Desejos

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"Você precisa sair daqui para um lugar melhor, onde cresça e se torne alguém que não irá depender de ninguém para ser feliz e ter seus bens."

Desde que me lembro, de relance, a última vez que vi minha mãe tinha seis anos quando ela se despediu na porta da casa da minha avó. Ela se ajoelhou e disse que estaria por perto sempre, deixou um beijo em minha bochecha enquanto eu apertava com força a mão da minha avó. Naquela época eu não compreendia a mudança que minha vida estava passando, e não foi complicado crescer sabendo que havia sido abandonado.

Minha mãe também foi abandonada, ela não suportou e não tinha condições para me criar sozinha. Ao invés de me dar um lar medíocre e triste, ela me deixou com minha avó, onde eu não teria uma vida extremamente rica, mas nada me faltaria, principalmente, o amor.

Sempre pensei nas palavras da minha avó antes dela partir. Por ter recebido uma criação tão boa, nunca reclamei ou fui ingrato com ela. Ser abandonado é uma ferida eterna, mas sentir carinho em cada coisa recebida, é gratidão eterna.

Estudei, trabalhei, me modifiquei em tudo que achava negativo porque então assim, seria o tipo de homem que minha avó criou.

Mas nunca conversamos sobre amor.

Penso nos conselhos que receberia dela caso tivesse contado o motivo de ter pedido a fome e querer mudar repentinamente de colégio. Ela nunca soube o que se passava no meu coração e nunca me cobrou, sempre respeitando meu espaço. Não era como as mães que desejavam conhecer a nora ou saber sobre a possível data que receberiam um neto.

Ela apenas me deixava, ter minhas próprias escolhas livremente.

— Na minha porta, sete da manhã? — Taehyung coçava os olhos, de sandálias e calça largas, ele me atendeu na porta de sua casa. — Vem, entra Jin.

Dando espaço, não pensei muito e entrei. Todo coberto, acho que vesti muitas camadas de moletons, querendo esconder cada pedaço do meu corpo. Porque sinto que fiz algo tão horrível, e para piorar, meu estômago parece estar cheio de borboletas a todo instante que recordo.

— Você comeu alguma coisa? — Me vendo sentar no sofá, Taehyung coçou a barriga nua e ficou de pé um pouco distante. Ele me olhou, suspirou e se sentou no tapete do chão. — Não veio aqui falar sobre algum caso que quer ajuda, né? Hoje é nossa folga.

Sorri, devagar me acolhi no sofá e coloquei algumas almofadas por cima do meu corpo. Meu rosto está vermelho, ainda estou tonto, como se pela primeira vez em onze anos voltasse a sentir a sensação de cometer um crime.

— Taehyung... — Sussurei baixinho, sentindo seu olhar totalmente concentrado em mim. Será que viu meu pequeno sorriso de satisfação? Eu não sei, mas estou eufórico. — Lembra que me disse para escolher entre o certo e o errado?

Quando finalmente retribuí o olhar dele, notei seus olhos se abrindo mais ao escutar minha pergunta. Ele finalmente se deu conta do assunto que preciso conversar.

— Todos os dias escolho o certo, julgo, penso nos prós e contras... — Suspiro, satisfeito comigo mesmo. — Mas estou sendo justo para as outras pessoas e para sempre, até meu último dia como juíz, quero tomar as melhores decisões.

Inesperadamente, percebi que o silêncio era enorme e que o único ruído de todo o lugar vinha apenas da minha voz. Não sei se ainda estou bêbado, só não consegui dormir a noite toda.

Porque sempre pensei em como seria dormir nos braços dele, ouvindo sua respiração, sentindo seu cheiro em todos os cantos e coisas do seu lar. Eu não consegui fechar os olhos em nenhum segundo que dormi abraçado por Jungkook, mas sabia que ele dormia, suave e tranquilo.

𝚈𝙾𝚄 𝙰𝚁𝙴 - 𝙺𝙾𝙾𝙺𝙹𝙸𝙽 {𝙺𝚂𝙹, 𝙹𝙹𝙺}Onde histórias criam vida. Descubra agora