O som alto dos saltos finos estalando contra o mármore frio é o único barulho ecoando pelo hall de entrada do prédio, Any acena educadamente para a recepcionista e aberta o botão do elevador, verifica pela enésima vez se os documentos necessários estão em sua maleta e entra no cubículo de paredes opacas.
Seu celular toca alto e ela pesca o aparelho de dentro da pasta, a tela acesa mostra a nova notificação, uma mensagem de Josh.
Hesitante ela abre o aplicativo e imediatamente a mensagem se abre.
" Então é assim, me deixou da mesma forma que meus pais?" - 17/07.
" Gaby, por favor, fala comigo." - 18/07.
" Me desculpe pelo que fizemos." - 19/07.
"Gaby, não me ignore, eu não sei como lidar com isso." - 20/07.
" Eu só quero minha amiga de volta." - 21/07.
Incerta sobre o que fazer Any bloqueia a tela do aparelho e caminha devagar para fora do elevador, perdida em pensamentos.
Duas semanas inteiras já se passara e durante esse tempo Josh não deixou de tentar se reaproximar nem um dia sequer, sempre mandando mensagens desculpando-se pelo o ocorrido.
Idiota.
Ela revira os olhos, com o pensamento de que ele está se desculpando por uma coisa que não deveria, afinal ela estava completamente sóbria e ciente do que estavam fazendo, quer dizer, poderia acabar com o que estava acontecendo a qualquer momento, mas não quis, decidiu levar até o final.
Ela não se arrepende de ter ido para a cama com ele, porém não faria novamente, sua amizade com Josh comprometeu-se ao fim no instante em que se beijaram.
- Bom dia senhorita. - Os pensamentos de Any são interrompidos pela voz de sua secretária que sorri educadamente.
- Bom dia, Sabina - Ela responde com um sorriso - Tenho algum compromisso pelas próximas horas?
- Não, apenas alguns documentos que precisam da sua assinatura. Eles já estão sobre sua mesa.
- Certo, obrigada.
Em passos rápidos ela empurra a porta de madeira com detalhes e caminha até sua mesa, deixa sua pasta alí e aproveita para abrir as persianas, o sol da manhã inunda o escritório e Any cerra os olhos acostumando-se a claridade que faz seus olhos doerem.
De volta á sua mesa ela empurra a cadeira de couro preto, com estofado macio e se senta para verificar os primeiros documentos que precisam de sua autorização.
As letras miúdas e escuras embaçam sua visão e Any fecha os olhos tentando se concentrar nos papéis a sua frente, entretanto a imagem de Josh teima em aparecer em sua frente.
- Pare de me desconcentrar - Ela resmunga entredentes e bagunça seu cabelo, que, até então, estava perfeitamente arrumado.
Com muita dificuldade a morena consegue ler o documento e assiná-lo, um gemido desanimado escapa de sua garganta assim que a mesma encara a pilha consideravelmente grande a sua frente.
O dia seria longo.
× × ×
Cansada Any bate a porta do apartamento e apóia a mão na parede para tirar seus sapatos, um suspiro de satisfação é solto assim que seus pés doloridos encontram o piso frio e ela joga a pasta sobre o sofá.
Tranquilamente caminha até a cozinha e abre a geladeira apenas para fitar seu conteúdo e notar que não há nada que queira comer alí dentro, o toque do celular atraí sua atenção e ela corre para pegar o aparelho sobre o sofá antes de a ligação caía na caixa postal.
- Alô? - Questionou ao levar o aparelho até a orelha.
- Any, como está?
- Papai - Ela fecha os olhos e se senta no sofá - , eu estou bem, e você e minhas irmãs?
- Estamos bem. - Diogo responde calmo - Como foi na empresa?
- Normal - Ela dá de ombros - E o Josh... Como ele está?
- Como acha que ele deveria estar, filha? - Diogo resmunga - Eu não sei o que aconteceu entre vocês e, sinceramente, não sei se quero saber. Mas você precisa conversar com ele Gabrielly , Joshua está estranho, não é ele mesmo.
O coração de Any se aperta e ela morde a parte interna da bochecha negando-se a falar alguma coisa que revele o que aconteceu entre ela e o amigo.
- Any , ele chorou. Eu não via aquele menino chorar há anos, e ele simplesmente começou a chorar e dizia que você o deixou.
- Papai, por favor, vamos mudar de assunto. - Any sussurra - Eu... Só quero ficar um tempo sozinha.
- Tudo bem, boa noite querida.
- Boa noite papai.
Any desliga a ligação e encara o celular em suas mãos pelo que pareceu ser horas, em seu íntimo uma guerra era travada, seu orgulho que seria pisoteado se ela ligasse para ele e seu coração que se quebrava cada vez mais com a idéia de perdê-lo.
- Eu não sei o que fazer. - Ela sussurra e agarra o estofado do sofá, fincando suas unhas no tecido macio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
uma noite
General FictionO que nós fizemos Josh? Isto foi errado, melhores amigos não trocam carícias, não se beijam, melhores amigos não transam e nem trocam juras de amor. Cometemos um erro que, infelizmente, danificou nossa cumplicidade. Não posso ficar e fingir que nad...