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  Naquela noite, à mesa da cozinha, Zach ficou cutucando seu frango assado. Ele não estava com fome.

— Sua mãe me fez ver que, se eu quiser que você comece a agir como adulto, não posso continuar a lidar com você como se fosse uma criança — seu pai disse, e parecia excessivamente sincero. — Ela está certa. Eu não devia ter jogado suas coisas fora, porque meu trabalho é guiar meu filho para as escolhas certas, não fazê-las por ele.

  O tom de voz do pai fazia Zach pensar no ano anterior, quando entrou em uma briga na escola. Sua mãe o fez se sentar no escritório do diretor até ele estar pronto para dizer a Harry Parillo que sentia muito por ter dado um soco nele, embora Zach não estivesse nem um pouco arrependido. A desculpa do pai de Zach parecia tão forçada quanto a dele naquele dia.

— Sei que é difícil se adaptar ao fato de nós estarmos juntos de novo — Mamãe disse. — Mas vamos continuar trabalhando nisso. Zachary, tem algo que você queira dizer?

— Não — Zach respondeu.

— Tudo bem — disse o pai, levantando-se da mesa e batendo no ombro de Zach. — Nós nos entendemos, não é?

  Um silêncio constrangedor estendeu-se entre eles.

  Por fim, Zach fez que sim com a cabeça, porque entendia mesmo o pai. Ele entendia que o pai queria deixar a mãe feliz. Ele entendia como era não se arrepender. Isso não bastava para que Zach o perdoasse.

  No dia seguinte, Zach foi ao treino e tentou se livrar dos seus pensamentos em Poppy, Alice e seu pai jogando bola com tamanha agressividade que acabou levando uma bronca do treinador, sendo obrigado a permanecer no banco pelo restante do tempo. Zach tentou não pensar na história, o que aconteceria sem ele, fluindo pelos espaços vazios onde seus personagens costumavam estar até que fossem engolidos e esquecidos.

Ele pensou de novo em fugir, mas, à medida que o tempo passava, mais se dava conta de que não tinha para onde ir.

  Como seu pai estava no restaurante naquela noite, a mãe o deixou comer ravióli em lata no sofá, em frente à televisão. Não conversaram muito, embora Zach tenha pegado a mãe lhe lançando olhares preocupados.

  De manhã, Zach pediu a ela uma carona para a escola e, naquela tarde, voltou para casa com Alex Rios. Eles jogaram videogame no porão de Alex, em uma televisão maior do que qualquer outra que Zach já vira fora de uma loja.

  No dia seguinte, Alice foi falar com Zach enquanto ele fazia arremessos durante o intervalo, e apertou um bilhete na mão dele. Alguns dos outros meninos gritaram “Vai convidar a Alice!” e “Alguém tem namorada!” enquanto ela se afastava, o que a fez curvar os ombros como se enfrentasse um vento forte.

— Calem a boca — Zach falou, empurrando Peter Lewis, já que ele era quem estava mais perto.

  O bilhete foi dobrado em um quadrado daquela vez, com seu nome cuidadosamente escrito em tinta azul. Quando Zach abriu, havia apenas três frases curtas no papel pautado:

Alguma coisa aconteceu com a Rainha. Vá para a casa do ermitão perto dos Morros Prateados depois da aula. É Importante.

Importante estava grifado três vezes.

Não é nada, Zach disse a si mesmo.

  Ele pensou nos cílios da Rainha tremendo e na sensação de os olhos fechados dela o seguirem enquanto ele atravessava a sala.

  A Rainha não era de verdade, então nada de importante poderia ter acontecido com ela. Eram apenas Poppy e Alice tentando conseguir que ele aparecesse, para que eles pudessem ter a mesma briga de novo. Elas queriam que ele brincasse, mas ele não podia. Não havia nada que ele pudesse fazer além de explicar o porquê de aquilo ter acabado, e ele não conseguia se forçar a fazer isso,

— O que o bilhete dizia? — Alex perguntou. — Ela disse que quer seu corpo magrinho?

  Zach rasgou-o ao meio e de novo agora em pedaços menores.

— Não. Ela só quer minha lição de casa de matemática.

  Não tinha treino depois da aula naquele dia, mas Zach ficou até mais tarde de qualquer maneira, fingindo que haveria. Conseguiu convencer o treinador a deixá-lo treinar arremessos no ginásio, o que ele fez metodicamente, sozinho, deixando-se afundar no baque surdo da bola, no apito dos seus tênis e no cheiro familiar de cera fresca no chão e de suor velho.

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Mais um capítulo concluído yeahhh

Até o próximo capítulo😘😘

Bye byeee

Boneca de OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora