CAPÍTULO 3 - RESGATE

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No capítulo anterior: Após ter sido promovido, Oton passou a  trabalhar na zona de comando da usina. Além do calor insuportável, ele começa a ouvir vozes pedindo socorro de dentro da caldeira. 

 

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Kornik, ainda em 1869

Oton acordou sentado entre os aprendizes no andar de baixo da usina, o ar abafado de um fole sendo soprado contra o seu rosto.

— Não aguentou o calor, né. — comentou Barti, o homem que costumava ser seu superior antes da promoção — nem se preocupe que isso é normal. Volta e meia alguém desmaia lá em cima. O pessoal disse pra você ficar por aqui hoje e só voltar amanhã cedo.

— Falaram algo pro Axel?

— Claro que não. Como se alguém fosse incomodar o patrão com uma besteira dessas. Fica tranquilo, é bem normal passal mal, ainda mais sendo a primeira vez que sobe lá.

Oton concordou, mas não deixou de perceber o tom de experiência nas palavras do velho Barti.

— O senhor já subiu?

— Umas duas ou três vezes, quando alguém faltou. Ninguém pode ficar sozinho lá. Se desmaia, igual você, é capaz de morrer.

Oton hesitou um pouco antes de fazer a próxima pergunta:

— Sabe se tem algum caminho pra dentro da caldeira?

— Está maluco?! Pra quê entrar na caldeira?

— Só estava pensando. Um dia ela precisou ser acesa por algum lado né.

Barti ficou intrigado com o assunto. Durante o restante do dia, enquanto trabalhavam, formularam várias teorias sobre como o aparato foi instalado.

— Já sei! — Barti se exasperou em um momento de iluminação. — Os dutos de resfriamento que dão no lago! Por lá que saíram depois de colocar e acender a caldeira.

Oton concordou, a informação lhe dando uma nova ideia: uma criança mergulhava no lago e acabou sendo puxada junto com a água do resfriamento. Por algum milagre, encontrou um canto para respirar e os gritos por socorro ecoaram por todos os canos até chegar na sala de comando. Era a única explicação, ou então estava ficando louco mesmo.

Por via das dúvidas, decidiu caminhar até o lago depois do trabalho. Mesmo não sendo muito longe, ele só lembrava de ter visitado o lugar antes de construírem a fábrica, quando ainda era um adolescente.

Mal chegou nas margens geladas e viu que estava completamente enganado. Os canos de resfriamento desembocavam no lago e eram grandes o suficiente para um adulto caminhar dentro, mas estavam bloqueados por grades de ferro que não davam espaço nem pra peixe passar, muito menos uma criança.

O Testamento de OtonOnde histórias criam vida. Descubra agora