SEGUNDAS IMPRESSŌES

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                                  "Angie"

"No fim de um longo dia, na escuridão da noite, quando o silêncio me engole, enquanto me encontro perdida em meu próprio labirinto mental, às vezes, tudo o que eu preciso, é alguém que me ascenda, que me mostre uma luz. Alguém que queime junto a mim."

Escrevi isso há um mês atrás quando ainda estava em Charleston, uma semana depois do baile, depois que eu perdi a virgindade, depois que fui chutada da vida dele como se nunca tivesse feito parte. E não fiz, afinal. É engraçado pensar em como não temos a mínima noção da nossa importância para o outro, e em como não conhecemos ninguém de verdade até que consigam de você o que querem. Somos descartáveis. Temos valor até o momento que decidirem que não temos mais.

Particularmente eu odeio as noites. Mas não odeio essa, em especial. 

-Por que você os convidou? -Sarah pergunta me encarando.

Sarah Cameron é minha melhore amiga –e única-. Nossos pais são praticamente irmãos, e na tentativa de expandir os negócios e voltar para onde cresceram, o meu pai decidiu que era uma boa ideia nos mudarmos para cá, para Outer Banks. Essa decisão não poderia ter vindo em hora melhor.

Diferente de mim que decidi deixar literalmente tudo na Carolina do sul, meus pais ainda tem algumas pendencias por lá. Por isso, vim no início do verão para ficar na casa dos Cameron, e segundo minha mãe, fiquei tanto tempo trancada no meu quarto durante as últimas semanas que estou mais branca que a neve.

-Porque eu vi o jeito como olhou pra ele, e cá entre nós, parecem bem mais legais que os amigos do seu irmão. -Ergo uma das minhas sobrancelhas e olho pra ela.

-Jeito como olhei pra ele? Você acha que eu estou interessada no John b? 

-Não achava, mas agora eu tenho certeza, nem mencionei o nome e você deduziu de quem eu estava falando –rio conforme a pele bronzeada dela vai ficando com a cor de um tomate.

Isso é uma coisa que Sarah me deixa com inveja, o bronze dela é perfeito, na infância quando íamos à praia, ela ficava com uma cor linda, já eu parecia que tinha que tinha tido queimaduras de terceiro grau.

-Chegamos –estaciono na garagem da minha mais nova casa. Além do jardim na entrada, perfeitamente podado, não temos muitas coisas em ordem ainda. Essa casa foi um projeto da minha mãe que é arquiteta. Mal sabia ela que moraríamos aqui um dia.

A kombi laranja com a qual quase bati minutos antes está parando logo atrás.

-Que casa maneira – o primeiro a descer suponho que seja John b. Um garoto alto que também tem um bronze incrível. 

E a conclusão que chego quando todos descem é que ser bonito e bronzeado com certeza deve ser um pré requisito para ser morador de Outer Banks.

-A casa da Sarah está ocupada pelos amigos do Rafe, então pensei que poderíamos beber na minha –enfio a chave na fechadura e giro – como ainda não moro oficialmente,  não tem praticamente nada. Mas tem uma geladeira e energia.

Abro a porta revelando uma enorme sala vazia. Eles me seguem pelo corredor até na cozinha.

-Quer guardar as cervejas aqui? -me dirijo até a geladeira e o garoto loiro que estava dirigindo  vem até mim com as cervejas.

-Foi mal pelo susto –ele diz, e me parece sincero.

-Não esquenta, já passou -ofereço meu melhor sorriso.

-Eu sou JJ, você é... 

-Angie, cadê a garrafa de vodca que você trouxe? -a voz de Sarah surge antes que eu pudesse responder.

-Está na minha bolsa – respondo a ela – Bom, sou Angie... -me viro novamente para ele.

-Prazer então, Angie.

Pego uma cerveja e vou até a varanda onde eles estão.

-Você é de onde mesmo? -a morena dos cabelos enrolados diz se sentando ao meu lado.

-Charleston. 

As próximas quase duas horas que se seguiram passaram voando, conversamos tanto que parecia que eu já os conhecia há anos. A versão da Moana de Outer Banks é Kiara, descobri que ela é super ligadas nas causas ambientais e ela se ofereceu para fazer meu mapa astral quando eu disse que não sabia nada além do meu signo. Pope é afro americano e pelo que eu entendi, é o cabeça do grupo e futuro médico legista. John B e JJ discutiram por pelo menos 15 minutos sobre quem era melhor o surfista.

-E se a gente jogasse um jogo? -JJ sugere em certo ponto 

-A gente não vai jogar Streep poker, isso nunca vai rolar -Kiara responde e eu me pergunto se era essa a ideia dele.

-Podíamos jogar verdade ou desafio -digo

-Você começa, é a anfitriã -John b. ergue levemente a cabeça apontando pra mim. 

-Tá bem, verdade ou desafio John B.? -volto minha atenção a ele.

Ele hesita por um instante, surpreso com minha escolha.

-Verdade -responde 

-É verdade que você beijaria alguém dessa roda?

-Sim, beijaria -ele diz sem rodeios. - E você Angie, verdade ou desafio? - continua.

-Verdade -dou de ombros

-É verdade que você beijaria alguém na roda? -ele me rebate com a mesma pergunta, o que é um pouco decepcionante, mas me faz reparar um a um. 

-É, acho que beijaria sim -e falo sério, beijaria qualquer um deles. 

As próximas rodadas acabaram com Pope tendo que mergulhar na minha piscina, Kiara virando meia garrafa de cerveja e finalmente comigo desafiando John b beijar Sarah, o que ele cumpriu com êxito. 

-Verdade ou desafio, Angie? -Sarah vira pra mim e eu já sei que ela vai aprontar. 

Bom, tanto faz, só se vive uma vez.

-Desafio. 

-Desafio você, beijar JJ por 30 segundos. -O famigerado troco.

-10 segundos -tento negociar

-15 -é sua palavra final.

Respiro fundo e me viro para JJ, que está me encarando,sua cor foi de branca pra escarlate. Seguro a manga da sua camisa verde militar surrada, sinto as mãos deles tocarem o meu rosto e sem jeito colo minha boca na dele, nos seus lábios macios e quentes, e quando finalmente sua língua começa passear no céu da minha boca até me esqueço da contagem. Mas quando ela termina e todos estão olhando para nós dois é como se eu estivesse pegando fogo. Então me recomponho rapidamente e vou para a próxima pergunta.

CATCH FIRE| JJ MAYBANK Onde histórias criam vida. Descubra agora