5 Hardin

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Instalamo-nos no FIVE SEASONS Chicago e o olhar nostálgico da Tessa derrete todo o meu interior, não me comparo nem uma milésima ao Hardin Scott antes de a conhecer e os nossos destinos terem-se cruzado repetidamente.

Volvidas algumas horas, eu e a minha miúda encontramo-nos deitados, com os corpos seminus comprimidos um no outros, relembrando os momentos passados na casa do Vance em Seattle. O olhar apaixonado e vigoroso dela, passados todos estes anos, faz o meu caralho estar ainda mais teso que o costume. Envolvendo-a com os meus braços, vejo-a retirar as cuecas delicadamente, desejando profundamente estar a ser penetrada violentamente. Contudo, hoje não o farei, hoje quero dar todo o meu prazer à Tessa, quero fazê-la vir-se na minha língua uma e outra vez, quero experimentar inúmeras posições e locais tendo em vista o orgasmo mútuo. Assim o faço. Foda-se, nunca tive uma tarde tão prazerosa como esta, retirando lá está o nascimento dos nossos dois filhos.

-Hardin – tenta levemente recuperar o fôlego. – li o teu último manuscrito.

-Como? – questiono eu incrédulo das palavras que acabou de pronunciar. – Não o podes ter feito... ainda não está acabado, nem um título tem.

-Querido, não é esse o ponto. Eu adorei, presumo que seja inspirado na nossa relação. Está autêntico e as passagens de Bronte confirmaram as minhas suspeitas. Não fico minimamente entristecida que tenhas colocado a Tamara com cancro porque a reação do Harry foi... inesperada mas, sobretudo, apaixonada. -conclui.

Deve estar a referir-se ao capítulo 21 onde a Harry reage à declaração da Tamara, e passando a citar-me : "Ela é tudo para mim, é o meu ar, a sereia que me trouxe à superfície após anos sem ver a luz, se ela for abaixo serei tudo o que outrora foi para mim. Nunca pensei que fosse capaz de me sentir totalmente consumido por alguém que não eu, nunca imaginei que alguém retirasse a podridão dentro de mim e me fizesse, me fizesse quem hoje sou. Devo-lhe a minha própria vida e, moveria mundos e fundos em prol de lhe retirar este peso soberbo que consigo carrega."

-Prosseguindo, e sabendo que me vou contradizer. As nossas carreiras profissionais não poderão de forma alguma interferir na nossa vida pessoal e por isso, tenho um título para ti. - neste exato momento de choro e confissões da minha guerreira, soa um alerta no meu telemóvel.

-Boa tarde, Hardin Allen Scott. Sim é o próprio. – não retiro os meus olhos, e os meus pensamentos, do anjo que tenho em frente a mim.

-Boa tarde, daqui Molly Samuels da clínica privada de SouthWest. – a voz familiar do outro lado da linha, aliada ao nome dito, constam o óbvio.

-Molly? És tu? O que raio fazes numa clínica de tratamento ao cancro? – mal articulei tais palavras a expressão da Tessa mudou radicalmente. Estava assustada e confusa, mas transparecia uma dor ainda mais sufocante.

-Sou a dona, Hardin. Lamento muito pela Tessa, ninguém merece passar por isto, muito menos ela. – admite. – A consulta dela está marcada para amanhã às 19 e como o telemóvel associado é o teu...

-Sim, correto. Até amanhã. – desligo a chamada abruptamente e vou de encontro ao chão da casa de banho onde a Tessa se encontra completamente despida e aniquilada pelo medo.

-A Molly é dona do... -tenta completar a frase, mas está paralisada. Tem as emoções à flor da pele, está submersa num poço de negatividade e dúvida, persentindo que a única certeza que tem é o seu amor por mim.

Não sei o que fazer para a acalmar, queria reconfortá-la, dizer que tudo passará num estalar de dedos, prometer que é apenas mais uma batalha e que possui uma força catastrófica capaz de absorver toda a positividade, distribuindo-a.

Esta viagem ocorreu sem mais incidentes e, quando dava por mim estava sentado numa sala de reuniões demasiado pomposa, até para o Vance, a discutir os principais detalhes do livro: capa, título, caligrafia... Nisto deu-me o clique, A Tessa me chegou a dizer o possível título para o livro, e um segundo após estava a ligar-lhe.

-Hey, querida. – afirmo eu criando um compasso de espera.

-Não é a Tessa, Hardin. – a voz da Molly do outro lado da chamada ecoa por toda a minha cabeça, e logo me surgem inúmeras questões. – A Tessa ela...sofreu umas complicações digamos assim...

-Molly, deixa-te de merdas, que raio se passou com ela? -retalio eu.

-Ela ficou de vir hoje à consulta contudo não apareceu e, como é política da minha equipa, fomos à casa dela, isto é à vossa casa. -tenta elucidar-me.

-Sim, e? Onde raios está a minha mulher? -tento manter a calma em frente dos empresários da Vance, sem sucesso.

-Hardin peço-te que te acalmes, a Tessa sofreu uma contusão cerebral devido aos comprimidos que estão a prepará-la para a quimioterapia. – refere a Molly.

-Onde estão? Vou já aí ter...

-Essa é a questão Hardin, como legalmente não são casados a única pessoa que a pode vir buscar é a Carol. – engole em seco.

A minha visão está turva, a minha cabeça não dá tréguas, e não sabendo como cheguei aqui, entro na casa do Landon. Estou pálido e o medo apoderou-se do meu corpo de uma forma inigualável, começa finalmente a ficha a cair.

-Har-Hardin? Que fazes aqui? Senta-te, vou buscar-te um copo de água. -afirma ele com uma voz distante.

A frieza das lágrimas passa-me pelo rosto e, os olhos que me rodeiam não facilitam a tentativa de as eliminar. O Ken, o Landon e até a própria Addy observam me fixamente à cerca de duas horas e eu permaneço imóvel. Nisto ouço uma voz, aquela voz, pacífica e doce, tenra e jovem...a voz do meu anjo. Ao início parece um sonho, ou até uma miragem causada pelo pânico da perda, mas engano-me.

-Há quanto tempo está assim? – questiona ao telefone com o seu melhor amigo. E rapidamente me apercebo que de facto não se encontra aqui. -Passas-lhe o telemóvel por favor?

-Tessa? Tessa és mesmo tu? – a minha masculinidade hoje está abaixo de 0, e, por isso, permito que a água continue a jorrar pela minha face. – A Molly falou comigo, já estás com a tua mãe?

-Hardin, as coisas não são assim tão simples, sabias disso desde o início, e prometeste-me que não ias desabar. – constata.

-Tenho medo e sei que tu também, não quero perder-te, foi uma espécie de choque com a realidade... - desabafo.

-Anda ter comigo a casa mal te recomponhas, ainda não contamos aos miúdos e não quero que seja hoje. Amo-te Hardin. – desliga a chamada.

Saio porta fora sem apresentar nenhuma satisfação, e rapidamente me encontro em casa com um único propósito: abraçar a minha miúda. Sento-me bruscamente na nossa cama e fico a escrever até ser interrompido pelos lábios dela na minha testa, onde toda a insegurança desvanece. Talvez estejamos na altura que ando a evitar desde sexta-feira, a altura de expor as fragilidades e sentimentos esperando a compreensão do outro.

-Querida, como te sentes?

-Bem, dentro dos possíveis – enaltece.

-Podemos falar? – sei que talvez, não o queira fazer já.

-Hardin, sinto-me cansada, por isso vou fazer-me breve. Mais uma vez, a nossa relação vai ser posta à prova, e, tal como a Lady Hester* estás a pensar no pior, a antecipar algo que pode não acontecer, e isso destrói-te!

-Sabes que te amo, e que mais do que tudo és a minha alma? Mas a minha promessa mantêm-se. – encosto a sua cabeça nas minhas pernas massajando-a.

Uma dezena de minutos se passam e a Tessa aconchega-se e adormece com o corpo fraco entrelaçado ao meu, e por breves instantes, relembro-me daquela primeira vez na casa do meu pai (nunca vai deixar de o ser) onde soube que estava completamente perdido num sentimento que jamais havia experienciado, bastou o seu corte e a minha vulnerabilidade para acabarmos a noite como agora, apesar das circunstâncias que nos rodeiam (anteriormente, o facto de ela estar com o Noah).

*romance histórico "O duque Sombrio" de Margaret Moore

AFTER - Até ao último suspiroOnde histórias criam vida. Descubra agora