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  Era um ferro-velho especializado em metais a cerca de 1,5km das casas deles. O dono comprava de tudo, desde peças de carros até latas, e, embora ninguém soubesse o que ele fazia com aquilo, além de deixar tudo enferrujar em enormes montes na sua propriedade, eles produziam uma visão impressionante. As varas listradas, as peças de máquinas e as baterias brilhavam como montanhas de prata, e, por isso, eles começaram a chamar o lugar de Morros Prateados. Tinham inventado uma história completa, inclusive com anões e trolls e uma boneca princesa que Poppy havia pintado de dourado.

  Zach correu atrás de Poppy e Alice, o vento atravessando seu pijama fino, o que o fazia sentir frio ao mesmo tempo que meio ridículo. Após alguns minutos, Poppy tirou uma lanterna do casaco e a acendeu. Ela iluminava apenas um pedaço estreito de grama e terra e, assim, Poppy tinha de balançá-la para a frente e para trás para poder ver melhor.

  Havia a mesma antiga cerca alta de alambrado de que Zach se lembrava. E havia o mesmo velho barracão abandonado no qual eles se encontraram alguns verões antes e que usaram como sede até a avó de Alice descobrir e dar um sermão sobre tétano e como isso podia levar a algo chamado trismo. Zach não tinha certeza se trismo era algo real, mas ele pensava nisso sempre que sentia o maxilar duro.

  Nunca mais foram até lá desde então; ou, pelo menos, ele não foi mais. Zach perguntava-se se Poppy e Alice iam escondidas para o barracão sem ele. Elas pareciam cheias de segredos naquela noite. O único segredo que ele tinha era um que preferiria não ter.

  Alice abriu a velha porta com um rangido e entrou. Ele a seguiu, nervoso.

  Poppy sentou-se no chão cheio de lascas, de pernas cruzadas, acomodando a lanterna em seus tênis, o que fez com iluminasse o próprio rosto. Depois, tirou a mochila de um dos ombros, puxando-a até o colo.

— E então, vão me contar o que está acontecendo? — Zach perguntou, sentando-se em frente a Poppy.

  As tábuas de madeira estavam frias, e ele as sentia por baixo da sua calça de pijama. Zach se remexeu, na tentativa de ficar confortável.

Ela abriu o zíper da mochila.

— Você vai rir — ela disse. — Mas não deveria.

  Ele olhou para Alice, encostada numa parede do barracão.

— Poppy viu um fantasma — ela falou.

  Ele tentou conter o arrepio. Fantasmas não são assunto para um barracão abandonado à noite.

— Vocês só estão tentando me assustar. Isso é algum tipo de bobagem...

  Poppy tirou cuidadosamente a boneca de porcelana de osso da mochila. Zach puxou a respiração e ficou em silêncio. Os olhos pretos entorpecidos da Rainha estavam abertos, encarando-o. Ele sempre achou que ela tinha uma aparência assustadora, mas, no feixe de luz refletida da lanterna, ela apresentava um aspecto demoníaco.

  Poppy tocou no rosto da boneca. Era de um branco puro, como um prato do jantar. O cabelo, seco como cerdas de escova, estava trançado no que se podia dizer ser o seu couro cabeludo; suas bochechas e lábios estavam pintados com um rosa fraco. Quando ela foi virada com as costas para baixo, seus olhos permaneceram abertos em vez de se fecharem como deveriam, como se ela ainda estivesse observando Zach. Havia um rasgo no ombro do seu vestido fino e frágil. Ele não havia envelhecido tão bem quanto o restante da boneca... E o passeio na mochila de Poppy provavelmente não havia ajudado muito.
— A Rainha — Zach falou com a voz instável, forçando um tom de zombaria para camuflar seu medo crescente. — E daí? Vocês me trouxeram até aqui para ver uma boneca?
— Apenas escute — Alice falou. — Tente não ser o grande idiota no qual se transformou.
Alice nunca falava coisas assim, especialmente não para ele. Aquilo doeu.
— Sei que você disse que não nos veria no outro dia, mas eu pensei que talvez você fosse de qualquer maneira — Poppy contou, falando rápido. — E eu não podia simplesmente ir ao armário e tirar a Rainha se a mamãe estivesse lá. Por isso, tirei a boneca naquela noite, quando brigamos, e mexi em algumas dasservando Zach. Havia um rasgo no ombro do seu vestido fino e frágil. Ele não havia envelhecido tão bem quanto o restante da boneca... E o passeio na mochila de Poppy provavelmente não havia ajudado muito.

Boneca de OssosOnde histórias criam vida. Descubra agora