[0|2] sobre quem

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[0|2]

sobre quem

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Um mal que, indiscutivelmente, assola o ser humano é colocar expectativas demais em futuros ainda incertos.

Eu tenho certeza de que você já comemorou antecipadamente por algo ainda indefinido, mesmo que apenas em sua mente. Já projetou o desenrolar contestável de alguma situação, brindando pelo seu sucesso.

Estou apenas afirmando alguns fatos aprendidos por meio de experiências próprias; e por mais que isso possa parecer um julgamento sobre o otimismo alheio, não é, de verdade. Eu sou otimista às vezes, acho que você percebeu depois de eu transparecer uma certa confiança na minha efetivação que não aconteceu, então não estou julgando. Afinal, ser otimista é torcer para dar certo, não agir como se já tivesse dado.

Falo isso porque, justamente, eu sofri com a consequência da minha antecipação de sucesso.

Eu sei que disse a Namjoon que se eu não fosse efetivado, apenas arrumaria outro emprego e vida que segue. Mas não cheguei a realmente projetar um futuro no qual eu não seria efetivado. O meu mal foi colocar muita expectativa e imaginar que já estava tudo encaminhado. E, por colocar muita expectativa, a altura da queda foi bem maior do que o previsto. Ou melhor, do que o não previsto.

Meu apartamento não foi o primeiro lugar para o qual eu fui depois de saber que aquela seria minha última semana de trabalho.

Eu segui direto para a loja de conveniência na esquina da minha rua e comprei cinco potes de macarrão instantâneo e um pack de seis garrafas de cerveja.

Segui rumo a minha casa, ainda pensando no Soju que tinha guardado no armário em cima da pia e na série que eu assistiria até desmaiar de sono.

Não teria aula na manhã seguinte, e agradecia pelos dois últimos semestres serem quase que inteiramente voltados ao trabalho de graduação. Porque, naquela noite, madrugada e manhã do dia seguinte, eu me declararia morto, e só voltaria para o mundo dos vivos depois de almoçar.

Eu, definitivamente, não queria aparecer com uma cara de derrotado no trabalho e informar facialmente que não estaria ali semana que vem.

Mas isso acabou sendo inevitável.

Passei meu cartão na entrada do prédio da editora e não cumprimentei os seguranças no saguão. Estava tão preso na minha onda de sentimentos que nem realmente percebi quando entrei e saí do elevador. A rotina estava tão fixa em minha mente que meu corpo já trabalhava no automático, e quando percebi isso, me senti um tolo.

Cheguei ao nono andar e não reparei em todas as coisas que costumava reparar.

O que fiz naquela tarde seguinte foi concluir uma revisão de um livro infantil sobre golfinhos que eu tinha iniciado na tarde passada. O problema foi que eu só conseguia focar meus pensamentos na minha frustração.

E o quão errado era colocar golfinhos – estupradores marinhos – em um livro infantil, como personagens animados que ensinam a respeitar os oceanos. Se golfinhos não respeitam outros golfinhos, por que eles respeitariam o oceano?

Aliás, se humanos não respeitam outros humanos, por que eles respeitariam direitos autorais?

Mas calma, eu não estou nessa parte da história ainda, porque estamos no dia 8 de março de 2015: um dia após eu ter sido informado que aquela seria, definitivamente, minha última semana de trabalho; e um dia antes do meu aniversário.

Universo Alternativo • yoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora