Capítulo 6 - A Defesa é o Melhor Ataque - parte 2

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Ainda antes do amanhecer, Chaves já estava junto com alguns soldados bem próximo à beira do rio. Não tinha conseguido dormir quase nada nas horas que tinha livre e, quando pregou o olho, estava tão cansado que nem teve sonhos. Agora podiam observar a movimentação do outro lado: os inimigos estavam se movendo como se realmente fossem atacar em breve. Isso assustava Chaves, pois se eles realmente atacassem, o seu exército não estava preparado.

Paty estava com ele. Alguns soldados dela se juntaram a alguns de Chaves. Ele não lembrava mais o nome de nenhum deles, que tinham sido apresentados naquela noite, mas sabia que eram os que o acompanhavam na maioria das missões. Estavam ali pra criar credibilidade de que iriam fazer um ataque a qualquer momento, e acreditavam que os inimigos do outro lado estavam acreditando seriamente nisso. Eles não sabiam que Chaves estava sem memória, e ver o líder da revolução ao lado de uma de suas principais estrategistas indicava que o movimento era sério.

Atrás de Chaves, Paty e seus soldados principais, encontrava-se grande parte de moradores da região. Pessoas que nunca haviam pegado em uma arma, agora seguravam algumas que em sua maioria nem funcionavam. Outros traziam armas que eles mesmos fizeram em casa, adaptando enxadas, foices, martelos e pás. Mas nenhum deles estaria preparado para segurar um ataque de verdade, caso ele viesse.

Os primeiros raios de sol surgiram no horizonte. Apesar de assustado e com medo de que os inimigos não caíssem na contra-armadilha que tinham preparado, Chaves quis participar mais ativamente da liderança. Ele daria o sinal no momento em que os soldados deveriam atacar e isso aumentaria a credibilidade de um ataque aos olhos do inimigo. Mesmo assim, por estar sem todas as suas memórias, ainda era sempre auxiliado por conselhos de Paty.

— Veja só como eles se movem — disse ela agachada ao seu lado. — O tempo inteiro olhando para trás, se certificando de que o caminho para a fuga deles esteja livre. Está claro que não querem avançar.

Chaves concordou. Sentia-se mais confiante depois de perceber esse detalhe que Paty lhe mostrara. Estava na hora de atacar.

— Vamos pra cima deles! — Ele disse.

— É assim que eu gosto! — Disse Paty puxando seu rifle modificado à sua frente.

Chaves se levantou e soprou em um chifre que usava como trombeta de guerra. Soprou por quase meio minuto e então no meio do silêncio que se fez após o fim daquele som retumbante, ele gritou:

— Vamos acabar com eles!

Uma gritaria se formou por trás dele e as pessoas começaram a correr. Ele sabia que existia muitas crianças no meio daquelas pessoas, crianças que não queria que participassem, mas seus pais e as próprias crianças se sentiam completas lutando pela revolução. Esse era o sonho de cada uma delas se realizando. Só esperava que os inimigos não percebessem a quantidade de pessoas baixas no meio do exército que ia para cima deles.

Na frente iam correndo Chaves, Paty e seus principais soldados. Quando se aproximaram dos soldados de Quico que estavam ao lado da ponte, esses congelaram. Ficaram completamente parados, esperando alguma coisa. Chaves levantou seu barril-canhão e atirou a esmo na direção do inimigo. Assim que o som explodiu à sua frente ele caiu de costas no chão.

Ele não esperava aquele impacto. O coice que a arma deu durante o tiro fez com que voltasse para trás por pelo menos dois passos e perdesse um pouco o ar que tinha nos pulmões quando bateu de costas no chão. Ainda tentando entender o que tinha acontecido teve seu braço agarrado por uma mulher. Era um dos seus fiéis soldados apresentados na noite anterior. Ela sorriu, mas aparentava urgência na voz.

— Não é hora de descansar, chefe!

Ela puxou seu braço e ele se levantou em um pulo. Saiu correndo novamente em direção ao inimigo. Não sabia se o barulho daquele tiro tinha encoberto o som dos outros disparos, ou se tinha lhe deixado surdo, pois não ouviu mais nenhum tiro. Apesar disso ele viu cerca de cinco inimigos que jaziam no chão, assim que conseguiu chegar à frente do grupo que avançava. Os outros inimigos se apinhavam sobre a ponte tentando atravessar ao outro lado.

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