Capítulo 04

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  O ar estava fresco, as árvores brilhavam com folhas amarelas e vermelhas e os gramados estavam espessos com um tapete murcho e marrom

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  O ar estava fresco, as árvores brilhavam com folhas amarelas e vermelhas e os gramados estavam espessos com um tapete murcho e marrom. Um sopro de ar balançou os galhos acima de Zachary e assoprou a franja sobre seus olhos. Ele a empurrou para trás com impaciência e mirou para o céu sem nuvens.

  Zach pensou em todos eles: seus personagens, presos na sacola militar, ratos roendo os cantos. Pensou em insetos arrastando-se sobre eles e no lixo jogado sobre eles. Ele pensou nas Perguntas dobradas, ainda na mochila, e se lembrou de ter dito que o pesadelo de William era ser enterrado vivo.

— Ei — falou Alice. — Vocês querem se reunir? Eu tenho uma ideia que pode...

— Não posso — Zach disse rapidamente.

  Ele havia planejado todo um discurso na noite anterior, deitado de costas, encarando o teto do quarto, mas não conseguia se lembrar de nada. Respirou fundo e disparou a única coisa que conseguia pensar em dizer:

— Não quero mais brincar.

  Poppy franziu as sobrancelhas, confusa.

— Do que está falando?

  Por um momento, pareceu possível retirar o que Zach disse, falar para Poppy e Alice o que realmente havia acontecido. Ele poderia explicar o que o pai havia feito e o quanto estava bravo com ele e que não tinha ideia do que fazer, a não ser ficar bravo. Ele poderia dizer às meninas que não queria que todas as histórias ficassem inacabadas. Poderia dizer a elas que sentia que pedaços dele haviam ido embora, como se parte dele tivesse sido jogada fora junto com seus bonecos.

— Estou muito ocupado com a escola e o basquete e tudo — ele disse em vez disso, sua voz baixa. — Quero dizer, vocês podem continuar brincando ou sei lá.

— Você quer dizer para sempre? Tipo, não quer brincar nunca mais?

  Quando Poppy ficava chateada, seu pescoço ficava com manchas vermelhas. Zach podia vê-lo ganhando cor, tão cor de rosa quanto suas bochechas açoitadas pelo vento. Ela se lançou em uma negociação um pouco desesperada.

— É que estamos no meio de algo grande. Atravessamos todo o País Cinza e chegamos ao Mar Mais Negro. Não podíamos pelo menos terminar essa parte?

  Antes Zach estava ansioso para cruzar espadas com a líder das sereias, que sabia o caminho para uma antiga cidade submersa cheia de segredos — inclusive o segredo para concluir a jornada da Rainha e cancelar a maldição. Além disso, havia a promessa de lutar contra tubarões. Havia até insinuações de que eles poderiam achar uma pista sobre os pais de William, a Lâmina, além do tesouro do Príncipe Tubarão: pilhas de ouro e joias tão grandes que estavam sendo procuradas por Lady Jaye desde que ela ouvira a história pela primeira vez, quando era uma criança órfã e mendiga. Lembrar quão incrível aquilo seria fazia com que todas as novas ideias a respeito de brincar doessem como uma bolha no calcanhar friccionando a parte de trás do sapato.

Boneca de OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora