CATCH FIRE| JJ MAYBANK

INVICTUS

"JJ"
-Tem espaço aí pra mim? -Angie diz adentrando o quarto.

John B. ia dormir aqui, mas depois de beijar Sarah no farol, ambos decidiram dormir juntos, o que trouxe Angie ao meu quarto. Não posso reclamar quando ela entra vestindo uma camiseta enorme branca e um mini short preto de academia.

-Só tem uma cama, o que significa que essa noite você é minha –sorrio sem mostrar os dentes.
-Vai sonhando.
-Você quer? -ergo o cigarro de maconha que acabei de fazer e ela assente.

Mas antes de aceitar ela puxa as cobertas e senta do meu lado na cama encostando-se em dois travesseiros. Acendo o cigarro e dou uma primeira tragada.

-Aqui... -entrego a ela – foi uma ótima ideia a gente ir pro farol, sabia?
-Também achei que a gente se divertiu tanto.
-Você sente saudades de Charleston? -pergunto para puxar assunto.
-Não e sim.
-Como assim? -fito-a curioso.
-Não porque meu último mês lá foi terrível e sim porque... os outros anos não foram. -ela traga mais uma vez e me devolve o cigarro.
-Amigas? Caras?
-Ambos.
-Se algum cara te machucou saiba que ele é um idiota. -Digo, e falo sério. Ela por sua vez dá uma risada.
-Obrigada por isso, me sinto bem melhor.
-Às ordens Angel. -Respondo e ela me encara. E é quando percebo que a chamei de "Angel", então continuo – Pensei nesse apelido porque seu nome é Angie, e você é modelo, e tem as angels, então... Não sei se fez sentido.
-Fez sim, e eu gostei. Qual seu nome completo? -ela pergunta.
-Jonathan James Maybank -é a primeira vez que digo meu nome completo pra alguém.
-Jonathan é muito nome de surfista, sério.
-E Angie é nome de modelo, sério, o que uma garota chamada Angie poderia fazer da vida anão ser desfilar?
-Pois saiba que eu tenho muitos talentos, e que Angie também pode ser nome de uma stripper, por exemplo –ela diz e isso me faz gargalhar.
-Então você é Stripper? Porque se você for eu quero um show particular.
-Nããão, não sou uma stripper –ela faz uma careta.
-Então quis seus incríveis dons não tão interessantes porque você não é uma dançarina de pole dance, aparentemente.

Ela franze as sobrancelhas.
-Você é ridículo. Mas, como participei de muitos concursos de beleza e eu não sei se você sabe, mas nesses concursos é importante que a candidata tenha algum talento, minha mãe me inscreveu em todos os tipos de aulas que você imaginar. Foi quando descobri que eu canto e também descobri que tenho uma certa facilidade para tocar piano.
-Quero muito ver isso –digo.
-Tá bom, um dia eu te mostro.
-Não, quero ver agora.
-O quê, agora? -ela me encara.
-É, canta pra mim –insisto.

Ela hesita um instante, mas acaba cedendo. Já ouvi ''Wish you were here'' muitas vezes, mas essa foi a única vez que fez meu coração disparar assim. Talvez seja efeito da maconha, mas sinto uma euforia percorrer meu corpo a cada palavra que saí da boca dela, e me sinto sortudo por estar aqui ouvindo ela cantar. Não tiro os olhos dela a canção toda e quando ela termina estou admirado, hipnotizado. Quero mais. Quero ouvi-la cantar todos os dias a partir de hoje.
-E então? -ela pergunta
-Acho que o mundo precisa te ouvir cantar. -meu comentário faz ela corar.
-Ainda decepcionado que não sou uma stripper?
-Só um pouco – brinco.

Conforme o tempo passa e o efeito vai se intensificando, mais longas nossas conversas vão ficando.

-E qual o seu plano? -pergunta.
-Não tenho um plano.
-Nenhum plano? -me encara intrigada.
E a verdade é que eu não sei, não sou rico, definitivamente não tenho grana pra faculdade e com toda certeza não sou tão inteligente quanto Pope para ganhar uma bolsa de estudos.
-Sabe como é, não tenho muitas oportunidades pra ter de fato um plano -é o que respondo.
-Tá, mas se você pudesse, qual seria o plano?
Penso por um momento antes de responder.
-Seria surfista profissional, investiria em uma loja de equipamentos de surf e me mudaria pra Califórnia.
-Tá vendo, você não pode dizer que não tem um plano.
-Exceto que isso nunca vai rolar. -Me aconchego melhor no travesseiro e ela faz o mesmo, ficando de frente pra mim.
-Uma vez, li um poema na aula de literatura e nunca mais esqueci... Tomara que você também não se esqueça –ela coça a garganta antes de começar.-
"Dentro da noite que me rodeia
Negra como um poço de lado a lado
Agradeço aos deuses que existem
por minha alma indomável

Sob as garras cruéis das circunstâncias
eu não tremo e nem me desespero
Sob os duros golpes do acaso
Minha cabeça sangra, mas continua erguida

Mais além deste lugar de lágrimas e ira,
Jazem os horrores da sombra.
Mas a ameaça dos anos,
Me encontra e me encontrará, sem medo.

Não importa quão estreito o portão
Quão repletado castigo a sentença,
Eu sou o senhor de meu destino
Eu sou o capitão de minha alma"
-recita calmamente e a cada frase suave sinto meu sangue pulsar dentro de mim- Não há nada que você não possa fazer, porque você é o senhor do seu destino, Jonathan James –ela completa e eu quero agarrá-la, e nunca, nunca mais, soltá-la.
-Você sempre filosofa quando está chapada? -pergunto.
-É melhor a gente dormir... -ela se vira e apaga a luz do abajur – Boa noite, J.
-Boa noite, Angel.