CAPÍTULO 4 - ABRAÇO

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No capítulo anterior: Diante da insistência dos gritos de socorro vindos da caldeira, Oton decidiu investigar sua origem. Na manhã seguinte a usina estava manutenção. Quando Oton entrou para verificar se precisavam de sua ajuda, encontrou o padre local esculpindo inscrições sagradas no painel de controle da usina. Tomado pelo desespero, Oton atacou o padre e destruiu o painel de controle antes de resgatar a voz nas caldeiras. Enquanto fugia da usina prestes a explodir, Oton percebeu o que havia resgatado: um coração. 

AVISO: Esse capítulo contém descrições que podem ser pesadas para algumas pessoas. Se você é sensível a sangue ou teve experiências com aborto, eu peço para que considere pular para o próximo. Mas não se preocupe, você não vai perder o fio da história: no comecinho do capítulo seguinte, vou revisar rapidamente o que acontece aqui. Obrigada e boa leitura!

Oton estava escondido nos arredores da fábrica, o coração em mãos

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Oton estava escondido nos arredores da fábrica, o coração em mãos. Pela primeira vez escutou os gritos enquanto estava fora da usina e percebeu que o coração não emitia som de verdade. Dentro da usina o lamento se confundia com o ambiente, mas o que Oton realmente ouvia eram dos próprios pensamentos, a voz que sempre falava em sua cabeça, só que reproduzindo um conteúdo fora do seu controle.

"ME PROTEJA! ESTOU COM TANTO MEDO! NÃO ME ABANDONE!"

Fosse o que fosse, aquela criatura estava viva e era responsável pelos pensamentos intrusivos.

"ESTOU COM MEDO! ESTOU COM MEDO!"

Lágrimas rolaram pelo rosto de Oton. Foi como quando abraçou Haskel pela primeira vez. Já haviam se passado quase vinte anos e Oton tinha esquecido do momento em que segurou o filho recém nascido, de como compartilhou seu desespero, de como as mãos de repente se tornaram muito grandes, muito ásperas. O coraçãozinho era tão frágil que aquelas mãos seriam o suficiente para esmagá-lo, também, o suficiente para protegê-lo.

Uma grande explosão na fábrica arrancou Oton do transe. Como consequência do desastre na zona de comando, um incêndio começou. Com tanto carvão lá dentro, era uma questão de tempo até a construção inteira ser consumida. Oton correu bosque adentro e tentou colocar ordem nos próprios pensamentos.

Em primeiro lugar, o painel de controle. Era montado em cima de inscrições esculpidas em pedra maciça, sem nenhum contato com fios ou engrenagens.

Em segundo lugar, o padre. O que ele estava fazendo lá dentro? Parando para pensar, a fábrica foi fechada para manutenção logo depois que Oton confessou que ouvia vozes na caldeira.

Por fim, os pedidos de socorro. O coração tinha implorado para que ele destruísse a base de pedra, como se fosse mesmo um ser inteligente e sensível, não um bicho irracional.

Tudo indicava para uma conclusão: padre Wos tinha ajudado a construir a usina, sabia sobre o coração na caldeira e desejava mantê-lo lá, sofrendo. Essa ideia causava arrepios em Oton, pois era difícil acreditar que Tom Axel, o bom e sábio dono da fábrica, estava envolvido. Ao mesmo tempo, era impossível que Tom desconhecesse o funcionamento da própria empresa. Axel era um cientista renomado, envolvido na criação de máquinas e inovações tecnológicas. Ele não apenas sabia de tudo, provavelmente tinha projetado a atrocidade.

O Testamento de OtonOnde histórias criam vida. Descubra agora