“Thor, acorde”, acordei com a voz rouca de Loki me chamando. Virei-me para me deparar com sua figura descabelada, suas orbes acesas me fitando como dois faróis. “Estou com fome, levante.”
“Você não tem mãos?” Resmunguei sonolento e tentei voltar a fechar os olhos, mas Loki me fez abri-los com sua magia. Soltei um som de desaprovação, me levantando enfim. “Odeio esses seus truques.”
Ele me sorriu argamandel. “Eu sei.”
Fomos à cozinha e preparei um café da manhã tradicionalmente midgardiano que Tony havia me ensinado: ovos e bacon. Servi-nos em silêncio e pude perceber a pequena careta que Loki fez enquanto tocava a comida com um garfo, como se testando se de fato ela era comestível.
Revirei os olhos e sentei-me de frente para ele. “Prove antes de julgar, irmão.”
A careta não deixou seu rosto. “Acho que me arrependi de dizer que estava com fome.” Loki murmurou ainda incerto, mas decidiu dar uma chance à iguaria por fim.
Observei calado sua expressão mudar de nojo para puro deleite uma vez que o garfo adentrou seus lábios rosados. Pigarreei discretamente e voltei minha atenção aos seus olhos, encarando-o com ar de superioridade. “Refutado, como sempre.”
“Calado, seu tolo.”
Ri com suas palavras e terminamos a refeição num clima agradável. Loki ofereceu-se para lavar a louça e deixei que ele o fizesse enquanto eu a enxugava. Era fim de semana e os assuntos do reino não eram tão urgentes hoje, portanto meu dia estava livre para ficar com meu irmão. Uma vez que arrumamos a cozinha, retornamos ao meu quarto em silêncio.
Loki estava entretido com uma das minhas prateleiras ao lado da cama, tateando os poucos livros que restaram da biblioteca do palácio distraidamente. Pude ver certa tristeza em suas feições enquanto analisava os materiais, talvez fora pego de surpresa pela recordação de que Asgard não existia mais de fato. Porém ele não verbalizou aqueles sentimentos, como de praxe. “Agora você lê?” Foi tudo que deixou seus lábios, num misto de incredulidade e atrevimento.
“Sou o rei, afinal”, respondo e caminho para ficar ao seu lado.
Loki me olha de sobrancelhas erguidas, ainda com o mesmo semblante provocador. Ele cruza seus braços sobre o peito e meu olhar pousa em sua boca quando nela surge um sorriso mínimo, como se o fato de eu me esforçar para ser um bom rei o divertisse deveras. “Ora, por essa eu de fato não esperava.” Loki conclui, seus olhos claros ainda brilhando em divertimento — e, quem sabe, orgulho.
