Capítulo 3

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Luara

Nunca vi tanta gente junta na vida. Armaria, parece um formigueiro humano!

Passo as mãos suadas na minha saia, olhando para o mundaréu de pessoas andando pelas plataformas da Rodoviária Tietê, enquanto espero o motorista achar minha mala no bagageiro do ônibus. Abraço minha bolsa, como Joana me ensinou. Ela disse que preciso deixar minhas coisas sempre perto do meu corpo e à minha vista porque São Paulo não é uma cidade segura como Riachinho do Meio.

Não estou preocupada com meu dinheiro, já que coloquei todo ele dentro das minhas meias, que estão dentro das minhas botas. O problema mesmo é o celular que ganhei de presente de aniversário da dona Marilza. O troço deve ter custado caro dimais, apesar da minha amiga não ter aceitado me falar o preço.

O motorista, enfim, localiza minha mala rosa de rodinhas. Ando o mais rápido que consigo para pegá-la e acabo trombando numa mulher que está segurando um bebê. Peço desculpa três vezes, mas a senhora me olha de um jeito tão feio que eu me assusto.

Faça essa cara não, moça. Cara feia pra mim é fome!

Penso em dizer isso para ela, só que não posso porque o motorista também está fazendo uma cara torta pela minha demora em pegar a mala.

— 'Brigada, moço — agradeço, sorrindo, e puxo a mala para perto de mim. — sabe me dizer onde tem um banheiro?

Ele franze mais as sobrancelhas, fazendo uma careta apavorante. Por que toda essa gente tem jeito de que não come há dias? Todo mundo em Riachinho do Meio sempre tem um sorriso para dar. Mesmo se passamos por tristeza grande, damos um jeito de botar um sorriso no rosto.

— O banheiro fica perto das lojas.

— Moço, eu sou nova por aqui. Não sei onde ficam essas lojas. podia...

O mal-educado se afasta e me deixa falando sozinha!

GendeDeus, a Joana tinha me falado que a gente daqui é mais fechada, mas não pensava que tivesse tanto fiote de cruzcredo! Espero ter mais sorte com a família da Suzane.

Falando nela, vou ter que segurar o xixi. Lembrei que não posso sair dessa plataforma enquanto a sobrinha da Jô não chegar. Conversei com a mulher pelo celular três horas atrás, um cadim de tempo antes do ônibus pegar a estrada. Ela confirmou que me encontraria aqui, ao meio-dia, no horário que estava previsto para meu desembarque.

Tiro meu celular rapidim da bolsa e olho as horas. Faltam cinco minutos para o meio-dia. Vai ver que é por isso que a Suzane ainda não chegou.

Coloco uma mecha de cabelos atrás da orelha, abraço minha bolsa com uma das mãos e, com a outra, agarro minha mala. Não conheço pessoalmente minha patroa. Quero dizer, eu conheço, mas não me lembro de quando ela foi para Riachinho do Meio. Eu tinha cinco anos, a Jô me disse. Eu sei que a dona Suzane (acho melhor começar a tratá-la formalmente a partir de agora, por uma questão de respeito) tem trinta anos, é gerente de uma joalheria muito chique de um shopping, é casada faz três anos com um homem chamado André, que trabalha numa empresa de tecnologia, e eles têm uma filhinha de sete meses — a Laís, de quem cuidarei. A Joana também me contou que o casal e a bebezinha moram num apartamento muito espaçoso, no bairro do Tatuapé. E ela me garantiu que são pessoas bastante amigáveis.

Não vejo a hora de conhecer os três! Fui contratada como babá, mas espero me tornar amiga de toda família Álvares dos Santos.

Um moço esbarra no meu ombro. Eu me encolho. Doeu dimais da conta! Mas ele nem pede desculpa. Volta a cabeça na minha direção e me olha dos pés à cabeça até meu rosto esquentar.

Guarde-me em seus braços [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora