Capítulo 10 - 7.1

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Quando Paty e o restante do exército chegou na área da batalha já não eram mais necessários os combatentes, mas sim uma quantidade absurda de ajuda para recolher os corpos.

Dois pontos foram fundamentais para a vitória dos revolucionários naquela batalha. Os homens de Calvillo, apesar de muito melhor equipados, nunca tinham lutado naquele terreno. Foram surpreendidos pela nuvem de poeira quando a astuta Elizabeth decidiu lançar as bombas e bloquear a visão daqueles soldados. Ela provavelmente tinha reparado que muitos usavam os óculos de aviador, que devem ter sido emprestados do exército de Quico, mas não esperavam o quão desesperador era se lançar em meio a tiro cruzado mesmo sem aquele soco de poeira vir diretamente em seus olhos. Mas tinham vários que não o usavam, talvez por não acreditarem que uma pequena poeira iria irritar tanto seus globos oculares, ou também por Quico não ter óculos suficientes para ceder a todos. A atitude de Elizabeth tinha sido fundamental para segurar os primeiros momentos daquela batalha que era completamente desproporcional.

— Muito inteligente, Elizabeth — Chaves cochichou vendo o corpo da colega estirado no chão com um braço e um dos lados do corpo atingidos por uma grande quantidade de tiros. Devem ter sido disparados em uma única rajada de uma metralhadora de soldado desesperado.

Agora, que já haviam tirado o capacete e o óculos de seu rosto, ele conseguiu reconhecer a mulher. Era uma antiga colega de classe, quando estudava com Girafales. Era a mais inteligente da turma e ele a admirava, e até mesmo invejava a capacidade que ela tinha, chegando uma vez a comprar uma estrelinha de boa aluna que o professor havia lhe dado.

O outro ponto fundamental para aquele resultado menos catastrófico do que Chaves poderia ter previsto foi a chegada de Chiquinha em meio a nuvem de poeira com mais uma leva de soldados. A grande maioria já entrou na batalha com armas de curto alcance, buscando acabar com os inimigos corpo a corpo e evitando matar vários dos seus aliados com balas perdidas, ao contrário do que o inimigo estava fazendo.

Mesmo com esse reforço e a vitória na batalha, a quantidade de perdas foi grande para eles. Eram milhares de pessoas estiradas pelo chão, mergulhadas em seu próprio sangue e eventualmente com sangue de outras pessoas sobre elas. A maioria mortos. Os que não estavam, eram avaliados se ainda poderiam ter condições de viver caso fossem levados ao hospital que estaria operando acima da capacidade. Se não fossem percebidas possibilidades de recuperação, eles eram enviados ao outro mundo com um tiro ou um golpe certeiro, que aliviaria seu sofrimento para sempre. Os inimigos que ainda resmungavam presos a um fiapo de vida, mas não conseguiram fugir, eram todos mortos.

As covas começaram a ser cavadas ali mesmo. Até o fim do dia desejavam deixar todos enterrados com uma cruz sobre a cova. Aquela imagem vista pelo outro lado do rio iria levantar calafrios sempre que os inimigos a observassem, e eles lembrariam do que tinham feito.

Chaves e Chiquinha foram embora. Principalmente ele não estava acostumado a ver aquela matança e toda aquela gente destruída. Caminhava derrubando lágrimas no chão poeirento.

— O que você acha de conversar com alguém sobre isso? — Perguntou Chiquinha. — O professor Girafales sempre conseguiu lhe acalmar quando algo te tirava do sério.

Chaves nem se preocupou em enxugar as lágrimas que manchavam seu rosto misturadas a poeira.

— Era o que eu estava pensando...

— Estava? — Ela se mostrou surpresa.

— Eu sonhei com a bruxa essa noite. Não acredito que tenha controlado nada, e talvez seja só meu inconsciente lançando as coisas que conversamos ontem com o professor, mas...

Ele ficou quieto. Chiquinha estava ansiosa para entender o que havia acontecido.

— Mas eu tenho certeza que aquela bruxa tem alguma ligação com tudo isso. Jaiminho não tem mais aparecido, nem para me avisar sobre os ataques do inimigo. E vi que ela o mantinha preso, assim como eu fiquei. É como se ela tivesse prendido minha alma.

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