Capítulo 1

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- Então o grande senhor do inferno está com medo? - debocho.

Sons de corrente riscam o chão da sala e vários lacaios do meu pai se aproximam, só esperando um comando para me ensinarem uma lição. Mas daquela vez, eu não iria ceder. Não que das outras vezes que tenha desafiado o meu pai eu tenha recuado no último instante, apenas cedia e ia atormentar as almas, pelos corredores. Eu queria poder fazer aquilo fora daqui. Eu queria fazer aquilo na terra.

- Devo dizer, que às vezes tenho orgulho de você, meu pequeno diabinho... Sempre que pode me insulta! A má educação que te dei, valeu a pena. - fala ele despreocupadamente, mexendo nos seus anéis, em um específico, para ser mais preciso, um de rubi, que eu tanto desejo, tanto quanto ir para a terra. - Vai querer meu trono qualquer dia desse, eu presumo.

- Obrigado pelas palavras... Bem, no momento ainda não. Pode ficar tranquilo. - disse-me como se respeitasse a sua autoridade. - No momento eu quero ir lá para cima e se eu conseguir corromper a alma em questão, quero um prêmio.

- Outro prêmio? - pergunta com desdém. - Você não está querendo demais?

- Invejar você, meu pai, é uma das minhas metas de vida. - indago com um sorriso malicioso. -O que acha? Estamos de acordo?

- E o que eu ganho, aceitando esse acordo?

- O que você quiser, vossa alteza.

E pronto, maldita hora que eu deixei minha petulância, tomar conta dos meus sentidos e falar justamente o que meu pai queria ouvir. Mas não sou de voltar atrás, com o que disse, se falei está falado. Tenho que arcar com as consequências.

Ele ri, porque percebe que conseguiu armar perfeitamente para mim, se eu ganhasse, moraria na terra e ele teria o inferno só para ele e não teria que lidar comigo sempre, querendo o destronar, pelo menos não muito. E se eu perdesse, ele baniria meus poderes e eu viraria um humano qualquer.

De todo jeito, esse grande filho da puta iria conseguir me ver longe daqui.

Mesmo sabendo das suas intenções, sem ao menos ele falar, já imaginava o que se passava naquela mente dele maquiavélica.

- Bem, você pode ir quando quiser. - diz e estala os dedos.

Puff!

Abro os olhos e me encontro em um gramado enorme, cheio de pessoas. Ótimo, pai. A caçada começou e eu nem me preparei adequadamente. Qual é? Você é Win Metawin, o grande e intenso príncipe do inferno, não duvide de si mesmo agora que está aqui.

Olho ao redor e percebo onde estou. É um campus de faculdade. Ótimo. Onde vou encontrar uma alma não corrompida, em um antro da perdição como esse lugar? É basicamente inspirada aqui, que faço todas as minhas festas.

Absorto em pensamentos, não percebo até ver um grupo grande de alunos, em uma roda gritando e xingando. Decidi me aproximar.

- Por favor, não bata nela. - implora um cara, nervoso, abraçando um cadela, que tremia bastante. - Ela não te fez mal.

- E quem é você para dizer o que devo ou não fazer? - pergunta o outro e dá um chute nele, que cai com um barulho feio no chão, mas ainda assim protege a cadelinha.

As pessoas ao redor riem e os xingamentos só aumentam. Eu percebo que no meio disso tudo achei que meu alvo é ele, tem que ser ele.

Decido me intrometer, para ganhar a confiança dele, se quero que meu plano dê início logo.

- Aquele ali não é o professor de química? Acho que ele tá vindo para cá. - falo no meio do grupo e a correria começa, eles nem se deram o trabalho de confirmar se era verdade e fugiram, covardes... Olho para frente e percebo que o carinha ainda segura a cadela, como se sua vida dependesse disso e me dá um sorriso... Ele é perfeito.

- Ei, levanta. - falo e estendo a mão, para que ele tenha algum apoio ao se levantar. - Já foram embora.

- Desculpe profe... - começa ele, mas ao levantar a cabeça, percebe que não sou quem ele imaginava.

- Tá tudo bem? Parece que viu um fantasma.

- Não... Não é isso, achei que você... Fosse outra pessoa. - diz e faz carinho na cabeça da cadelinha. - Você já pode ir agora, senão adoto você, porque minha gatinha é ciumenta.

Sério, ainda estou com minha mão estendida e ele está dando atenção ao mero e simples cachorro?

Lanço um mero olhar para a cadela e ela sai dos braços dele e fica do meu lado! O que eu posso fazer? Eu desde bebê mando em cães infernais, uma simples cadelinha, naturalmente virá até mim sem esforço.

- Parece que ela gostou de você. - Fala ele e se levanta sozinho e eu guardo a minha mão no bolso, confesso que esse humano está me irritando. - Por que não fica com ela?

- Dispenso. - falo sem pensar e ele me olha chocado. Merda, Win, é para cair nas graças dele e não fazer ele te odiar. Pensa rápido. - Você caiu bem feio no chão, está tudo bem?

Isso, uma falsa preocupação e no timing perfeito.

- Ah, isso... - suspira. - Estou acostumado com coisa pior.

Ele fala isso como se fosse nada e dá umas batidinhas no blusão, que agora está melado de terra e grama.

- Quer fumar um, para relaxar? - pergunto sobre sobrancelhas arqueadas.

- Eu não fumo, mas obrigado.

- E uma bebida? Cara, você está péssimo, com certeza iria te animar. - tento de novo.

- Eu não bebo.

O quê?

QUEM NÃO BEBE, EM PLENO SÉCULO XXI?

Parece que ele percebeu minha reação e dá uma risada fraca e logo depois fala:

- Não posso, fiz um voto que só beberia quando acabasse a faculdade e eu nem estou perto de acabar.

- Qual curso? Quer ser veterinário, suponho. - falo sem humor.

- Está tão na cara assim?

- Você nem imagina o quanto. - respondo.

- Bem, obrigado, eu acho, pela ajuda! - Fala e dá um meio sorriso. - E você garota, cuidado... Não se meta mais em problema.

- Nossa, com o animal você é bem mais carinhoso. - falo sem pensar. Mas que droga, Win, você não está mais no inferno para falar tudo o que pensa. Não quando você tem um plano a seguir.

Que basicamente é corromper a alma mais pura, fazendo-a cometer os 7 pecados capitais, o prazo é um 1 mês e é fácil até. O problema é se eu me controlo o suficiente para me aproximar, sem afugentar ninguém logo de cara. Até porque como vou chegar perto de alguém, dito puro, se sou umas das personificações do mal?

- Eu nem te conheço, para começo de conversa. - fala baixinho, porém eu escuto.

- E conhece a cadela? - questiono e ele perde o argumento.

Um ponto para mim.

- Bem, preciso ir. - fala e começa a andar apressado.

- Não vai dizer nem o seu nome?

Ele para e pensa alguns instantes se deve se virar e falar seu nome e então volta a andar de novo, porém escuto ele falar:

- Bright, meu nome é Bright Vachirawit e mais uma vez... Obrigado.

- Não há de quê. - falo num tom alto, para ele perceber que o ouvi. - Te vejo por aí e a propósito, me chamo Metawin.

Se ele ouviu eu não sei, já o perdi de vista, bem... para um começo, até que não foi tão ruim.

- E você! - digo e pego a cadela nas minhas mãos. - Você será útil para mim.

Seus olhinhos brilham, ela sabe que vou levar ela para casa e tenta lamber meu rosto. Pequena, mas ousada... Nem mesmo os grandes cães do inferno ousaram fazer isso. Gostei dessa cadela. Vou chamá-la de Charlotte, parece um nome nobre, para o pet de um príncipe, não é?

 Príncipe Do InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora