C a p í t u l o 12

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Encarava meu reflexo no espelho totalmente assustada com que olhava, minha própria imagem, só que de vestido. Uma vez e nunca havia usado aquele traje que particularmente deixava-me desconfortável. O vestido mais discreto que tinha no guarda-roupa foi costurado especificamente para mim, seu cumprimento ia até dois palmos abaixo do joelho, mas por incrível que pareça não me fazia parecer uma vovó, ao contrário ficou até bonito, a cor verde esmeralda ressaltava meus cabelos castanhos que estavam presos em uma liga, as mangas eram longas e não possuía nenhum decote chamativo, apenas a pequena gola que estava dobrada ressaltando meu colar.

Não estar usando meus jeans tirava toda a confiança que sequer existia em mim, nada tiraria o conforto que uma boa calça trazia.

Alisei o vestido com as mãos suspirando fundo para o café da manhã, o primeiro que faria na companhia de toda a família real e ainda mais com convidados. Zander praticamente já estava acostumado com a minha maneira de comer e principalmente com toda a confusão que fazia para tantos talheres.

Scarlet fez uma maquiagem simples usando um pouco de pó compacto, rímel e blush, apenas para esconder meu rosto inchado pelo choro. Três toques na porta anunciavam que precisava descer e eu não queria, odiava todas aquelas formalidades exageradas, porém odiava mais ainda o fato de ter sido enganada, foi como se tivessem brincado com a minha vontade de desbravar Áster, o que era engraçado já que atualmente não tinha mais nenhuma.

Todos estavam de pé esperando que o rei chegasse. O banquete gigantesco já havia sido colocado sobre a mesa maior ainda. Todos fizeram uma reverencia quando entrei, o que pegou-me desprevenida, não sabia o que fazer, então olhei de relance para o rapaz de cabelos negros que reverenciou duas vezes, logo entendi que deveria fazer reverencia também e assim fiz, mas sem sorriso. Caminhei para o que presumia ser meu lugar e fiquei de pé ao lado da cadeira com um estufado vermelho. Analisei a família do conde melhor de onde estava, ele aparentava ser mais novo que Aidan e com certeza mais calvo também, seu bigode era claro assim como o pouco cabelo que havia em sua cabeça. Sua esposa estava de pé ao seu lado com uma carranca pior que a minha, seu semblante estava fechado e seus trajes escuros se assemelhavam com os que usávamos para um enterro. Aparentemente ela não queria estar ali.

Um pigarreio baixo chama minha atenção para o príncipe que estava a na cadeira a minha frente, ele gesticula com os lábios "Não faça isso". Oh, eu estava quebrando uma regra da etiqueta, encarando as pessoas com um olhar analista demais, porém o ignorei e continuei observando os visitantes.

Na minha direção havia um garotinho comendo as melecas do nariz como se fosse algo cotidiano, a sua direita estava uma garota que parecia ser mais nova que eu, seus cabelos eram de um tom claro e sua postura estava reta com um rosto inexpressivo, ela aparentava conforto em seu longo vestido azul ciano.

Após alguns minutos o rei finalmente apareceu permitindo que todos pudessem sentar.

Olhei diretamente para todos os talheres de prata sobre a mesa e quase suspirei e voz alta. Tirei o anel que prendia o guardanapo o colocando em cima da mesa, bem ao lado do prato e o guardanapo sob minhas pernas, aquilo parecia mais simples quando não tinha tantos telespectadores.

Serviram uma salada de frutas em uma taça, as cores das frutas eram vibrantes, deixando-me curiosa pelo sabor, voltei a olhar para os talheres e quase tiro a sorte para qual colher usar.

—E como está às coisas, George? Alguma novidade na família? — perguntou o rei tomando seu café.

—Oh, Majestade! Minha filha Elije participará do grande concerto de Áster. — respondeu George orgulhoso da filha que eu presumia ser a garota ao lado do menino meleca. George continuou aumentando o ego da filha enquanto eu não sabia com qual colher comer, até que olho na direção de Zander e ele ergue discretamente uma colher pequena. Faço o mesmo evitando sorrir em agradecimento, aquilo era o mínimo que ele podia fazer. Continuei tentando comer com classe o que parecia cada vez mais impossível. As frutas tinham um gosto de torta, quando levava uma colherada para a boca sentia que elas se desmanchavam, aquilo era bom! — E a senhorita Decksheimer? Faz algum tipo de atividade passatempo? —o conde fez a pergunta em voz alta olhando diretamente para mim, assim como todos da mesa. Dei uma leve engasgada antes de responder.

A Herdeira : PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora