CAPÍTULO 6 - GIOVANNI

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No capítulo anterior: Oton foi enviado para os subúrbios de uma cidade irlandesa, onde Edmund, um vampiro solitário e decadente, foi contratado para instruí-lo. Ed ensinou Oton sobre todos os detalhes de sua nova vida, do perigo da luz solar até a necessidade de beber sangue. Mesmo com a sensibilidade emocional de Oton no caminho, Edmund conseguiu fazer dele um vampiro auto suficiente. Por fim, Oton seguiu ao encontro de sua família em busca do motivo de sua transformação.

O grande navio a vapor partiu durante a madrugada, de Dublin em direção ao leste

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O grande navio a vapor partiu durante a madrugada, de Dublin em direção ao leste. No coração da embarcação, no salão mais protegido e luxuoso, Augusto estava sentado em sua poltrona, no lugar habitual, ao lado da lareira. As chamas ferozes e o crepitar da madeira o amedrontavam. O fogo nunca deixou de assustá-lo, e por isso costumava fixar os olhos nas labaredas com forçosa serenidade. Era a vigilância. Era a certeza de que não seria pego de surpresa. Quando se sentia caprichoso, adicionava um charuto à provação auto infligida. Não fumava, apenas deixava o cigarro queimar como se fosse um incenso, a brasa cada vez mais perto das mãos enluvadas. Aquela era uma das noites nas quais o cheiro de fumo envolvia o luxuoso salão de Augusto, impregnando os quadros e tapeçarias com o aroma de sua coragem.

— Mestre, aqui está o Sr. Oton. — O copeiro anunciou após abrir a porta lateral. Em seguida, com uma pequena reverência, deixou a sala.

Augusto desviou o olhar da lareira para apreciar sua nova cria: entrava na sala um homem desengonçado, claramente aterrorizado com o calor do fogo. Grande e sólido, mas as qualidades físicas acabavam por aí. Além de feio, cheio de cicatrizes, as mãos pareciam ter trabalhado com enxada, pá e martelo durante toda a vida.

Assim que cruzaram o olhar, o homem adotou uma expressão de desamparo que Augusto não via há muito. Em resposta, o cavalheiro se levantou da poltrona e ofereceu a Oton um abraço gentil.

— Sobrinho! — Exclamou em um polonês enferrujado. — Enfim, nos reencontramos. Meu nome é Augusto, sou seu tio.

Augusto era um senhor de aparência respeitável. Baixo, gordo, cabelos e bigodes negros muito bem aparados e um rosto curto, quadrado, emoldurado por costeletas. Tolerou o aperto desesperado de Oton por alguns minutos antes de afastá-lo: o grandão não chorava, mas as mãos grosseiras seguravam os ombros de Augusto como um filhote que se agarra à mãe.

— Basta. Sente-se.

— Tio Augusto. Sinto que já te conheço há muito tempo.

— Me conheceu há uns meses. Sou o homem daquela noite, quem te matou e quem te trouxe de volta à vida. Na verdade, ainda sou eu quem decido se merece continuar neste mundo, Oton. Portanto, escute com atenção o que tenho para lhe falar.

Oton fez sinal afirmativo com a cabeça, sem demonstrar sinais de resistência. Ao que tudo indicava, Edmund havia feito um bom trabalho de domesticação.

— Em primeiro lugar, — Continuou Augusto, sorrindo. — quero relembrar o que te disse na noite de sua morte: tudo isso está sendo feito em seu benefício, criança. Estou feliz de recebê-lo na família.

O Testamento de OtonOnde histórias criam vida. Descubra agora