3 Hardin

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Quando a Tessa se retira da divisão admiro o seu corpo na minha t-shirt. A minha t-shirt na minha miúda. A mesma miúda que me revelou que tem cancro e que poderá ter nos próximos meses a única chance de sobreviver, e que, mesmo assim demonstrou franquezas e deixou-me completá-la como faremos eternamente.

Saindo do duche, torno a pensar o quão forte vou ter de ser por ela, o quão ela merece que eu o seja, e eu serei. O primeiro instinto que tenho é ir escrever, todavia mal pego no computador ocorre-me uma ideia melhor : vamos voltar ao estado de Washington e passar o fim de semana na antiga casa dos Scott (sempre serei um, apesar do que sei hoje, nunca deixarei de ver o Ken como meu pai).

Comprei passagens de avião para 4 pessoas e liguei ao Landon para estar a contar com a nossa repentina visita, não revelando o verdadeiro motivo de o estar a fazer.

-Querida, decidi por bem irmos passar o fim de semana à casa do Tio Landon. Como já tens 16 anos calculei que não quisesses vir, a casa estará por tua conta e quero que me demonstres que posso confiar em ti desde aquele...aquele pequeno desacato. – digo eu à Emery tendo uma réstia de esperança de que virá connosco.

-Obrigada Papá! – sorri em êxtase.

Fechei a porta delicadamente e dirigi-me à sala para por, finalmente, a escrita em dia. Não tarda a Tessa voltará do trabalho e eu ainda não dei um título ao meu quarto livro o que é deveras desmotivante pois o meu prazo termina na terça feira e, apesar de ser filho do dono ter os seus benefícios, comprometi-me a não falhar.

A Tessa entra em casa e ,prontamente, a informo que dentro de horas estaremos num avião a caminho de Washington e, o seu rosto mudou drasticamente. Foda-se. Que raio fiz eu agora?

-Hardin, não sei se é boa ideia. E sei que vais enumerar-me todas as razões para o qual deva aceitar, mas peço-te que não o faças, estou cansada. -refere ela pestanejando lentamente.

-Mas Tessa, ia ser muito bom para ti. Rever os que mais amas,... -interrompo-me a mim mesmo. Estou exatamente a fazer o que ela disse expressamente que não queria, estou a tentar com que repense e concorde com algo que não quer fazer apenas e só por ser egoísta -eu compreendo. Mas dá-me pelo menos 1 razão plausível para de facto não queres ir ter com o Landon.

-Bem, hoje fui ao escritório e, como bem sabes, fui tomar café ao "Bob's" e atrás do balcão encontrei a Steph. Queres uma razão mais plausível que esta? -contém-se para não chorar, todo o corpo dela está frágil e trémulo, odeio ver a minha miúda assim. Se pudesse, ficava com toda a dor e sofrimento que o cancro e a Steph lhe estão a causa, reviver o passado não tendo a certeza do futuro é fodido (eu que o diga). Posto isto, decido trazê-la para os meus braços envolvendo-a ternamente e secando pequenas lagrimas do seu tenro rosto.

-Querida, eu lamento imenso que estejas a reviver isto, e lamento ainda mais não saber o que posso fazer para te ajudar. – acabo por confessar-lhe as minhas fragilidades.

-Só precisas...precisas de ser o Hardin – soluça ela.

-Serei sempre o teu Mr. Darcy.

-Mesmo morta, serei a tua Elizabeth Bennet. E, não acho que ir para Washington me fará bem, é relembrar algo que para mim não é necessário, mas, se fizeres tanta questão... - tenta compensar-me com as suas doces palavras mas compreendo o rancor que guarda daquele maldito estado. Bem, terei de cancelar os bilhetes porém estou esperançoso que aceite vir comigo até Chicago, só os dois. Ambos precisamos disto, sei que sim.

AFTER - Até ao último suspiroOnde histórias criam vida. Descubra agora