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O lado de dentro da casa de Poppy era sempre uma bagunça. Roupas jogadas, copos meio vazios e equipamentos esportivos cobriam a maioria das superfícies. Seus pais pareciam ter desistido da casa por volta da mesma época em que desistiram de tentar impor regras sobre o jantar, a hora de dormir e as brigas... Mais ou menos no aniversário de oito anos de Poppy, quando um de seus irmãos jogou o bolo com as velas ainda acesas na irmã mais velha. Agora, não havia mais festa de aniversário. Não havia nem refeições em família, só caixas de macarrão com queijo, latas de ravióli e de sardinha na despensa, para que as crianças pudessem se alimentar muito antes de seus pais chegarem do trabalho e caíram, exaustos, na cama.

Zach tinha inveja sempre que pensava naquele tipo de liberdade, e Alice amava aquilo mais do que ele. Ela passava lá quantas noites a avó deixasse. Os pais de Poppy não pareciam notar, o que funcionava perfeitamente bem.

Zach abriu a porta de tela e entrou.

Alice estava parada em frente à empoeirada, velha e trancada cristaleira no canto da sala de estar dos Bell, espiando todas as coisas em que a mãe de Poppy proibira a filha, sob ameaça de morte e de possível desmembramento, de tocar. Era ali que a boneca que eles chamavam de Grande Rainha de todos os reinos estava presa, ao lado de um vaso de vidro soprado da Savers que revelou ser uma-coisa-qualquer antiga. A Rainha tinha sido comprada pela mãe de Poppy em um bazar de garagem, e ela insistia que, um dia iria ao programa de TV Antiques Roadshow, venderiaa boneca e se mudaria com toda família para o Taiti.

A Rainha era uma boneca de porcelana de ossos com cachos dourados num tom de palha e a pele branca como papel. Seus olhos estavam fechados, os cílios eram uma franja loira clara contra suad bochechas. Ela usava um vestido comprido, o tecido fino pontilhado com algo preto que podia ser mofo. Zach não conseguia se lembrar de quando, exatamente, eles haviam decidido que a boneca era a Grande Rainha, mas todos sentiam que ela os observava, mesmo os seus olhos estando fechados, e que a irmã de Poppy tinha pavor dela.

Aparentemente, certa vez, Poppy acordara no meio da noite e encontrara a irmã -com quem dividia o quarto- sentada na cama.

-Se ela sair do armário, virá nos pegar -a irmã disse, pálida, antes de voltar a afundar a cabeça no travesseiro.

Nenhum dos chamados vindos do outro lado do quarto pareceu agitá-la. Poppy se virou de um lado para o outro, sem conseguir dormir pelo resto da noite. Porém, de manhã, sua irmã lhe disse que não se lembrava de ter dito nada, que devia ter sido um pesadelo e que a mãe delas tinha mesmo que se livrar daquela boneca.

Depois disso, para evitar que ficassem com medo, Zach, Poppy e Alice colocaram a boneca na brincadeira deles.

De acordo com a lenda que criaram, a Rainha governava tudo de sua linda torre de vidro. Ela tinha o poder de colocar sua marca em qualquer um que desobedecesse suas ordens. Quando isso acontecia, nada daria certo com a pessoa até ela voltar a criar nas graças da Rainha. A pessoa seria condenada por crimes que não cometeu. Seus amigos e sua família adoeceriam e morreriam. Navios afundariam, tempestades cairiam. No entanto, a única coisa que a Rainha não conseguiria fazer era escapar da cristaleira.

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Helllooo 😘

Esse capítulo foi curtinho, mas o próximo vai se maior, Ok!

*Cristaleira: é um móvel de madeira com portas de vidro onde se costuma guardar objetos delicados como louças e cristais.*

Voltei com mais um capítulo hehe
Até a próximaaaa, bye bye😚❤

Boneca de OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora