Capítulo 5

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Eu estava quase morrendo desidratada de tanto chorar, quando vi o segurança grandão arrastando o garoto cabeludo.

O garoto se sentou do meu lado enquanto o segurança falava:

- Mas não foi embora ainda, mocinha?

- A rua é pública e se eu quiser hibernar aqui eu tenho o direito, viu?

- Mas está sujando a frente do Arena.

- O que suja o Arena é essa sua cara de bebum.

- Sua mãe não te deu educação, não?

- Olha quem fala.

- Vão embora os dois! Se eu voltar e ainda estiverem aqui, vão ver só.

O segurança foi embora nos deixando sozinhos.

- Ingresso falso? - O garoto me perguntou, torcendo a bainha da camiseta para tirar o excesso de água.

- É. - Respondi, secando os olhos.

- Comprou numa bilheteria perto dum restaurante grego?

- Como sabe?! - Ergui a cabeça.

- Também comprei lá.

Bufei.

- Pois agora estamos sem dinheiro e sem ingresso. - Falei, me encolhendo novamente.

- É. Eu devia ter imaginado. Se tratando do Linkin Park, era improvável que ainda tivessem ingressos pra vender no dia do show. - Ele abaixou a cabeça.

- É. Mas o coração falou mais alto.

- Exatamente.

Ficamos em silencio por alguns minutos, até que ele estendeu a mão para mim.

- Sou Caio.

Apertei a mão dele.

- Sou Hana. Com H.

Ele riu.

- Com H? Nunca vi.

Soltamos as mãos.

- É, culpa da minha mãe. Ela leu O Paciente Inglês e o nome da moça era assim, daí ela escolheu.

- Que legal! Eu queria ter um nome tirado dos livros, mas daí minha mãe me bota Caio. Agora tenho que aguentar as piadinhas do tipo "opa, quase que eu Caio".

Eu ri.

- Mas é melhor do que o meu, que sempre escrevem errado. Dá raiva! Toda vez que vou no médico, a mulher pergunta "qual seu nome?" e eu falo "Hana, mas tem H no começo, viu, moça". Tô até pensando em tatuar isso na testa ou gravar, porque ficar repetindo sempre a mesma coisa me faz parecer professora de História.

Ele riu e se levantou.

- Bom, melhor irmos embora daqui antes que aquele troglodonte volte.

- Verdade.

Nos levantamos e seguimos lado a lado, dando a volta no Arena Show.

- Eu ainda não me conformei com essa história. - Comecei, balançando a cabeça negativamente. - Não aguentei esse sol todo, essa chuva e principalmente aquela tranqueira da Katherine blá-blá-blá pra no fim não ver o show.

- Sabe que eu tava pensando a mesma coisa... - Caio me olhou, curioso.

- Se pensou o mesmo, então provavelmente sabe o que estou pensando agora... - Abri um sorriso animado.

- Acho que sim... Está pensando em assistir o show de qualquer jeito? - Ele arregalou os olhos, mal conseguindo esconder sua ansiedade.

- Exatamente! - Abri um sorriso tão grande que pensei que meu rosto fosse explodir. - Vamos, temos que bolar um plano.

Puxei-o para baixo de um toldo que cobria a entrada de uma lojinha que estava fechada. Nos sentamos e começamos a trocar ideias.

- Pra começar, tínhamos que trocar essas roupas. Vamos ficar resfriados antes de entrarmos no show.  - Ele sugeriu.

- Concordo. Bom, eu trouxe uma troca de roupa...

- Por que diabos alguém traria uma troca de roupa pra um show? Ficou com medo de fazer meleca nas calças? - Ele riu.

Abri minha bolsa e comecei a puxar as roupas.

- Não, idiota. Justamente para imprevistos como esse. Pode me zoar, mas pelo menos tenho uma roupa sequinha me esperando... - Quando tirei as roupas da bolsa, estavam ensopadas, piores do que as que eu vestia.

Caio estufou as bochechas, prendendo sua risada.

- Ahhhhh droga! Puta que pariu, que porra, caralho, tudo um bando de filho da puta!

Caio finalmente soltou sua risada. Uma gargalhada seca e contagiante, que me fez ficar indecisa se eu devia rir também ou chorar.

- Que dia bipolar! Começa tão bem e termina tão... lixo. - Estalei a língua enquanto colocava as roupas de volta na mochila.

Caio enxugou de seus olhos lágrimas que saíam por causa de sua gargalhada e falou:

- A gente pode passar numa dessas lojinhas pobres mesmo e comprar alguma coisa, sei lá. - Ele deu de ombros.

- Pode ser. - Disse, me levantando.

- Vai dizer que seu dinheiro tá encharcado também? - Ele abriu um sorriso de deboche enquanto se punha de pé.

- He, he, he. Engraçadão. Não, meu dinheiro está sequinho.

- Ótimo. Então a primeira parte do plano é: roupas secas. Vamos?

- Vamos.

Atravessamos a rua e seguimos pela calçada molhada.

É tudo culpa do Linkin ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora