Capítulo 2

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Tales

A história da minha vida pode ser definida em quatro palavras.

Um amontoado de merda.

Não preciso abrir os olhos para constatar que fiz outra merda. Sou um caso perdido. O caralho de um caso sem solução!

Não adianta chorar o leite derramado, Tales!

Inspiro fundo, giro a cabeça no meu travesseiro e, finalmente, tomo coragem de ver o estrago que provoquei.

Então é isso mesmo...

Eu trepei com a minha cunhada!

Não tem como ficar pior.

— Joaquim.

Pelo jeito tem...

— Nicole! Acorda. — Sacudo-a, sem gentileza, assim que ela sussurra o nome do meu irmão. Estou descontando a frustração na garota quando deveria estar me punindo por ser um babaca.

Ela abre seus olhos verdes devagar. Percebo sua dificuldade em focar meu rosto. Só não sei se é por causa do sono ou da garrafa de vodca que ingerimos ontem à noite, sentados no tapete da sala do meu apartamento. E talvez sua cabeça esteja a ponto de explodir do jeito que está a minha.

— Tales... — Nicole murmura. — O que aconteceu? Onde estamos?

Agora vem a pior parte: contar que me aproveitei de sua bebedeira para transarmos. Mas sejamos justos: ela também aproveitou que eu tinha enchido o rabo de álcool para completar a missão na qual vinha se empenhando há meses — se enfiar na minha cama.

Sento-me rápido e me arrependo em seguida. Porra, o quarto está dando um giro de 360° ao meu redor! Corro as mãos pelos cabelos, bagunçando-os, mas isso não alivia um por cento da minha tensão. Retorno meu olhar para Nicole, cujo rosto está contorcido por confusão e dor, suponho.

— Devo interpretar com essas perguntas que você não se lembra de nada depois das muitas doses de vodca que tomamos após chegarmos do bar? – Arqueio uma sobrancelha.

Penso em acrescentar que eu, malditamente, me lembro de tudo, já que minha tolerância ao álcool é infinita. Ao álcool e às drogas ilícitas. Não que eu use drogas ilícitas... AGORA você não as usa, Tales, não é preciso bancar o bom moço para você mesmo. Estou limpo há cinco anos, isso que importa!

— Bem... — Nicole começa, desviando os olhos dos meus. — Eu me lembro de ir até seu bar num Uber, então fiquei sentada ao balcão esperando você e a Fernanda encerrarem o expediente. Depois você me trouxe pra cá na sua moto. Terminamos a madrugada conversando no chão da sua sala.

Muito convenientes as lembranças dela...

A mulher se desmanchou em lágrimas no balcão do bar de rock que eu e minha melhor amiga abrimos há quatro anos, me deixando sem ação, pensei que fosse se ajoelhar aos meus pés para que eu não a abandonasse sozinha em seu apartamento, chegou a dizer que iria se matar se isso acontecesse, aí, como tenho plena noção de que sou o culpado por seu choro convulsivo, eu acabei trazendo-a até aqui. Ela pegou uma garrafa de vodca na minha cozinha, entornou um gole, passou para mim, eu quebrei a regra de não beber fora dos fins de semana e bebi tanto quanto minha cunhada. No final, após outra crise de choro e um discurso emocionado sobre meu irmão gêmeo, ela disse, pela milésima vez nos últimos quase seis meses, que eu era a cara do Joaquim e que me amava como o amava. Começamos a nos beijar e tiramos nossas roupas. O resto...

Guarde-me em seus braços [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora