5 - Arrogância e Atrito

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Quando a diretora anunciou dois novos alunos para nossa classe de terceiro ano, eles já não eram mais novidade para ninguém. Era aula de inglês, aquelas que você fica mexendo no celular enquanto a professora repete a mesma matéria sobre o verto "to be" quinhentas mil e seiscentas vezes quando bateram na porta.

— Com licença Beth — disse a diretora, que também se chamava Betty, mas com y (Irônico, não?). Quem quer que estivesse a acompanhando, e era nítido por sua expressão que ela não estava sozinha, havia ficado no corredor. O sorriso dela anunciando era trágico e desinteressado — Os novos alunos pra classe... — e então ela suspirou e pareceu refletir por uns instantes antes de continuar — Aliás, o novo aluno e a aluna nem tão nova assim: Felipe Daniel e Emma Regina — afirmou. Todos se entreolharam, surpresos, Jan não podia demonstrar mais desapontamento ao descobrir que Caroline não seria nossa colega de turma, como ele tanto vinha criando expectativas. A maioria, todavia, comentava da pataquada de Emma de repetir o ano (Ignorando todos os fatores externos que a fizeram tomar essa iniciativa).

Daniel entrou, apático e alheio a tudo, com seus cachinhos negros meio molhados, como se acabasse de sair do banho, e um sorriso forçado numa face desinteressada, entediada, mas preenchida de beleza em cada detalhe com exaustão. Percebi que não podia deixar de tirar os olhos dele e, por alguns instantes, desejei quase que desesperadamente que ele se sentasse na minha frente... mas ele percorreu o caminho contrário e sentou atrás de Jan, na fileira ao lado, sem falar com ninguém. Então, recobrei toda raiva e todo desinteresse que vinha cultivando por ele e por seu rostinho indelicado e orgulhoso, ignorando por completo sua presença — como ele parecia fazer tão magistralmente comigo. À Emma sobrou a cadeira na minha frente, que ela tomou numa caminhada da derrota recheada de comentários inoportunos e venenosos dos outros alunos, incitados em especial por Janaína — longe de mim incitar rivalidade feminina, mas não é de hoje que essas duas não se bicam.

Com um cumprimento seco e meio desapontado, ela desabou na cadeira e pegou o celular para contemplar todos os amigos que perdeu pelo tempo e pela distância. Enquanto isso, a aura de tristeza extrema e melancolia de Jan era palpável. Quase senti pena dele.

Em determinado momento, entre a aula de química e de português, senti alguém cutucando meu ombro — ah, e eu detestava ser tocado assim, do nada. Todos sabiam... Menos ele: o novato indelicado, orgulhoso e irritante. Ah, meu deus, minha história se tornou um maldito clichê! Você me paga, Jane Austen.

O olhar de Dan ainda era impassível e entediado, mas levemente curioso. Sussurrando, ele apontou para Jan e questionou para mim o que havia se passado com ele. Irritado pelo contato físico, sorri forçosamente, deixando bem claro meu desconforto, ignorei sua pergunta e fingi me focar em alguma outra coisa na minha mesa.

E ele me cutucou de novo.

— Não ouviu o que eu disse?

Estava inclinado a ignorar novamente, mas antes que pudesse o fazer senti que ele ameaçou me cutucar novamente. Revirei os olhos e me virei para ele, tentando transparecer complemente minha irritação.

— Você poderia só parar de fazer isso? — ordenei. Dan me olhou de cima a baixo, com um olhar de desafio adorável e golpeável. Oh, e eu poderia ter dado um soco naquela carinha ali mesmo, Jane, não fosse o fato de que não sou adepto de brigas.

— Então me responda, por favor.

Revirei os olhos e encarei Jan, num estado catatônico e "zumbítico", olhando o além e pensando sabe-se lá em que. Nesse meio tempo Emma também se virou e se juntou aos debates. Estávamos, então, nós três diante da figura de Jan, absorto em um mundo cinza e melancólico, coberto de melodrama e apagado da sua existência, sem nada dizer, apenas a observar.

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⏰ Última atualização: Mar 06, 2021 ⏰

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