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Tochas cintilavam e tremulavam no alto das torres do Palazzo Vecchio e do Bargello, e umas
poucas lanternas brilhavam na praça da catedral, pouco mais ao norte. Algumas também
iluminavam o cais ao longo das margens do rio Arno, onde, mesmo sendo tarde para uma
cidade em que a maior parte da população se recolhia ao cair da noite, uns poucos
marinheiros e estivadores ainda podiam ser vistos na escuridão. Alguns dos marinheiros, ainda
ocupados com suas embarcações, apressavam-se para cuidar dos últimos detalhes das
tarefas de cordame, enrolando bem as cordas nos deques escuros e limpos, enquanto os
estivadores corriam para transportar ou puxar cargas até a segurança dos armazéns
próximos.
As luzes também estavam acesas nos bares e bordéis, mas pouquíssimas pessoas
vagavam pelas ruas. Fazia sete anos desde que Lourenço de Médici, então com 20, fora eleito
para a liderança da cidade, trazendo com ele uma sensação de ordem e calma à intensa
rivalidade entre as famílias de liderança internacional de mercadores e banqueiros que faziam
de Florença uma das cidades mais ricas do mundo. Apesar disso, a cidade nunca havia
deixado de borbulhar, às vezes até ferver, enquanto cada facção lutava pelo poder, algumas
trocando de alianças, outras permanecendo inimigas implacáveis.
Florença, no ano de Nosso Senhor de 1476, mesmo em uma noite perfumada com o
jasmim na primavera, quando quase se podia esquecer o fedor do Arno se o vento soprasse
na direção certa, não era o lugar mais seguro para estar ao ar livre depois de o sol cair.
A lua havia se erguido soberana no céu agora cor de cobalto ante uma horda de estrelas
submissas. Sua luz caía sobre a praça onde a ponte Vecchio, com suas abarrotadas lojas,
agora escuras e silenciosas, se juntava à margem norte do rio. Sua luz também banhava uma
silhueta vestida de negro que estava de pé no telhado da igreja de Santo Stefano al Ponte -
um jovem de apenas 17 anos, porém alto e orgulhoso. Depois de inspecionar atentamente a
região abaixo, levou uma das mãos aos lábios e soltou um assobio baixo e penetrante. Em
resposta, sob o seu olhar, primeiro um, depois três, então uma dúzia e por fim vinte homens,
jovens como ele, a maioria vestida de negro, alguns com chapéus ou capuzes de cor vermelhosangue,
verde ou azul, todos com espadas e adagas presas ao cinto, emergiram das ruas
escuras e das arcadas em direção à praça. A gangue de jovens de aparência perigosa se
espalhou, seus movimentos marcados por uma confiança arrogante.
O jovem olhou para baixo, para os rostos ansiosos que o miravam, pálidos ao luar. Ergueu
o punho acima da cabeça em uma saudação desafiadora.
- Sempre unidos! - gritou, enquanto os outros também erguiam o punho, alguns sacando
as armas e brandindo-as, respondendo em coro:
- Unidos!
O jovem rapidamente desceu como um gato pela fachada inacabada até o pórtico da
igreja, de onde saltou, fazendo a capa esvoaçar, e aterrissou agachado e em segurança no
meio do grupo. Com expectativa, reuniram-se ao seu redor.
- Silêncio, meus amigos! - Ele ergueu uma das mãos para interromper um último e
solitário grito. Sorriu com crueldade. - Sabem por que os chamei aqui esta noite, vocês, meus
aliados mais próximos? Para pedir sua ajuda. Durante muito tempo fiquei em silêncio, enquanto
nosso inimigo, vocês sabem de quem estou falando, Vieri de'Pazzi, saiu por esta cidade
difamando minha família, jogando nosso nome na lama e tentando nos humilhar de seu jeito
patético. Normalmente eu não hesitaria em chutar um cão sarnento como esse, mas...
Ele foi interrompido por uma pedra grande e afiada, atirada da ponte, que aterrissou aos
seus pés.
- Chega de besteira, grullo - gritou uma voz.
O jovem e seu grupo se viraram como um só na direção daquela voz. Ele já sabia a quem
ela pertencia. Cruzando a ponte vindo do lado sul, outra gangue de rapazes se aproximava.
Seu líder se gabava à frente, metido em um terno de veludo negro e uma capa vermelha,
presa com um fecho de golfinhos e cruzes sobre um fundo azul, com a mão sobre o pomo da
espada. Era razoavelmente bonito, embora sua aparência fosse prejudicada pela boca cruel e
pelo queixo frágil, e, apesar de ser um pouco gordo, não restava dúvida quanto à força de
seus braços e pernas.
- Buona sera, Vieri - disse o jovem sem se alterar. - Estávamos justamente falando de
você. - E fez uma reverência com exagerada cortesia, enquanto fingia um ar de surpresa. -
Mas terá de me perdoar. Não estávamos esperando você pessoalmente. Achei que os Pazzi
sempre contratavam terceiros para fazer o trabalho sujo.
Vieri, aproximando-se, endireitou o corpo com arrogância, enquanto ele e seu bando
paravam a poucos metros de distância.
- Ezio Auditore! Seu pirralhinho mimado! Eu diria que, na verdade, é a sua família de
burocratas e contadores que sempre sai correndo atrás dos guardas ao menor sinal de
problema. Codardo! - Ele agarrou o punho da espada. - Medo de tratar das coisas sozinho,
eu diria.
- Bem, o que posso dizer, Vieri, ciccione? Da última vez que vi sua irmã, Viola, ela me
pareceu bastante satisfeita com o tratamento que lhe dei. - Ezio Auditore deu ao inimigo um
largo sorriso, satisfeito por ouvir atrás de si seus companheiros abafando os risinhos e o
apoiando.
Mas sabia que tinha ido longe demais. Vieri já estava roxo de raiva.
- Já basta, Ezio, seu cretino! Vamos ver se você luta tão bem quanto fala! - Virou a
cabeça para trás, na direção de seus homens, e ergueu a espada. - Matem os malditos! -
berrou ele.
Imediatamente, outra pedra girou pelos ares, mas dessa vez não foi atirada em desafio.
Pegou Ezio de raspão na testa, rasgando a pele e fazendo jorrar sangue. Ezio cambaleou para
trás por um instante, enquanto uma saraivada de pedras voava das mãos dos seguidores de
Vieri. Os homens de Ezio mal tiveram tempo de se refazer e a gangue de Pazzi já estava em
cima deles, correndo pela ponte em sua direção. De repente, a luta ficou tão pessoal e tão
rápida que não houve tempo de sacar as espadas ou sequer as adagas - as duas gangues
simplesmente se atacaram com os punhos.
A batalha foi dura e cruel, repleta de chutes brutais e socos seguidos pelo som doentio de
ossos se quebrando. Durante algum tempo, poderia pender tanto para um lado quanto para o
outro; então Ezio, com a visão ligeiramente comprometida pelo sangue que escorria pela testa,
viu dois de seus melhores homens cambalearem e caírem, sendo logo pisoteados pelos
capangas de Pazzi. Vieri gargalhou e, perto de Ezio, girou a mão para lhe acertar outro golpe
na cabeça com uma pedra pesada. Ezio se abaixou e o golpe não o acertou, mas tinha sido
próximo demais para seu gosto, e agora seu grupo estava levando a pior. Ezio conseguiu
sacar a adaga antes de se levantar e golpear a esmo, e com sucesso feriu a coxa de um dos
grandalhões de Pazzi que se debruçava sobre ele com a espada e a adaga desembainhadas.
A adaga de Ezio rasgou tecido, músculos e ligamentos, e o homem soltou um urro de agonia e
caiu, largando as armas e agarrando a ferida com as mãos enquanto o sangue jorrava.
Lutando desesperadamente para se levantar, Ezio olhou em volta. Viu que os Pazzi já
haviam rodeado todos os seus homens, encurralando-os contra um dos muros da igreja.
Sentindo as pernas um pouco mais fortes, ele foi até os companheiros. Esquivando-se sob a
lâmina da foice de outro escudeiro de Pazzi, conseguiu acertar um soco no maxilar barbado do
homem e teve a satisfação de ver dentes voando e seu quase atacante cair de joelhos,
desnorteado com o golpe. Gritou para seus próprios homens para incentivá-los, mas na
verdade só pensava em bater em retirada com o máximo de dignidade possível quando, acima
do barulho da briga e por trás do bando de Pazzi, ouviu uma voz alta, jovial e bastante familiar
chamar por ele.
- Ei, fratellino, que diabo você está aprontando?
O coração de Ezio pulou com alívio, e ele conseguiu falar, meio engasgado:
- Ei, Federico! O que você está fazendo aqui? Achei que estivesse na farra, como
sempre!
- Que nada! Sabia que você tinha planejado algo e pensei em vir ver se meu irmãozinho
tinha finalmente aprendido a cuidar de si mesmo. Mas talvez você ainda esteja precisando de
uma ou duas aulas!
Federico Auditore, alguns anos mais velho que Ezio e o mais velho dos irmãos Auditore, era
um grandalhão de apetite igualmente grande - por bebidas, mulheres e lutas. Antes mesmo
de terminar de falar já estava no meio do combate, batendo a cabeça de dois dos homens de
Pazzi uma contra a outra e chutando a mandíbula de um terceiro, enquanto abria caminho pela
multidão para ficar ao lado do irmão, aparentemente sem se abalar com a violência ao seu
redor. Em torno deles seus próprios homens, encorajados, redobraram os esforços. Já os de
Pazzi estavam desnorteados. Alguns dos funcionários do estaleiro se reuniram a uma distância
segura para assistir e, à meia-luz, os Pazzi acharam que eram reforços dos Auditore. Juntando
isso aos rugidos e punhos velozes de Federico, que logo foi imitado por Ezio (ele aprendia
rápido), não demorou para deixá-los em pânico.
A voz furiosa de Vieri de' Pazzi ergueu-se acima do tumulto geral:
- Para trás! - ordenou ele a seus homens, cheio de cansaço e raiva. Seu olhar se
encontrou com o de Ezio e, rangendo os dentes, ele proferiu alguma ameaça inaudível antes
de sumir na escuridão, voltando a cruzar a ponte Vecchio, seguido por aqueles dentre seus
homens que ainda conseguiam andar, e perseguidos com furor pelos agora triunfantes aliados
de Ezio.
Ezio também estava prestes a ir junto, mas a mão enorme de seu irmão o impediu.
- Espere um minuto - disse.
- Como assim? Eles estão fugindo!
- Calma. - Federico franziu a testa e tocou de leve a ferida na sobrancelha de Ezio.
- É só um arranhão.
- É mais do que isso - decidiu seu irmão, com uma expressão preocupada. - Melhor
irmos a um médico.
Ezio desdenhou:
- Não tenho tempo a perder com médicos. Além do mais... - Ele fez uma pausa, com
tristeza. - Não tenho dinheiro.
- Ah! Desperdiçou tudo com mulheres e vinho, suponho. - Federico sorriu e deu um tapa
caloroso no ombro do irmão mais novo.
- Não exatamente desperdicei, eu diria. E considere o exemplo que você me deu. - Ezio
sorriu, mas depois hesitou. De repente se deu conta de que sua cabeça latejava. - Seja como
for, não custa dar uma olhada. Será que você poderia me emprestar uns fiorini?
Federico deu um tapinha na bolsa, que não tilintou.
- A verdade é que neste momento eu também estou meio descapitalizado - respondeu.
Ezio sorriu com o acanhamento do irmão.
- E no que você desperdiçou o seu? Missas e indulgências, suponho?
Federico gargalhou.
- Certo. Já entendi.
Ele olhou ao redor. No final, apenas três ou quatro de seus homens tinham sido feridos com
seriedade suficiente para permanecerem no campo da batalha e agora estavam se sentando,
gemendo um pouco, mas sorrindo também. Tinha sido um combate duro, mas ninguém havia
sido ferido com seriedade. Por outro lado, no mínimo meia dúzia dos capangas de Pazzi
estavam caídos e completamente fora do ar, e pelo menos um ou dois deles estavam vestidos
com roupas caras.
- Vejamos se nossos inimigos derrotados têm alguma riqueza para compartilhar - sugeriu
Federico. - Afinal, nossa necessidade é maior do que a deles, e aposto que você não
consegue aliviar sua carga sem acordá-los!
- Isso é o que vamos ver - disse Ezio, e se lançou à tarefa com algum sucesso. Em
questão de minutos já tinha colhido moedas de ouro suficientes para encher tanto a sua bolsa
quanto a do irmão. Ezio olhou para Federico em triunfo e sacudiu as riquezas recém-adquiridas
para enfatizar.
- Basta! - gritou Federico. - Melhor deixar um pouco para eles poderem voltar
mancando para casa. Afinal de contas, não somos ladrões: isso é apenas o espólio da guerra.
E continuo não gostando da aparência dessa ferida. Precisamos que isso seja visto o quanto
antes.
Ezio concordou com a cabeça e se virou para inspecionar pela última vez o campo da
vitória dos Auditore. Perdendo a paciência, Federico apoiou uma das mãos no ombro do
irmão.
- Vamos - disse, e rapidamente saiu andando num ritmo que Ezio, exausto pela luta,
achou difícil acompanhar. Porém, sempre que ficava muito para trás ou virava no lugar errado,
Federico parava ou se apressava em ajudá-lo.
- Desculpe-me, Ezio. Só quero chegar ao médico o quanto antes.
E de fato não ficava longe, mas Ezio ficava mais cansado a cada minuto. E finalmente eles
chegaram à sala sombria, repleta de instrumentos misteriosos e frascos de latão e vidro que
se estendiam ao longo de mesas de carvalho escuro e pendurados no teto junto com ramos de
ervas secas, onde o médico da família tinha seu consultório. Ezio mal conseguia ficar em pé.
O dottore Ceresa não ficou muito satisfeito de ser acordado no meio da noite, mas seu mau
humor se transformou em preocupação assim que aproximou uma vela para examinar
minuciosamente a ferida de Ezio.
- Humm - disse, com gravidade. - Dessa vez você aprontou uma daquelas, rapaz. Será
que vocês não conseguem pensar em nada melhor para fazer do que sair por aí batendo uns
nos outros?
- Foi uma questão de honra, meu bom doutor - explicou Federico.
- Entendo - respondeu o médico, calmamente.
- Na verdade, não foi nada - disse Ezio, embora se sentisse tonto.
Federico, como sempre escondendo a preocupação atrás do humor, disse:
- Costure o moço o melhor que puder, amigo. Esse rostinho bonito é o único bem que ele
tem.-
Ei, fottuto! - devolveu Ezio, mostrando o dedo ao irmão.
O doutor os ignorou, lavou as mãos, pressionou gentilmente a ferida e derramou um líquido
claro de uma de suas diversas garrafas em um pano de linho. Limpou com aquilo o ferimento,
e ardeu tanto que Ezio quase deu um pulo da cadeira, com o rosto retorcido de dor. Então,
satisfeito com a assepsia, o doutor pegou uma agulha e passou pelo buraco uma sutura fina
feita de tripa.
- Agora - disse ele -, isso vai doer um pouco.
Depois que os pontos foram dados e o ferimento foi enfaixado, de modo que Ezio parecia
um turco de turbante, o doutor sorriu de forma encorajadora.
- São três fiorini, por agora. Irei a seu palazzo dentro de alguns dias para retirar os
pontos. Aí serão mais três fiorini. Você vai sentir uma dor de cabeça terrível, mas vai passar.
Tente descansar, se isso estiver na sua natureza! E não se preocupe: a ferida parece pior do
que é. Além disso, há um bônus: não vai ficar uma cicatriz grande, então você não irá
desapontar tanto as senhoritas no futuro!
De volta à rua, Federico envolveu o irmão mais novo com um braço. Puxou uma garrafa e
ofereceu a Ezio.
- Não se preocupe - disse, percebendo a expressão de Ezio. - É a melhor grappa de
nosso pai. Melhor que leite de mãe para um homem em suas condições.
Os dois beberam, sentindo o líquido ardido aquecê-los.
- Que noite - comentou Federico.
- É mesmo. Que bom seria se todas fossem tão divertidas quanto... - Mas Ezio parou de
falar ao ver que o irmão começava a sorrir de orelha a orelha. - Ah, espere! - corrigiu-se,
rindo. - Elas são!
- Mesmo assim, acho que um pouco de comida e bebida não seria nada mal para lhe dar
um jeito antes de ir para casa - disse Federico. - Está tarde, eu sei, mas tem uma taverna
aqui perto que só fecha na hora do café da manhã e...
- ...você e o oste são amici intimi?
- Como você adivinhou?
Mais ou menos uma hora depois, após uma refeição de ribollita e bistecca regada com
uma garrafa de Brunello, Ezio sentia-se como se nem tivesse sido ferido. Era jovem e estava
em forma, e toda a sua energia perdida havia voltado. A adrenalina da vitória sobre a gangue
de Pazzi com certeza contribuiu para a rapidez de sua recuperação.
- Hora de ir para casa, irmãozinho - disse Federico. - Papai com certeza deve estar se
perguntando onde estamos, e ele conta com você para ajudá-lo no banco. Sorte minha que
não tenho jeito para números, e acho que é por isso que ele mal pode esperar para me enfiar
na política!
- Na política ou no circo: no que você se der melhor.
- Qual a diferença?
Ezio sabia que Federico não se ressentia pelo fato de que o pai confiava mais nele para
tocar os negócios da família do que em seu irmão mais velho. Federico morreria de tédio se
tivesse de passar a vida envolvido com os assuntos do banco. O problema era que Ezio
achava que talvez esse também fosse seu caso. Mas, por enquanto, o dia em que ele se
vestiria com o terno de veludo preto e a corrente de ouro dos banqueiros florentinos ainda
estava distante, e ele estava determinado a desfrutar ao máximo os dias de liberdade e
irresponsabilidade. Mal sabia como aqueles dias seriam breves.
- É melhor a gente se apressar também - dizia Federico -, se quisermos evitar um
sermão.
- Ele pode estar preocupado.
- Não, ele sabe que podemos nos cuidar. - Federico olhou especulativamente para Ezio.
- Mas com certeza é melhor ir logo. - Fez uma pausa. - Você não gostaria de fazer uma
aposta, gostaria? Uma corrida, talvez?
- Até onde?
- Vejamos... - Federico olhou para a cidade enluarada em direção a uma torre não muito
longe dali. - O telhado de Santa Trinità. Se não for demais para você... além disso, não fica
muito longe de casa. Mas há apenas mais uma coisa.
- O quê?
- Não vamos correr pelas ruas, mas sobre os telhados.
Ezio respirou fundo.
- Tudo bem. Está certo.
- Certo, pequena tartaruga, vamos!
Sem dizer mais nada, Federico disparou e começou a escalar uma parede de reboco ali
perto com a facilidade de uma lagartixa. Parou no topo, parecendo quase hesitar entre as
telhas vermelhas arredondadas, gargalhou e disparou novamente. Quando Ezio chegou ao
telhado, o irmão estava a 20 metros de distância. Partiu atrás dele, esquecendo a dor na
animação cheia de adrenalina da perseguição. Então viu Federico dar um salto poderoso num
vazio negro como breu e aterrissar suavemente no telhado plano de um palazzo cinzento,
ligeiramente abaixo do nível daquele de onde havia saltado. Correu um pouco mais para a
frente e esperou. Ezio sentiu uma pontada de medo quando o abismo da rua, oito andares
abaixo, se abriu à sua frente, mas ele sabia que preferiria morrer a hesitar diante do irmão. E
então, reunindo coragem, deu um enorme salto, vendo, enquanto voava, as duras pedras de
granito do calçamento brilhando ao luar sob seus pés suspensos. Por uma fração de segundo,
enquanto a parede cinzenta do palazzo parecia se erguer na sua direção, ele se perguntou se
havia calculado certo; mas então, de algum modo, ela sumiu e ele estava sobre o teto - meio
desajeitado, é verdade, mas ainda de pé, e louco de alegria, embora respirando com
dificuldade.
- Meu irmãozinho ainda tem muito o que aprender - provocou Federico, acelerando de
novo, uma sombra faiscante entre as chaminés sob as poucas nuvens. Ezio se atirou para a
frente, perdido na loucura do momento. Outros abismos se escancaravam abaixo dele, alguns
estreitos sobre meros becos, outros sobre ruas largas. Federico havia sumido. De repente a
torre de Santa Trinità se ergueu diante dele, surgindo da curva vermelha do telhado
suavemente inclinado da igreja. Mas, ao se aproximar, lembrou que a igreja ficava no meio de
uma praça e que a distância entre seu telhado e os dos edifícios que a rodeavam era muito
maior do que qualquer uma que ele já tinha saltado. Ele não ousou hesitar ou diminuir a
velocidade agora - sua única esperança era que o teto da igreja fosse mais baixo do que
aquele de onde ele teria de saltar. Se conseguisse se lançar para a frente com bastante força,
e realmente se colocasse no ar, a gravidade faria o resto. Por um ou dois segundos, ele voaria
como um pássaro. Ezio afastou da mente qualquer pensamento sobre o que aconteceria caso
falhasse.
A beirada do teto em que estava se aproximou rápido, e então... nada. Ele pairou, ouvindo
o ar assobiar em seus ouvidos e sentindo os olhos lacrimejarem. O teto da igreja parecia estar
a uma distância infinita - ele jamais o alcançaria, jamais voltaria a rir ou lutar ou segurar uma
mulher em seus braços. Não conseguia respirar. Fechou os olhos, e então...
Seu corpo se curvou e ele se equilibrou balançando as mãos e os pés, mas eles estavam
apoiados no chão de novo: ele havia conseguido - aterrissara a centímetros da borda, sim,
mas tinha conseguido saltar no telhado da igreja!
Mas onde estava Federico? Ele escalou até a base da torre e se virou para observar o
lugar de onde tinha vindo, bem a tempo de ver o irmão voando pelos ares. Federico aterrissou
com firmeza, mas seu peso fez com que uma ou duas das telhas de argila vermelha saíssem
do lugar e ele quase perdeu o equilíbrio quando elas deslizaram pela beirada do teto,
espatifando-se nas pedras duras do calçamento lá embaixo. Porém, Federico já havia
recuperado o equilíbrio, ofegando, com certeza, mas com um enorme sorriso orgulhoso no
rosto.
- Ah, não é tão tartaruga assim, afinal - disse, ao se aproximar para dar um tapinha no
ombro de Ezio. - Você passou por mim como um raio.
- Nem sabia que tinha feito isso - disse Ezio de modo breve, tentando recuperar o
fôlego.
- Bem, você não chega antes de mim ao topo da torre - devolveu Federico, empurrando
Ezio para o lado, e começou a escalar a torre que os patronos da cidade pensavam em
substituir por alguma coisa de design mais moderno. Dessa vez Federico chegou antes, e teve
até de dar a mão ao irmão ferido, que estava começando a achar que dormir não seria uma
ideia tão ruim assim. Os dois estavam ofegantes e ficaram parados por um momento para se
recuperar, olhando para a cidade serena e silenciosa à luz perolada da aurora.
- Levamos uma vida boa, irmão - disse Federico, com uma solenidade incomum.
- A melhor - Ezio concordou -, e pode nunca mudar.
Os dois ficaram quietos por um instante (ninguém queria quebrar a perfeição do momento),
mas depois de um tempo Federico falou em voz baixa:
- Que ela nunca nos mude, fratellino. Venha, precisamos voltar. Lá está o telhado do
nosso palazzo. Queira Deus que papai não tenha ficado acordado a noite toda, senão vai
estar uma fera. Vamos.
Ele foi até a beira da torre para descer até o teto, mas parou quando viu que Ezio não
havia saído do lugar.
- Que foi?
- Espere um minuto.
- O que você está olhando? - perguntou Federico, indo se juntar ao irmão. Seguiu o olhar
de Ezio e então abriu um sorriso. - Seu diabo manhoso! Você não está pensando em ir lá
agora, está? Deixe a pobre garota dormir!
- Não, acho que está na hora de Cristina acordar.
Ezio tinha conhecido Cristina Calfucci havia pouco tempo, mas já pareciam inseparáveis,
apesar do fato de seus pais ainda os acharem jovens demais para um relacionamento sério.
Ezio discordava, mas Cristina tinha apenas 17 anos, e seus pais esperavam que ele
controlasse seus hábitos malucos antes mesmo de começarem a olhá-lo com mais simpatia. É
claro que isso só servia para tornar Ezio ainda mais impetuoso.
Depois de comprar umas bugigangas para o dia do santo da irmã, Federico e ele haviam
perambulado pelo mercado, olhando as garotas bonitas da cidade com suas accompagnatrici
indo de barraca em barraca, examinando uma renda aqui, fitas e peças de seda ali. Porém,
uma delas se destacara das outras, mais linda e graciosa do que qualquer uma que Ezio já
tinha visto na vida. Ezio nunca esqueceria aquele dia, o dia em que ele pousara os olhos nela
pela primeira vez.
- Oh - exclamara ele, contendo um grito sem querer. - Olhe! Ela é tão linda.
- Bem - retrucara seu irmão, sempre prático. - Por que você não vai lá cumprimentála?
- O quê? - Ezio estava chocado. - E depois de cumprimentá-la... o que vou dizer?
- Bem, você poderia tentar conversar com ela. Sobre o que você comprou, o que ela
comprou; não importa. Veja bem, irmãozinho, a maioria dos homens tem tanto medo das
garotas bonitas que qualquer um que consegue reunir coragem para conversar com elas já tem
uma vantagem imediata. O quê? Você acha que elas não querem ser notadas, que não
querem bater papo com um homem? Claro que querem! E enfim, você não é feio, e é um
Auditore. Então vá até lá: eu distraio a acompanhante. Que, falando nisso, também não é feia.
Ezio se lembrava de como, a sós com Cristina, ficou plantado no chão, sem palavras,
bebendo da beleza de seus olhos escuros, de seus cabelos ruivos macios e compridos, de seu
nariz arrebitado...
Ela o encarou.
- O que foi? - ela perguntou.
- Como assim? - perguntou ele, de repente.
- Por que você está aí parado?
- Ah... err... porque queria lhe perguntar uma coisa.
- E o que seria?
- Qual o seu nome?
Ela revirou os olhos. Droga, pensou ele, ela já ouviu isso tudo antes.
- Nenhum nome que você alguma vez terá necessidade de usar - respondeu a moça. E
se foi. Ezio ficou paralisado por um instante, depois saiu atrás dela.
- Espere! - disse, alcançando-a, mais ofegante do que se tivesse corrido dois
quilômetros. - Eu não estava preparado. Planejava ser realmente charmoso. E delicado! E
espirituoso! Não vai me dar uma segunda chance?
Ela olhou para trás sem parar de andar, mas abriu um sorriso mínimo. Ezio entrara em
desespero, mas Federico assistira a tudo e o chamou baixinho:
- Não desista agora! Eu vi a garota sorrir! Ela vai se lembrar de você.
Tomando coragem, Ezio a seguiu - discretamente, cuidando para que ela não o notasse.
Três ou quatro vezes teve de se esconder atrás de uma barraca, ou, depois que ela saiu da
praça, enfiar-se no vão de uma porta, mas conseguiu segui-la com sucesso até a porta da
mansão de sua família, onde um homem que ele reconheceu bloqueou a passagem dela. Ezio
recuou.
Cristina olhou com raiva para o homem.
- Já lhe disse, Vieri, não estou interessada em você. Agora me deixe passar.
Ezio, escondido, respirou fundo. Vieri de' Pazzi! Claro!
- Mas signorina, eu estou interessado. Muito interessado, na verdade - retrucou Vieri.
- Então, junte-se à fila.
Ela tentou passar por ele, mas ele impediu sua passagem.
- Creio que não, amore mio. Decidi que estou cansado de esperar que você abra as
pernas por vontade própria.
Então ele a agarrou bruscamente pelo braço, trazendo-a para perto de si e envolvendo-a
com o outro braço enquanto ela lutava para se libertar.
- Acho que você não entendeu o recado - disse Ezio de repente, dando um passo
adiante e olhando Vieri nos olhos.
- Ah, o pirralho Auditore. Cane rognoso! Que diabo você tem a ver com isso? Vá para o
inferno.
- E buon giorno para você também, Vieri. Lamento interromper, mas tenho a nítida
impressão de que você está estragando o dia dessa jovem.
- Ah, tem, é? Com licença, minha querida, enquanto acabo com a raça desse novo-rico.
E assim, Vieri empurrou Cristina para um lado e se lançou sobre Ezio com o punho direito
preparado. Ezio se desviou facilmente e deu um passo para o lado, passando uma rasteira em
Vieri quando seu ataque o levou para a frente, fazendo com que caísse esparramado na terra.
- Já chega, amigo? - perguntou Ezio de modo debochado. Mas Vieri se pôs de pé em
um instante e foi na direção dele com raiva e os punhos em riste. Conseguiu dar um soco forte
no queixo de Ezio, mas este se desviou de outro de esquerda e conseguiu acertar-lhe um no
rosto e mais um na barriga e, enquanto Vieri se curvava, outro no queixo. Ezio se virou para
Cristina para ver se ela estava bem. Ofegante, Vieri recuou, mas sua mão voou na direção da
adaga. Cristina viu o movimento e deu um grito de alerta involuntário quando Vieri aproximava a
lâmina para acertar Ezio pelas costas. Porém, advertido pelo grito, Ezio se virara bem na hora
e agarrara o pulso de Vieri com firmeza, fazendo-o largar a adaga no chão. Os dois homens
se encararam, respirando com dificuldade.
- Isso é o melhor que você consegue fazer? - perguntou Ezio com frieza.
- Cale a boca, senão juro por Deus que o mato!
Ezio gargalhou.
- Acho que eu não devia ficar surpreso de vê-lo forçando uma moça direita que
claramente o considera uma bola de estrume, já que seu pai tenta da mesma maneira forçar
Florença por interesse de seu banco!
- Idiota! É seu pai quem precisa aprender uma lição ou outra sobre humildade!
- Já é hora de os Pazzi pararem de nos caluniar. Mas, enfim, vocês só têm boca, não
tenho punho.
O lábio de Vieri sangrava bastante. Ele o enxugou com a manga.
- Vai pagar por isso, você e sua raça inteira. Não irei me esquecer, Auditore!
Cuspiu no pé de Ezio, parou para pegar a adaga, depois se virou e saiu correndo. Ezio o
observou se afastar.
* * *
Ele se lembrou de tudo isso, ali de pé na torre da igreja olhando para a casa de Cristina.
Lembrou-se da felicidade que sentira ao se virar para Cristina e ver um novo calor em seus
olhos, quando ela lhe agradeceu.
- Está tudo bem, signorina? - perguntara ele.
- Agora está, graças a você. - Ela hesitara, com a voz ainda trêmula de medo. - Você
me perguntou meu nome... bem, é Cristina. Cristina Calfucci.
Ezio fez uma reverência.
- É uma honra conhecê-la, Signorina Cristina. Ezio Auditore.
- Você conhece aquele homem?
- Vieri? Nossos caminhos se cruzam aqui e ali. Mas nossas famílias não têm motivo para
gostar uma da outra.
- Nunca mais quero vê-lo de novo.
- Se eu puder ajudar, é o que vai acontecer.
Ela sorriu timidamente, depois disse:
- Ezio, você tem minha gratidão, e por isso estou preparada para lhe dar uma segunda
chance, depois de seu começo ruim! - Ela riu suavemente, depois beijou-o na bochecha antes
de desaparecer dentro da mansão.
A pequena multidão que inevitavelmente se reuniu para assistir à briga aplaudiu Ezio. Ele se
curvou, sorrindo, mas ao se virar sabia que, embora talvez tivesse feito uma nova amizade,
também tinha feito um inimigo implacável.
- Deixe Cristina dormir - repetiu Federico, arrancando Ezio de seu devaneio.
- Há bastante tempo para isso, mais tarde - respondeu ele. - Preciso vê-la.
- Certo, se você precisa... vou tentar lhe ajudar em relação ao papai. Mas cuidado, os
homens de Vieri podem ainda estar por aí.
Com isso, Federico desceu a torre até alcançar o teto e dele pulou em uma carroça de
feno estacionada na rua que dava para sua casa.
Ezio observou-o se afastar, depois decidiu imitar o irmão. A carroça de feno parecia muito
longe, mas ele se lembrou do que haviam lhe ensinado, controlou a respiração, acalmou-se e
se concentrou.
Depois atirou-se pelos ares, dando o maior salto de sua vida até então. Por um momento
achou que poderia ter calculado mal o alvo, mas acalmou seu próprio pânico momentâneo e
aterrissou em segurança sobre o feno. Um verdadeiro voto de confiança! Meio sem fôlego,
mas empolgado com o sucesso, Ezio lançou-se à rua.
O sol começava a aparecer sobre as colinas do leste, mas havia pouca gente na rua. Ezio
estava prestes a se dirigir até a mansão de Cristina quando ouviu o eco de passos e, tentando
desesperadamente se esconder, encolheu-se nas sombras do pórtico da igreja, prendendo a
respiração. Não era ninguém mais, ninguém menos que Vieri e dois dos guardas dos Pazzi que
viravam a esquina.
- Melhor a gente desistir, chefe - disse o guarda mais velho. - A essa altura, eles já
estão longe.
- Eu sei que estão por aqui em algum lugar - retrucou Vieri. - Quase posso sentir o
cheiro deles. - Ele e os homens deram uma volta na praça da igreja, mas não demonstraram
nenhum sinal de que iriam embora. A luz do sol diminuía as sombras. Ezio arrastou-se com
cuidado de volta ao abrigo do feno e ficou ali deitado pelo que pareceu uma eternidade,
impaciente para seguir seu caminho. Houve um momento em que Vieri passou tão perto que
Ezio praticamente podia cheirá-lo, mas, por fim, o homem fez um sinal raivoso para seus
capangas seguirem em frente. Ezio ainda ficou deitado por mais algum tempo, depois desceu
da carroça e soltou um longo suspiro de alívio. Bateu a poeira das roupas e rapidamente
cobriu a curta distância que o separava de Cristina, rezando para que ninguém da casa da
amada já estivesse acordado.
A mansão continuava em silêncio, embora Ezio adivinhasse que os criados estivessem
acendendo o fogo da cozinha nos fundos. Sabia onde ficava a janela de Cristina e atirou um
punhado de cascalho nas venezianas. O barulho lhe pareceu ensurdecedor e ele aguardou,
com o coração na boca. Então as venezianas se abriram e ela apareceu na sacada. A
camisola revelava os contornos deliciosos de seu corpo, e, quando a olhou, mais uma vez ficou
perdido de desejo.
- Quem é? - perguntou Cristina em voz baixa.
Ezio deu um passo para que ela pudesse vê-lo.
- Eu!
Cristina suspirou, embora não de maneira antipática.
- Ezio! Eu devia saber...
- Posso subir, mia colomba?
Ela olhou por sobre o ombro antes de responder num sussurro:
- Tudo bem, mas só por um minuto.
- Não preciso de mais do que isso.
Ela sorriu.
- É mesmo?
Ele ficou confuso.
- Não... desculpe... não quis dizer isso! Deixe lhe mostrar...
Olhando ao redor para ver se a rua continuava deserta, apoiou o pé em um dos grandes
anéis de ferro para amarrar cavalos encravados nas pedras cinzentas da casa e deu um
impulso para cima, encontrando pontos de apoio para as mãos e para os pés com relativa
facilidade na construção de pedra. Em um piscar de olhos ele havia pulado a balaustrada e ela
estava em seus braços.
- Oh, Ezio! - suspirou ela quando se beijaram. - Olhe sua cabeça. O que você aprontou
dessa vez?
- Não é nada, só um arranhão. - Ezio fez uma pausa, sorrindo. - Será que, agora que
já subi, posso entrar? - perguntou ele suavemente.
- Onde?
Ele se fez de inocente.
- No seu quarto, claro.
- Bom, talvez... se você tem certeza de que não precisa de mais do que um minuto...
Abraçados, entraram pelas portas duplas para a luz cálida do quarto de Cristina.
Uma hora depois, foram acordados pela luz do sol entrando pelas janelas, pelo burburinho de
carruagens e pessoas nas ruas e - pior - pela voz do pai de Cristina abrindo a porta do
quarto.
- Cristina - disse ele. - Hora de levantar, filha! Seu tutor vai chegar a qualquer... Mas
que diabo...? Filho da puta!
Ezio beijou Cristina rápida mas intensamente.
- Hora de ir, acho - disse ele, pegando suas roupas e disparando para a janela. Escalou
a parede para descer e já estava vestindo o terno quando Antonio Calfucci apareceu na
sacada lá em cima. Ele estava completamente ensandecido.
- Perdonami, messere - arriscou Ezio.
- Eu lhe mostro o perdonami, messere! - berrou Calfucci. - Guardas! Guardas!
Peguem esse cimice! Tragam-me sua cabeça! E quero os coglioni também!
- Já disse que sinto muito... - começou Ezio, mas os portões da mansão já estavam se
abrindo e os guardas dos Calfucci vinham correndo, de espada em punho. Agora mais ou
menos vestido, Ezio disparou correndo pela rua, desviando de carroças e empurrando
cidadãos no caminho - ricos homens de negócios de preto solene, mercadores de marrom e
vermelho, os mais humildes com túnicas fiadas em casa e ainda uma procissão de igreja com
a qual colidiu tão inesperadamente que quase derrubou a estátua da Virgem que os monges
de capuzes pretos estavam carregando. Por fim, depois de se meter por becos e pular sobre
muros, parou para ouvir. Silêncio. Não ouvia nem mesmo os gritos e xingamentos da
população que haviam acompanhado seu progresso. Quanto aos guardas, ele os despistara,
disso tinha certeza.
Só esperava que o signore Calfucci não o tivesse reconhecido. Cristina não o trairia, podia
ter certeza. Além do mais, ela era capaz de enrolar o pai, que a adorava. E, mesmo que ele
descobrisse, Ezio refletiu, não seria um mau partido. Seu pai era dono de um dos maiores
bancos da cidade, que um dia poderia ser ainda maior do que o dos Pazzi ou mesmo, quem
sabe, o dos Médici.
Caminhando pelas ruas secundárias, ele voltou para casa. O primeiro a encontrá-lo foi
Federico, que o olhou seriamente e sacudiu a cabeça de modo ameaçador.
- Dessa vez você está com problemas - disse ele. - Não diga que não o avisei.

Assasins Creed : Renascença - Oliver BowdenOnde histórias criam vida. Descubra agora