2 TESSA

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Mantivemo-nos deitados a comtemplar os nossos corpos nus, porém o "pequeno" Auden bate à porta e eu dirijo-me à cozinha vestindo uma t-shirt preta larga. Reparo nos olhos azul-acizentados e os cabelos pretos que percorrem toda a face, atento nos detalhes dos lábios desenhados como os dele, no sorriso contagiante e na energia inesgotável que herdou do seu pai.

A gratidão que por ele sinto é maior que todos os medos e dúvidas que alguma vez terei, e será sempre a minha única certeza. Sempre o amarei, até o meu coração o permitir.Sento-me na extremidade inferior da cama acolchoada, sinto o peso do olhar do Hardin nas minhas costas e aquilo que estou prestes a contar-lhe não irá atenuar esse sentimento puro. Mal chegamos a casa não consigo dirigir-lhe a palavra, desde aquele telefonema à saída do campus que evito olhar para ele e dar-lhe mais motivos para os recorrentes pesadelos que ainda tem. Chegou o momento que tenho andado a evitar há cerca de cinco horas, o momento em que lhe conto a verdade e o porquê de andar distante e cautelosa nos últimos dias, tendo como exceção esta manhã.

-Ha-Hardin? Podemos falar? – gaguejo e torna-se evidente o quão nervosa estou.

-Claro querida, que se passa? Desde que chegamos a casa tens estado distante, e eu sei que não vem só de agora... mas como esta manhã te libertaste pensei que...-tenta concluir ele.

-Pensaste mal – interrompo-o – tenho pensado na melhor forma de te revelar isto desde que chegamos, mas cheguei à conclusão que não há forma fácil de assimilares isto. Peço-te que não entres em desespero mais do que eu.

Aconchego-me nos braços dele e olho fixamente para os seus olhos verdes-esmeralda apavorados e curiosos, decide quebrar o silêncio avassalador que se instalou repentinamente.

-Tessa, sabes que tens de proferir palavras para perceberes a minha reação, estou genuinamente...

-Eu sei -novamente não o deixo terminar a frase – Hardin, eu tenho Alzheimer.

As feições dele mudam drasticamente, os olhos passam de encurralados para um vazio extremo, engole em seco. Esta não era deveras a reação que esperava, nem um tanto quanto isso.

-Tess...olha pra mim – faz um movimento para que o meu rosto se encontre com o dele – vou estar sempre aqui, vou ser o teu apoio, o apoio que mereces, serei o marido, o amigo, o companheiro e o pai que precisas que seja. E vou fazer-te apaixonares-te por mim todos os dias, todos os segundos...

Não me consigo conter e pressiono os meus lábios contra os dele, envolvo-os com a língua e, em surdina, digo "Amo-te". Passamos uma hora a conversar e a rir, e a notícia bombástica parece desaparecer com os sorrisos genuínos que partilhamos.

-Querida, há pouco apanhei a Em ao telefone com um rapaz a... tu sabes, coisas que fizemos quando estavas em Seattle, acabei por descobrir que o nome dele é Henry e é australiano, mas nunca ouviste isto da minha boca, okay? – tenta abstrair-me com todas as forças que tem e, pelo menos para já, tem resultado.

Encosto-me ao dorso dele, e acaricio as suas tatuagens como sempre fiz, percorro-lhe os braços e os músculos definidos do box, que insiste em continuar a praticar, e pela primeira vez desde a primeira maldita consulta sinto-me mais do que encorajada para enfrentar esta batalha. O homem que tenho diante de mim em nada iguala aquele rapaz universitário em que sempre vi a luz por detrás da escuridão assimilada no seu ténue olhar, e a quem hoje tenho orgulho em ser mãe dos seus filhos.

-Amo-te Hardin. Amar-te-ei sempre.

-Nunca amei ninguém para além de ti.

Passam horas a fio e o nosso olhar permanece focado um num outro, até ao toque do meu telemóvel cessar este fogo incandescente destes maravilhosos olhos verdes.

-Sim é a própria. -respondo eu, desconhecendo por completo a razão deste telefonema não identificado. – Claro que sim, acha possível levar um acompanhante?

-Está tudo bem, querida? – pergunta enquanto, subtilmente me retira o soutiã.

-Sim, na segunda feira tenho a primeira consulta. – informo expectante para que se ofereça a vir comigo. -Har-Hardin, achas que é momento para fazermos isto?

Tento salientar que o meu tratamento é o mais importante no momento, mas o toque dele dá-me calafrios e faz me sentir desejada e única, sei exatamente que precisa tanto disto como eu.

-Queres que pare, Tess? – pergunta convicto de que já sabe a resposta.

Aceno que não e num relance imediato sinto os lábios macios dele sobre o meu ombro, descendo vigorosamente até aos meus seios. É uma sensação maravilhosa e, por mais vezes que a experiencie, nunca me satisfará. Faço movimentos circulares com as ancas enquanto, de forma bastante agressiva, enfia o seu caralho dentro de mim, preenchendo todo o vazio e medo que sinto. Dou por mim a querer absorver tudo o que tem para me dar, e a esperar repeti-lo uma e outra vez mesmo com os nossos filhos em casa. Dou gemidos suaves e sei precisamente o que ambos estamos a sentir: aquela corrente elétrica que nos une e nos torna inevitáveis apodera-se de todos os meus movimentos.

-Tessa, estarei sempre aqui até ao dia em que morrer. Amar-te-ei até ao meu último suspiro, se sou assim a ti te devo! – exclama vindo-se dentro de mim. 

Mantivemo-nos deitados a comtemplar os nossos corpos nus, porém o "pequeno" Auden bate à porta e eu dirijo-me à cozinha vestindo uma t-shirt preta larga. Reparo nos olhos azul-acizentados e os cabelos pretos que percorrem toda a face, atento nos detalhes dos lábios desenhados como os dele, no sorriso contagiante e na energia inesgotável que herdou do seu pai.

A gratidão que por ele sinto é maior que todos os medos e dúvidas que alguma vez terei, e será sempre a minha única certeza. Sempre o amarei, até o meu coração o permitir.


AFTER - Até ao último suspiroOnde histórias criam vida. Descubra agora