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Encarava a parede cinza do meu quarto há algum tempo como se fosse uma obra de arte tão rara da qual meus olhos nunca mais contemplariam. Parecia que havia tido algum tipo de surto psicótico, mas só era a doce água da realidade que veio como um banho gelado.
Estava perdida, perdida no sentido literal e no figurado, não fazia ideia de quem era, minha identidade era totalmente desconhecida.
Áster ou Brianna?! Como referiria a mim mesma depois dali.
Após a conversa com Aidan tive um ataque de ansiedade, o que levou a um desmaio. Fui levada para a enfermaria, que tomou medidas do estilo passar álcool em um pano para que eu pudesse acordar, bem prático, assim que acordei fiquei como um bicho assustado que queria se esconder, não me culpo por isso, tudo estava um caos, eu estava um caos.
—Bria? — escuto uma voz me chamar fazendo com que desperte do transe do qual estava submersa. Olho em direção à porta vendo meus melhores amigos. —Soubemos do seu pai rei, rico e bonitão! — diz Alan encostado na porta com aquele sorriso zombeteiro de todos os dias tendo ao seu lado Hope. Eles caminharam em minha direção abraçando meu corpo ainda sentado sobre a cama, seus braços me rodearam com todo aquele calor fraterno. Precisava tanto daquilo que meu coração doeu.
—Estamos felizes por você! Agora finalmente pode ter uma família. —Hope se pronunciou depois de alguns segundos de silêncio.
—Uma família rica! —Exclamou Alan com toda sua euforia. —Nem acredito que estamos diante de uma princesa.
—Esse não é o mais importante. Na verdade, como as coisas serão daqui em diante? — perguntou confusa. Queria tanto poder responder aquela pergunta, eu não fazia ideia do que aconteceria.
—Eu não sei, é tudo muito confuso, como se eu não soubesse quem sou. Aidan veio me jogou uma bomba e parece querer que eu decida minha vida em uma semana, eu não consigo organizar nada em um ano, imagina decidir meu futuro rapidamente. Passei anos me convencendo da rejeição e indiferença que meus pais tiveram por mim, como se um bebê não fosse absolutamente nada, sem importância alguma. Agora tudo parece diferente. — respiro fundo tentando eliminar aquela angustia que era gritante. —Vocês sabem que sempre tive um medo tremendo de mudanças.
—Brianna, você sempre será a Bria que amamos conhecer, mas você precisa entender que vai precisar sair da linha do comodismo, mudanças são difíceis, porém tão necessárias. Mudar significa um passo no escuro do qual tem que arriscar, se for em falso vira lição, mas se for de um degrau, a subida é certa. Meu bem, estaremos aqui para tudo aquilo que seu coração aflito nos chamar, só que para e pensa no quanto essa mudança pode ser boa, é a Europa amiga! — seus olhos castanhos atentos se focaram aos meus. —Sei como se sente e entendo, tudo está um caos dentro dessa cabecinha, mas precisará ser rápida para decidir o que quer.
—Mas tenha em mente que estaremos aqui para qualquer coisa, sejam elas boas ou ruins. —recebo um abraço mais apertado eternizando aquele momento.
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Algumas horas se passaram até eles irem embora, a realidade ainda era assustadora e duvidosa, mas sentia-me feliz por ter com quem contar.
Nunca viajei para fora do país, ainda mais do continente!
Como seria Áster? Tão belo quanto o nome?
Não poderia estar levando nada disso em consideração, em Nova Iorque tenho minha futura faculdade de Artes, qualquer estudante sonharia com isso, eu sonho com isso desde sempre, porém sempre quis descobrir quem sou de verdade, minhas origens. O problema era não saber o que encontraria em outro país.
Suspiro fundo, não uma, mais varias vezes.
Dois toques na porta e uma sensação de que ninguém consegue compreender que quero ficar sozinha. Preciso pensar com meu próprio cérebro e para isso a única companhia da qual preciso é a minha mesma. Logo a figura cansada de Rick surge fazendo com que todo aquele medo retorne.
Tinha tanto medo de fazer escolhas erradas e acabar perdendo o pouco que tinha.
Corro em direção ao seu abraço que tanto me aqueceu durante todos esses anos, ele era a figura mais próxima que tinha de um pai.
—Bria. —chama meu apelido cuidadosamente enquanto acaricia meus cabelos. —Eu sei querida. Tudo parece difícil agora, mas você tem que olhar por outra perspectiva. Um homem que passou dezoito incessantes anos procurando a filha perdida de modo algum parece querer seu mal.
—Eu sei, só que o que vai acontecer lá? Como será daqui em diante? —questiono me afastando para encará-lo. —Vou ter que usar aquelas roupas ridículas? Nem de vestido gosto! — zombo arrancando-lhe uma risada.
—Oh, acho que um vestido bufante não é tão ridículo como diz.
—Ainda têm mais coisa, como minha faculdade e você, não quero abrir mão de nada disso.
—Entendo seu impasse pela faculdade, mas por mim? Não quero que corte suas asas com medo de deixar algo para trás, qualquer decisão que tomar lhe fazendo feliz me fará também. — colocou suas mãos sobre meu ombro sorrindo alegremente. — Você merece ser feliz nem que para isso vá morar no outro lado do mundo.
—Isso foi dramático até para você. — brinquei mantendo o sorriso no rosto, na verdade qualquer uma das escolhas me levaria para longe do bom senhor que cuidou de mim nos últimos três anos e droga eu realmente sentiria sua falta.
A todo instante alguém me dizia algo diferente e minha mente trabalhava o dobro, como se fosse explodir. Rick me disse mais algumas coisas antes de ir dormir e eu voltei a minha posição inicial, tentando assimilar tudo que descobri em um dia.
Bjs!!!
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A Herdeira : Perdida
RomanceÉ fácil conviver com a vida do jeito que esta, na realidade é bem cômodo, mas a prova de que não estamos preparados para mudanças é a forma como lidamos com elas. Brianna Davis sabia exatamente o que era lidar com as dificuldades, o que não sabia er...