Mr. Bowie

Capítulo 2

O sorriso de mil estrelas, a beleza de uma deusa, a inteligência propagada como virtude e olhos banhados de falsa inocência: era a composição perfeita para a descrição de Daphne. A garota dos olhos de sua família, com a doçura para quem amava e a ira para quem vinha a odiá-la.

Pena que estava condenada. Presa em quatro paredes como um animal perigoso e com dias contados para sua morte.

Seus olhos castanhos estavam marejando enquanto fazia sua última refeição do dia. Parecia um tipo de ração humana, o gosto era terrível e não parecia ter o mínimo de higiene o prato que era servido. Além de "apreciar" o barulho de pessoas gritando por volta com pedidos de socorro constantes. Não conversava com ninguém à dias e tinha aceitado seu destino: Um verdadeiro pesadelo.

A Área 66 era secreta para pessoas comuns, localizada entre a Alemanha e a Polônia. Apenas os governos dos países da superpontência sabiam de sua existência e, inclusive apoiava. Fortemente armados por militares alemães e qualquer um não autorizado era sujeito a morte eminente.
O local acontecia tudo que era proibido pelos direitos humanos, porém era considerado como um "mal necessário" para os governantes. Na realidade, quase todos os países tinham um local secreto parecido com esse com a mesma finalidade tendo aquele como o segundo principal, atrás apenas da América do Norte.

Experimentos, proteção, terroristas que deveriam ter o julgamento apropriado, torturas... Tudo que não era convencional e não poderia passar pelo sistema de julgamento comum. Isso é a Área 66.

Daphne termina de comer, levando sua bandeja próximo a pequena passagem da parte inferior de sua cela. Mesmo morrendo em poucos dias, eles a forçavam a comer contra sua vontade. No início a garota não obedecia, porém era agredida de diversas formas. Antes rebelde, agora estava quase robotizada.

— Olá gracinha, vejo que papou tudinho. – O carcereiro zomba, pegando a bandeja. Ele levanta para olhar no pequeno espaço da cela — Como a princesinha é obediente. Sinto falta de quando você chegou e eu podia entrar mais vezes para ficar pertinho de você.

Aquela altura ela não ligava mais para as provocações do carcereiro. Ele havia agredido muitas vezes e tocado sem permissão a garota. Era tão repugnante que não merecia nem resposta.

— Não deveria me ignorar, amorzinho. – Ele continua, com seu sorriso sádico.

Daphne permanece deitada contra a parede, com seu corpo coberto fingindo estar adormecida – mesmo não conseguindo dormir direito naquele local –, com o intuito de se proteger.

— Acho que vou fazer uma visitinha mais tarde quando todos estiverem dormindo. – Completa antes de se retirar.

Suas lágrimas quentes caíam em seu rosto e naquele momento tudo que ela desejava era sua morte. Não aguentava mais estar ali com sua vida roubada e depressiativa.
Tenta afastar todos os pensamentos ruins, quando inicia sua reza noturna que sua avó fazia toda vez que ela estava triste:

"Nossa Senhora, tu conheces a minha tristeza, essa tristeza que invade meu coração, e sabes a origem dela. Hoje me apresento a ti e te peço, que me ajudes, pois já não posso continuar assim. Sei que tu me convidas a viver em paz, com serenidade e alegria, inclusive em meio às dificuldades cotidianas.

Por isso, eu te peço que coloques tuas mãos nas feridas do meu coração, que me fazem ser tão sensível aos problemas, e me libertes da tendência à tristeza e à melancolia, que tomam conta de mim. Hoje te peço que tua graça restaure a minha história, para que eu não viva escravizado pela lembrança amarga dos acontecimentos dolorosos do passado.

Como eles já passaram, não existem mais, eu te entrego tudo aquilo por que passei e sofri. Quero perdoar-me e perdoar, a fim de que a tua alegria comece a fluir em mim. Eu te entrego as tristezas unidas às preocupações e aos temores do amanhã. Esse amanhã tampouco chegou e, por isso, só existe na minha imaginação. Devo viver somente o hoje, e aprender a caminhar na tua alegria no momento presente.