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Gabriel Stein

23 de abril.

— Ei! - ouvi alguém me chamar bem longe.

— Stein! - ouvi de novo.

Passei as mãos em meu rosto, tentando focar meus pensamentos.

— Gabriel! - ouvi o grito e então uma almofada me acertou.

— Ai! ― reclamei, mesmo que não tivesse doído ― Oi. Que foi?

— O que está acontecendo com você, cara? - Mário perguntou.

— Nada. Eu tô bem. - falei e franzi o cenho.

Eu estava bem.

Tô ótimo, complementei em pensamento.

— Certeza? - Christopher perguntou enfatizando a pergunta de Mário.

Larguei a grafite na mesa.

— O que foi? - perguntei, eles ficaram calados me olhando de forma estranha — Ficarem calados não resolve nada.

Mário e Christopher se encararam.

— Eles estão te achando estranho porque você realmente está. - Fábio falou entrando no meu quarto.

Em sua mão tinha uma tigela com açaí, ele se sentou em minha cama e continuou comendo tranquilamente.

Arqueei minhas sobrancelhas e me encostei minhas costas na costa da cadeira, mostrando que estava os ouvindo atentamente.

Fábio olhou para os outros dois, que olharam para ele.

— Falem - ele incentivou e continuou saboreando o açaí.

Mário e Christopher abriram e fecharam a boca varias vezes sem saber como começar a falar.

— Arrgh! - Fábio falou ainda de boca cheia. — Meu parceiro é o seguinte. – ele engoliu qualquer resquício de açaí que tivesse em sua boca — Você está estranho pra caralho tem alguns dias. Você pode não perceber, mas é o que está acontecendo.

— Mas em que sentido? ― perguntei fazendo pouco caso, e eles perceberam. ― Eu não estou interagindo com vocês? Não estamos resolvendo as provas antigas? Estamos vivendo a nossa rotina. – falei simples. Estava tudo normal.

— Mas você não esta vivendo a sua. - Mário falou baixo, enquanto olhava para suas mãos — Não mais.

O modo como ele frisou a última palavra me fez prender levemente a respiração por alguns segundos.

Respirei fundo, me ajeitando na cadeira e voltei a pegar a grafite.

— Não sei do que vocês estão falando. – disse tentando finalizar o assunto.

Mas eu sabia.

E eu tentava evitar a forma como aquele comentário mexia comigo.

— Certeza? - O tom de Fábio saiu meio sarcástico, meio brincalhão.

Olhei para ele de canto de olho.

— Fala de uma vez. - pedi. — Ficar tentando insinuar não é legal.

Eu gostava das coisas ditas, não subentendidas.

Fábio colocou uma colher cheia na boca, mostrando que nada sairia dali. Olhei para os outros dois, mas eles também fingiram que não era com eles.

— Perderam a coragem? - perguntei em um tom de riso, sem ao menos achar engraçado a situação.

Ela podia ser tudo, menos engraçada.

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