Prólogo

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Escutei um estrondo.

Gritos.

Em meio à chuva que molhava meus óculos e embaçava minha visão, corri cegamente. Os gritos aumentavam.

"Liguem para o hospital!"

Tentei correr o mais rápido que minhas pernas permitiam, me concentrando para não cair. Eu não entendia o que estava acontecendo, mas podia sentir um crescente aperto no peito. Estava ofegante pelo esforço e pelo medo. Finalmente consegui me aproximar da multidão, mas era impossível enxergar o que estava à frente daquelas dezenas de pessoas - e meus 1,60m não colaboravam. Empurrei uma menina de jaqueta amarela e cabelo raspado que estava imóvel com o olhar perdido para tentar enxergar, enquanto o som agudo de uma sirene se aproximava.

Um corpo estendido sobre uma poça de sangue. A chuva caía intensa, transformando a poça em um pequeno lago de sangue ralo que, agora, se aproximava dos pés de quem estava mais perto. Minhas aulas de anatomia se resumiam a bois e gatos, mas até eu podia perceber que o ângulo que a perna direita dela estava fazendo não era normal - definitivamente estava quebrada. O problema é que o pescoço também se encontrava em posição anormal.

"Ela pulou do quarto andar, eu vi!" - Escutei alguém dizer.

Não. Não, não, não.

Não consegui ver o rosto de onde eu estava, mas reconheci a pulseira quando me aproximei.

Não era possível.

Olhei em volta procurando algum rosto conhecido e evitando olhar para a cena em minha frente. Precisava encontrar o Pedro. Eu estava atordoada, em choque. Seria minha culpa? Eu não conseguiria viver com isso. O aperto no peito se transformou em um caminhão de 10 toneladas comprimindo meus pulmões enquanto eu hiperventilava na tentativa de respirar e reduzir meus batimentos. Não funcionou. Algo quente escorria em meu rosto junto à chuva gelada e percebi que eram lágrimas. A crise de pânico me imobilizou. Jéssica estava morta. E eu era a culpada.

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