Capítulo 01

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Poppy apoiou uma das bonecas de sereia perto do trecho de asfalto da rua que representava o Mar Mais Negro

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Poppy apoiou uma das bonecas de sereia perto do trecho de asfalto da rua que representava o Mar Mais Negro. Elas eram velhas - compradas em uma loja de caridade da Goodwill-, com cabeças grandes e brilhantes, caudas de cores diferentes e cabelos arrepiados.

Zachaey Barlow quase podia imaginar suas barbatanas chicoteando para frente e para trás enquanto esperavam o barco se aproximar, com seus bobos sorrisos artificiais escondendo suas intenções letais. Elas iriam fazer o barco bater contra o fundo do mar na parte rasa, atrair a tripulação para a água e comer os piratas com seus dentes pontiagudos.

Zachary vasculhou a sacola em que guardava os bonecos. Puxou o pirata de duas espadas e o colocou com cuidado no centro do barco de papel, o qual haviam enchido de pedregulhos da entrada de casa para fazer peso. Sem os pedregulhos, o Pérola de Netuno provavelmente seria soprado pelo vento de início do outono. Ele mal podia acreditar que não estava no gramado irregular em frente à casa em ruínas de Poppy, com seu revestimento solto, mas sim a bordo de um navio de verdade, com borrifadas de sal ardendo em seu rosto, a caminho de sua aventura.

-Vamos ter que nos amarrar ao mastro- disse Zach, no voz de William, a Lâmina, o capitão do Pérola de Netuno. Zach tinha uma maneira diferente de falar para cada um dos bonecos. Ele não estava certo se as outras pessoas podiam diferenciar as vozes, mas ele se sentia diferente quando as reproduzia.

As tranças de Alice caíam diante de seus olhos cor de âmbar enquanto ela movia a boneca Lady Jaye, dos Comandos em Ação, aproximando-a do centro do barco. Lady Jaye era uma ladra que passara a viajar com William, a Lâmina, depois de não ter conseguido bater a carteira dele. Ela era barulhenta e se comportava mal, não se parecia quase nada com Alice, que ficava irritada com o controle superprotetor da avó, mas fazia isso em silêncio.

-Você acha que os guardas do Duque estarão nos esperando na Cachoeira Dourada?- Alice fez com que Lady Jaye perguntasse.

-Ele pode nos pegar- disse Zach, arreganhando um sorriso para ela. -Mas nunca vai nos pegar. Nada vai. Estamos em uma missão para a Grande Rainha, e nada vai nos deter.- Ele não tinha planejado dizer aquelas palavras até elas saírem de sua boca, mas pareciam ser a coisa certa a dizer. Pareciam representar os verdadeiros pensamentos de William.

Por isso Zach adorava brincar: aqueles momentos em que ele parecia acessar outro mundo, que parecia mais real que qualquer coisa. Aquilo era algo de que ele não queria abrir mão jamais. Zach preferia continuar brincando daquele jeito para sempre, não importava que já estivessem grandes, embora não achasse que aquilo seria possível. Já era difícil algumas vezes.

Poppy prendeu mechas do cabelo ruivo soprado pelo vento atrás das orelhas e direcionou o olhar para Zach e Alice, de modo muito sério. Ela era pequena e brava, tinha tantas sardas que Zach se lembrava das estrelas à noite. Poppy gostava, mais do que tudo, de estar no controle da história e tinha talento para fazer um momento dramático. Por isso ela se saía melhor como vilã nas brincadeiras.

-Vocês podem amarrar os nós para se proteger, mas nenhum barco pode passar por estas águas a menos que um sacrifício seja feito para as profundezas- Poppy fez uma daz sereias dizer. -Por vontade própria ou não. Se alguém da sua tripulação não pular no mar, o próprio mar escolherá o seu sacrifício. Essa é a maldição das sereias.

Alice e Zach trocaram um olhar. Será que as sereias estavam dizendo a verdade? Poppy nem poderia criar regras assim, regras com as quais ninguém tinha concordado... Mas Zach só reclamava quando não gostava delas. Uma maldição parecia ser algo divertido.

-Nós todos vamos afundar juntos antes de perdermos um único membro desta tripulação- fingindo gritar na voz de William. -Estamos em uma missão para a Grande Rainha, e tememos muito mais a maldição dela do que a sua.

-Mas, neste momento -disse Poppy em tom sinistro, levando uma das sereias para a borda do barco-, dedos com membranas agarram o tornozelo de Lady Jaye, e a sereia a puxa para fora do barco. Ela se foi.

-Você não pode fazer isso!- reclamou Alice.- Eu estava amarrada ao mastro.

-Você não especificou isso- Poppy lhe disse.- William sugeriu, mas você não falou se tinha se amarrado ou não.

Alice resmungou, como se Poppy estivesse sendo especialmente irritante. E ela meio que estava sendo mesmo.

-Bem, Lady Jaye estava no meio do barco. Mesmo que ela não estivesse amarrada, uma sereia não a alcançaria sem entrar no navio rastejando.

-Se Lady Jaye for puxada do barco, vou atrás dela- Zach declarou, mergulhando William na água de pedregulhos.- Eu falei sério quando disse que ninguém séria deixado para trás.

-Eu não fui puxada- Alice insistiu.

Enquanto eles continuavam discutindo, dois dos irmãos de Poppy saíram da casa, deixando a porta aberta atrás deles. Os dois deram uma olhada e soltaram um sorriso de gozação. O mais velho deles, Tom, apontou diretamente para Zach e sussurrou algo. O irmão mais novo riu.

Zach sentiu seu rosto esquentar. Ele achava que nenhum dos dois conhecia alguém da sua escola, mas mesmo assim. Se algum dos seus colegas do time de basquete descobrisse que, aos doze anos, Zach ainda brincava com bonecos, o basquete ficaria menos divertido. A escola ficaria chata também.

-Ignore os dois- Poppy declarou em voz alta.- São idiotas.

-Tudo o que a gente tinha para dizer é que a avó da Alice ligou- disse Tom, seu rosto fingindo inocência e tristeza.

Ele e Nate tinham o mesmo cabelo vermelho-tomate da irmã, mas não se pareciam muito com ela de nenhuma forma que Zach pudesse identificar. Eles, e também a irmã mais velha, sempre estavam metidos em encrenca: seja brigando, matando aula, fumando ou fazendo outras coisas. Os irmãos Bell eram considerados pequenos criminosos na cidade e, tirando Poppy, pareciam fazer de tudo para manter essa reputação.

-A velha Senhora Magnaye disse que você precisa estar em casa antes de escurecer. Ela pediu para você não esquecer nem inventar desculpas. Ela estava brava, Alice.

As palavras eram educadas, mas dava para perceber, pela voz enjoativa que Tom usava, que ele não estava sendo nem um pouco educado.

Alice se levantou e limpou a saia. O laranja irradiado pelo pôr do sol dava à sua pele um tom bronzeado e às suas várias tranças brilhantes um tom metálico. Seus olhos se apretaram. Sua expressão oscilou entre a inquietação e a raiva. Os meninos a perturbavam desde que ela tinha completado dez anos, quando ganhava curvas e começava a parecer bem mais velha do que era. Zach odiava a maneira que Tom falava com Alice, como se fizesse piada com ela sem dizer alguma coisa ruim de verdade, mas ele também nunca soube o que dizer para interromper aquilo.

-Parem com isso- disse Zach.

Os meninos Bell riram. Tom imitou Zach, fazem uma voz aguda.

-Parem com isso. Não falem com a minha namorada.

-É, parem com isso- Nate chiou- Ou vou bater em vocês com a minha boneca.

Alice seguiu em direção à casa dos Bell, com a cabeça baixa.

Ótimo, Zach pensou. Como sempre, ele piorou a situação.

-Não vá ainda- Poppy chamou Alice, ignorando os irmãos.- Ligue para casa e veja se pode passar a noite aqui.

-É melhor não- Alice falou.- Só preciso buscar minha mochila lá dentro.

-Espere- disse Zach, apanhado Lady Jaye.

Ele seguiu até a porta de tela e chegou lá bem quando ela foi fechada na sua cara.

-Você esqueceu...

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Oiiiii

Espero que tenham gostado do primeiro capítulo.

Bjs😘

Boneca de OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora