uma noite

Ciúmes

Esfregando o pulso recém livre da tala onde passou duas semanas seguidas confinado, Noah olha para a região enquanto abre e fecha sua mão confirmando que realmente ela está boa.

Um sorriso satisfeito repuxa seus lábios e ele segue em direção a quadra da escola. É terça-feira e as duas primeiras aulas são na quadra, onde os alunos são obrigados a fazerem exercícios físicos.

O moreno empurra os portões de ferro da quadra e entra esgueirando-se pela arquibancada onde deixa sua mochila com as demais e tira o moletom que usava.

Fred o professor de educação física grita algumas instruções para os alunos e olha de esguelha para Noah que se aproxima com as mãos nos bolsos da calça.

- Beauchamp, como está a torção?

- Fui liberado pelo médico hoje, professor.

- Uhm, nada se esforço então, não quero que trinque o osso novamente. Vá na sala dos materiais e busque a bola de basquete que está na prateleira.

O professor entrega nas mãos de Noah seu molho de chaves onde está também o apito que o mesmo usa para chamar a atenção dos alunos, ou indicar o fim de suas aulas.

Andando tranquilamente até a saída da quadra de esportes o moreno empurra a porta de aço que dá acesso ao corredor e vira a esquerda, surpreso com o que vê ele para e anda para trás ocultando sua presença das duas pessoas que estão a alguns metros de distância.

São Sina e JP. 

Sina está encostada na parede e parece estranhamente tensa enquanto aperta a manga da blusa de moletom vermelha que está usando. Já JP murmura algo baixo demais para que Noah consiga ouvir na distância que está, porém ele considera que não deva ser nada agradável pela forma que Sina olha para seus pés.

- Olha... JP. - Ela diz em voz alta, após raspar a garganta. - Eu fico feliz que tenha percebido que estava errado em fazer bullying comigo e de ter me batido, mas se espera que eu vá lhe perdoar e agir como se nada tivesse acontecido... Está enganado.

- Não, Sininho! - Ele bufa revoltado e dá dois passos para frente pressionando a garota contra a parede. - Você não me entendeu, eu estou pedindo desculpas e me abrindo com você. Eu fui um babaca porque queria chamar sua atenção de todo o jeito, eu sempre fui apaixonado por você.

Sina que olhava para seus próprios pés ergue a cabeça incrédula com os olhos bem arregalados para o rapaz alto e levemente musculoso a sua frente.

Ele sorri e nervosamente empurra a franja de seu cabelo para trás, longe de sua testa.

- O quê...

- Eu sempre queria ter sua atenção, mas não sabia como, então...

- Eu não acredito nisso! - A Deinert  exclama cheia de incredulidade e balança a cabeça em negação.

Irritado pela confissão que ouviu Noah dá as costas e caminha em passos duros até o banheiro masculino.

Ele encara seu reflexo desgrenhado no espelho manchado e respira fundo em golfadas tentando amenizar a pressão esquisita que sente no peito.

Ciúme.

- Para seu babaca, ela não tem nada com você. - Falando sozinho Noah lava o rosto na água fria e grunhe furioso por achar ridículo JP  destratar Sina esse tempo todo sendo que a amava. - Porra!

Para evitar que sua raiva transpasse mais do que o necessário Noah vira o corpo e sem pensar com clareza desfere um soco na parede de azulejo frio, desejando que aquilo fosse o rosto de JP. A dor aguda sobe por seus dedos e atravessa o pulso que acabara de ser tirado da tala, Noah morde o lábio inferior engolindo o grito até sentir o gosto ferroso de seu sangue e saí do banheiro passando por Sina sem nem ao menos olhar para trás.