝐭𝐚𝐭𝐢𝐯𝐚 𝐝𝐞 𝐇𝐨𝐦𝐢𝐜𝐢𝐝𝐢𝐨

NARRADO PELA AUTORA

Em algum canto da cidade, uma mulher cega pela raiva caminhava a passos firmes para dentro de uma clínica de repouso, entrando de modo sorrateiro, sem querer ser vista por ninguém, especialmente por algum funcionário.

Ela tinha somente um único objetivo: acabar de vez com aquilo, com a mulher que fora um empecilho para sua vida nos últimos meses.

Do mesmo modo silencioso que chegara, entrou no quarto destrancado, encontrando uma frágil e pálida mulher deitada na cama, monitorada por inúmeros aparelhos que faziam um barulho irritante. Sorriu com grande amargura, observando os seus antes vívidos e volumosos cachos ruivos, agora apagados e desbotados com o tempo e a falta de cuidado.

Enquanto pensava em como William fora capaz de se interessar por uma garota tão sem graça, aproximou-se mais dela.

— Olha só para você, Camila. Completamente indefesa e vegetando nessa cama. — Olhou-a com ódio, passando os dedos pelo braço da garota. — Mas não precisa se preocupar com mais nada. Irei acabar com isso de uma vez, vou acabar com o seu sofrimento. — Abriu um sorriso maldoso, capaz de amedrontar qualquer pessoa.

Correndo os dedos pelos tubos de oxigênio que permitia a jovem respirar com mais facilidade, olhou-a com desdém, seguido de um revirar de olhos.

— Sabe, as coisas finalmente estão dando certo para mim. Hailey está morta e você aí, inconsciente. O meu caminho está finalmente livre para ficar com o William. — Falou a moça cheia de rancor e o coração frio.

Escutou a própria risada no silêncio do quarto.

— Hailey era mesmo uma idiota, não foi capaz de perceber que William estava traindo ela com você, e era tão óbvio. — Continuou falando com a voz carregada de magoa. — E você se fazendo de boazinha o tempo todo, quando na verdade não passava de uma vadia transando com o noivo da outra. Isso me irritava profundamente, me irritava toda vez que eu era obrigada a olhar para essa sua cara de sonsa.

A moça rancorosa se afastou, caminhando para a janela do pequeno quarto, observando todas aquelas flores em cima do parapeito. As lindas flores recém regadas por Maite Collins mais cedo.

— Eu o vi primeiro que você, eu me apaixonei assim que coloquei meus olhos nele. Eu o amo de verdade, você não, sempre quis o dinheiro. E agora você vai me pagar por todo tempo que me fez perder ao lado do meu amor. — Ela rosnou, apertando o vitrô da janela. Do alto do prédio, era possível ver o trânsito nas ruas movimentadas de Nova York e os grandes arranhas céu. — As coisas não precisavam ser assim... — Disse por fim, olhando para o céu nublado.

O coração da moça era tão duro quanto pedra, nada a faria mudar de ideia, há muito tempo que deixou de ser inocente e ter sentimentos. Os perdeu quando a própria mãe a surrou com apenas oito anos de idade, sendo capaz de deixá-la marcada por toda vida, com cicatrizes profundas. Aquele corpo já não possuía uma alma, apenas havia restado um amor obsessivo alimentado por frutos da sua própria imaginação.

— Felizmente isso acaba hoje, primeiro você e depois aquela bebê estúpida. Eu não vou parar agora! — Disse com um sorriso doentio no rosto, e se aproximou da cama novamente. — Ou eu não me chamo Jenna Carter, a futura senhora Rivera.

Com os olhos frios a moça brincou com a tomada que mantinha os aparelhos ligados, passando os dedos compridos de leve na textura do material. Foi subindo devagar até chegar na pele pouco corada de Camila Campbell, que estava assustadoramente gelada.

— Vou apenas adiantar as coisas para o seu lado, não acredito que vá melhorar. — Disse, agora passando as pontas dos dedos por cima dos lábios ressecados da jovem. — Nem vou ter grandes esforços como tive com a Hailey. Se bem que, empurrar uma pançuda da escada não foi tão difícil assim... — Acrescentou para si mesmo, mas crescendo uma fúria em seus olhos a cada segundo que passava. — Porém, eu cometi uma falha, afinal aquela bebê imunda ainda está viva. Por pouco tempo, é claro.