Era inevitável, sabia que ia caçar com Demetri. —Suspirei para controlar os nervos. Sabia que iriamos caçar só não sabia como isso funcionaria, não queria acompanhar uma caçada a humanos e aposto que ele não acompanharia uma caçada a animais. Passei a mão no cabelo o ajeitando, peguei a capa e já ia saindo do quarto quando me bati com Demetri na entrada
— Boa noite, Cullen – Ele estava encostado na parede em frente a porta com um sorriso sarcástico no rosto, usava uma calça jeans preta, coturnos e uma camisa de mangas compridas, o cabelo estava bagunçado como sempre, olhei para ele sem entender, iriamos caçar ou iriamos a uma festa?
— Achei que iriamos caçar essa noite – Ele riu, caminhou até parar na frente da porta
— Nós vamos – ele olhou para mim de cima a baixo falando calmamente. — A diferença é que você não precisa impressionar as suas presas e nesse estado se quisesse não conseguiria. Não precisa ir de capa para caçar, no máximo se for durante o dia, ou se precisar sair para alguma missão, de resto você pode se vestir adequadamente. – Revirei os olhos, caminhei até a cama deixando a capa lá. Sempre preferir caçar de forma confortável, estava usando calças jeans e uma blusa de manga branca por baixo de um casaco de lã preto.
—Já te falei que você não decide o que eu uso. – Falei passando por ele e fechando a porta – E então como vai ser? Não quero ter que acompanhar você e esperar que você mate sei lá quantas pessoas. Creio que você também não quer ir comigo.
— Não temos escolhas. Vou com você até a floresta, depois você volta para cá e Alec pode ficar com você até eu voltar. Creio que essa seja a ultima vez que eu tenha que ficar com você ao invés de me alimentar com os outros. – Ele falou correndo ao meu lado. Essa era a primeira vez que ia caçar com alguém que não fosse da minha família, não estava me sentindo confortável com isso. Hoje faz 10 meses que ele se foi, para muitos isso é muito tempo, mas para mim que passei décadas ao lado dele parece que fazem poucos dias. Meu coração estava despedaçado, a imortalidade te livra das dores físicas, mas as dores emocionais eram muito piores de sentir. dez meses e as palavras ditas aquela noite ainda ecoavam na minha cabeça, dez meses e tudo o que eu senti quando ele me deixou ainda estavam aqui queimando no meu peito. Eu tentava a todo instante bloquear qualquer visão das decisões de Jasper, de certo modo acho que ele também estava tentando bloquear, não tomava decisões, e a ultima que tive foi hoje a tarde; ele estava indo para Galveston, com tantos outros lugares no mundo jamais pensei que ele iria justamente para lá. Será que havia voltado para aquele passado horrível que ele dizia tanto odiar? Eu esperava que não. Que no fundo ainda existisse nele um pouco do meu Jasper de anos atrás.
—Pare. – Demetri segurou firme meu braço me impedindo de continuar a correr, estava tão imersa em pensamentos que não notei que já tínhamos chegado. Olhei ao redor, a Itália não era um país com um grande numero de florestas, principalmente naquela região, o lugar em que estávamos era repleto de pinheiros, samambaias, grandes carvalhos e narcisos, era lindo. O som dos rouxinóis ecoava pela mata num som muito agradável de se ouvir, fechei os olhos para escutar melhor, fazia muito tempo que não ia a floresta apenas apreciar os sons e cheiros.
— Perdão incomodar sua conversa com os pássaros, branca de neve; mas se não se importar vou agradecer se você adiantar
— Falei que não precisava vim comigo, depois que caçar estarei livre da sua má companhia. – Demetri riu. Respirei fundo filtrando os diversos cheiros da floresta, senti o cheiro de um lince, ele estava a poucos metros daqui, ouvi seus batimentos cardíacos e pelo ritmo estava caçando também, não pude evitar de sorrir duas presas em um ataque era muito satisfatório, corri silenciosamente até ele sem fazer barulho, parei atrás de um pinheiro. Eu estava certa, o lince se preparava para atacar um veado adulto que estava bebendo agua num riacho próximo, iria esperar o lince fazer o ataque primeiro; a frustração de perder a presa deixaria o animal muito irritado aumentando sua pulsação cardíaca. Ouvi Demetri pular para um galho alto de um carvalho ao meu lado, eu o mataria se tivesse assustado o animal. Respirei fundo e o lince pulou para atacar, não esperei e pulei ao encontro dele o agarrando pela mandíbula, era um animal adulto pude supor, deveria ter uns 90 cm em pé, não tive muito tempo para analisar. O batimento cardíaco do animal estava alto, a artéria do pescoço pulsava forte chamando totalmente minha atenção. O mordi deixando com que o sangue descesse pela minha garganta aliviando a queimação que agora estava forte. Depois de um tempo o corpo do animal estava seco, corri de volta ao lago onde o veado por sorte ainda estava, agarrei o pescoço do animal e o mordi, o gosto não era tão bom quanto o primeiro, mas seria o suficiente por uns dois dias. Soltei o corpo do animal a beira do lago e passei a mão na água para limpa—las a queimação na garganta havia diminuído significativamente, o que já fazia eu me senti melhor. Demetri pulou da arvore que estava, me assustando
— Agora a branca de neve pode voltar a conversar com os rouxinóis – Ele estava com um sorriso divertido no rosto. Ele estava sempre fazendo isso para mim, era irritante
—Estou te avisando, eu ainda vou dar um murro na sua cara e acabar com esse sorrisinho idiota. – Ele ergueu os braços em sinal de rendição ainda rindo
— Agora vamos, você já está alimentada, mas eu não. E então começamos a correr de volta a cidade. O caminho foi mais rápido dessa vez, e logo já estávamos dentro de Volterra, nos limites da cidade tínhamos que andar como humanos normais, já que a cidade estava cheia de turistas. No caminho observei quando homens e mulheres olhavam pra Demetri que sorria para eles sempre que cruzavam olhares. Revirei os olhos
— Agora entendi porque toda a produção
— É muito mais divertido, não acha? Os humanos são fascinados por nós desde muito tempo atrás então é fácil conseguir vários deles. Tão idiotas – Nem estava prestando atenção no que ele falava. A noite em Volterra era adorável, a lua iluminava cada canto da cidade, as pessoas estavam animadas, riam e cantavam em um pub próximo a nós. O castelo estava próximo, mas eu não queria ter que voltar agora, não dormir podia ser bem tedioso quando se está sozinha.
— Você pode ir agora, vou ficar por aqui e aproveitar mais a cidade – Demetri me olhou incrédulo
—Não, você não vai. Você vai para o castelo Alice, por favor, não atrapalhe minha caçada de novo.
— Eu já sou bem grandinha, não preciso que você fique me seguindo para todo lado, está bem? Da um tempo, estou cansada de ficar olhando para sua cara. – Falei entrando no pub a minha frente, por um instante achei que ele me seguiria e me levaria a força para o castelo. Mas vi que ele não faria isso. Ele finalmente decidiu me deixar em paz. O lugar era um encanto, todo feito em madeira, bem rústico, haviam várias mesas distribuídas pelo local. A maior parte delas ocupadas por grupos de jovens. Luzes caíam em cascatas a cima do bar, onde o barman preparava as bebidas, me aproximei do local e me surpreendi; era um vampiro. Sentei num banco de frente para ele. Ele parou o que estava fazendo e veio me atender
— Creio que o que você deseja eu não posso preparar – Falou ele se aproximando de mim, sorrindo gentilmente. – É nova na cidade ou está só de passagem?
—Sou a nova integrante dos Volturis. – Não precisávamos falar alto para sermos ouvidos, apesar da música alta conseguíamos nos entender muito bem.
— Você não parece uma recém—criada – Ele falou empurrando um drinque para mim — Sabe como é, não é muito comum uma pessoa sentar num bar e não pedir nada. Peguei o drinque por educação, enjoando com o cheiro forte do álcool.
— Não sou. Decidi recentemente me juntar a eles – Falei despreocupada passando o dedo sobre a borda do copo.
— Fácil assim? Isso é surpreendente.
— Fácil assim. – Respondi encerrando o assunto.
—Vamos para casa. —Demetri colocou a mão no meu ombro
—Cara, você não desiste mesmo hein? – Olhei por cima do ombro o fitando – já caçou? Foi rápido.
— Se você não tivesse vindo para cá, eu poderia ter demorado horas. – Ele falou apertando a ponte do nariz.
— Por que você tem que ficar andando atrás de mim? – perguntei
— Aro não confia plenamente em suas decisões, mesmo ele tendo visto tudo que queria ver ele ainda acha que você pode nos trair a qualquer momento. Poderia ser qualquer um, mas devido ao meu dom se eu estiver com você posso detectar mais rápido se você fugir. – Ele deu de ombros e sentou no banco ao meu lado.
—Por que esse ódio todo por mim? — Perguntei olhando para ele. Ele respirou fundo.
— Você quer mesmo ficar aqui? Odeio esse tipo de lugar, o único contato humano que preciso é o sangue deles.
— Você não vai desviar das minhas perguntas, Demetri — Levantei, deixando o dinheiro do drinque no balcão e comecei a caminhar para saída sendo seguida por Demetri. Saímos do pub. O movimento pelas ruas já havia diminuindo bastante restando apenas jovens voltando para suas casas depois de uma longa noite. Pude notar que Demetri havia caçado, seus olhos agora eram puro carmim intenso. Estávamos caminhando lado a lado pela cidade em direção ao castelo. Mas ele não falava nada, parecia está imerso em pensamento. Resolvi intervir
—Por que esse ódio todo por mim? – perguntei novamente parando e olhando para ele. Ele continuou andando e parou mais a frente virando para mim, sorriu, mas o sorriso não chegava aos olhos
— Eu não odeio você; mas também não morro de amores. – Demetri se aproximou. – Os Cullens fazem o que bem entendem a décadas, vocês estão sempre achando brechas e se aproveitando do fato que Aro deseja alguns de vocês. Quando Edward veio até aqui pedindo que a gente o matasse Aro ficou indignado, não aceitava que um dom como o dele fosse desperdiçado. Então Edward resolveu fazer aquela cena. Francamente, um vampiro de mais de um século fazendo uma coisa dessas – Pensei em intervir, ele não tinha o direito de falar da minha família assim, mas Demetri continuou falando – Foi então que ela apareceu; Isabella. Uma humana Alice, uma humana. Mesmo que Edward não tivesse feito uma cena, ele havia deixado um humano saber sobre nós e as leis são claras, não é mesmo? – sabia que era uma pergunta retórica, mas não entendia onde ele queria chegar com tudo aquilo. Um breve sorriso ecoou nos seus lábios, mas logo depois ele estava sério novamente – Mas não. Aro ficou encantado por Isabella, simplesmente porque ela era a única que ele não conseguiu ler os pensamentos. Mas ela ainda era humana e isso continuava sendo um problema. Os Volturis não dão uma segunda chance. E aí você interferiu afirmou que vocês a transformariam, e então vocês estavam livres, a humana viva e Aro apenas com uma promessa de que ela seria transformada. – O corpo dele tremia pela raiva, os punhos cerrados e os olhos fechados.
— Mas ela foi transformada, a promessa foi cumprida. Não estou entendendo onde você quer chegar com tudo isso. – Falei calmamente, não precisava o irritar mais do que ele já estava irritado.
— Celine – Ele suspirou. Eu ainda não entendia onde ele queria chegar com tudo isso. Ele caminhou e sentou num banco próximo, colocou a cabeça entre as mãos, me aproximei e sentei ao lado dele na outra ponta do banco mantendo uma distância considerável.
— Logo após eu ter me juntado aos Volturis fui enviado a procura de um vampiro na Polônia, mas ele era um vampiro experiente estava sempre em uma direção para me despistar. Até que um dia durante uma caçada eu a vi; A principio me aproximei com o único objetivo de beber seu sangue, tinha um cheiro doce muito doce para mim. Mas então ela me olhou, e eu me sentir vivo, ela não sentia medo de mim como os outros humanos. Então eu me apaixonei. Passei a visitá-la com mais frequência durante os intervalos da missão. Quando a missão acabou eu vinha visitar Celine de tempos em tempos, cada momento que eu passava com ela era único e incrível para mim. O sangue dela não era o mais atrativo para mim, era o seu coração. Mas obviamente não dá para esconder nada dos Volturis, então por um descuido Aro descobriu tudo. — Ele respirou fundo, os olhos fixos em um ponto aleatório da fonte a nossa frente. Sem perceber eu me aproximei dele e estávamos sentados lado a lado agora, eu ouvia tudo com atenção tentando imaginar por tudo que ele passara – Eu tentei intervir, argumentei que eu poderia transformá-la. Tentei fazer Aro ver que ela não representaria um perigo para nós. Mas ele estava irredutível. A harmonia naquela época era muito delicada, ele tinha medo que qualquer coisa pudesse tirar o nosso mérito perante aos outros vampiros. Então ele não escutou meus argumentos, ela não parecia ter algum dom que fosse útil para ele. Então ele a matou. – Ele fez uma pausa e olhou para mim, se vampiros pudessem chorar ele estaria chorando, eu conhecia aquela expressão, eu não precisava do dom de Jasper para saber o quanto aquilo o machucava – Eu nem tive a chance de me despedir dela. Depois disso Chelsea me desligou daquele laço afetivo com Celine e eu consegui seguir, mas depois daquele dia que Aro os perdoo tudo voltou a minha mente. Você entende Alice? O meu ódio não é sobre você ou sobre Edward e a humana dele. É sobre eles terem tido a chance de viver aquele amor mesmo sem lealdade nenhuma a Aro e quanto a mim fui condenado a existir com a culpa. Eu poderia ter impedido, mas fui fraco. – Esperei mais alguns minutos achando que ele ia falar mais alguma coisa, mas ele não falou, permaneceu em seus próprios pensamentos, pude notar que a aurora se aproximava, logo o sol nasceria, tinha perdido a noção do tempo.
— Demetri, não se torture por isso, nós não temos o poder de controlar as decisões das pessoas a nossa volta. Cada escolha feita tem uma mudança significativa no seu futuro, e eu sei bem disso. Você só tem duas escolhas, ou seguir em frente e tentar esquecer ou deixar que isso te mate. Aro só deixou Bella viver porque tinha interesse em seu possível dom, assim como só deixou a mim e a Edward vivos por isso. Sabemos que quando ele não precisar mais de nós ele irá nos descartar. O que eu vou te dizer é até meio irônico devido a minha situação, mas não devemos nos prender ao passado. Nós não podemos mudá-lo , mas o nosso futuro – Peguei a mão dele e segurei com as minhas— O nosso futuro só depende das escolhas que fazemos hoje. Não deixe com que a lembrança de Celine te destrua. —Ele olhou para mim e respirou fundo. Eu não sabia até que ponto a nossa conversa de hoje tinha melhorado a nossa situação, mas só em entender um pouco pela dor que ele passou já era um alivio para mim. Demetri levantou do banco me assustando.
— O Sol já vai nascer, é melhor voltarmos para o castelo. – Levantei e comecei a andar ao seu lado.
—Demetri. – Parei de andar e o chamei, ele virou-se para mim. Sem pensar duas vezes fique na ponta dos pés e o abracei. O senti meio relutante no início, mas depois ele retribuiu ao abraço, apertando-me, pude sentir toda a dor que ele carregava em seu coração. Me soltei dele e voltamos a andar sem trocarmos palavras até a entrada do castelo. Demetri quebrou o silencio.
—Então branca de neve, não vai me contar o motivo de ter vindo até aqui? – Meu corpo congelou. Será que eu estava pronta para contar o que aconteceu comigo para mais alguém?
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Cullens ou Volturis - Alice e Demetri Volturi (Hiato)
FanfictionUm dia Jasper decide que vai embora, e Alice não pode viver mais com os Cullens, pois a dor da perda de seu companheiro a consome. Mesmo sabendo que Jasper está vivo Alice vai a Volterra determinada a esquecer o amor de sua vida. Porém, convivendo c...