Andamos alguns minutos até pararmos na frente de uma lojinha pequena com o nome de Gigi Fashi-on. Com esse nome de classe, tava mais que na cara que acharíamos roupas novinhas por dez reais.
Entramos na loja. Era minúscula e tão apertada que Caio e eu tivemos que andar em fila indiana. Nos dirigimos até o balcão onde uma mulher lia uma revista de fofoca. Quando nos aproximamos, a mulher ergueu o rosto. Aparentava ter uns quarenta e poucos anos, baixa e cheinha.
- Com licença. Precisamos das roupas mais baratas que a senhora tiver. Nossas roupas estão ensopadas. - Eu disse, e Caio concordou com a cabeça.
A mulher virou-se para uma prateleira atrás de si e pegou algumas peças.
- As mais baratas são estas. - Disse ela, jogando as roupas sobre o balcão.
Mexi nas peças e tornei a encará-la.
- Não tem roupas masculinas?
- Desculpa. Esta é uma loja exclusivamente feminina.
- E não poderia nos informar uma loja que venda roupas masculinas baratinhas?
- Não. Por aqui só há duas lojas masculinas e são caras.
Olhei para o Caio que deu de ombros.
- Caio, a gente pode achar aqui roupas que não sejam tão femininas.
- O quê?! - Caio berrou. - Me recuso a usar roupas de menina.
- Ô Senhor Machista, ou usa ou não vai conseguir ver o show.
A mulher olhava para nós atentamente.
Caio suspirou e acenou com a cabeça.
- Está bem. Mas algo que não tenha moranguinhos e nem corações.
- Filho, nem eu uso isso. - Soltei uma risadinha.
Mexi nas roupas e achei uma camiseta preta com mangas compridas e com a estampa dos Rolling Stones feita em lantejoula.
- O que acha? - Mostrei a camiseta para ele.
- Mas tem lantejoulas...
- E daí? Com todo seu estilo, é provável que você até lance moda entre os garotos.
Joguei a blusa no ombro e continuei procurando peças.
- Por que tenho a impressão de que você está me zoando? - Ele pôs as mãos na cintura.
Olhei para ele e ri.
- Porque talvez eu esteja.
Ele bufou e começou a mexer nas roupas também.
- Olha, Hana. Uma camiseta do Pato Donald. Sete reais. É essa que você vai usar! - Ele estendeu a camiseta para mim.
- É. Acho que dá. - Peguei a camiseta e joguei-a também sobre o ombro e voltei a mexer nas roupas.
- Moça, não tem calças baratinhas? - Perguntei, tentando não aborrecê-la com nossa economia.
- Só bermudas.
- Serve.
Ela pegou alguns modelos de bermudas e colocou sobre o balcão. Caio e eu pegamos uns que nos serviam. Ele, uma bermuda azul. Eu, um shorts de academia laranja - era o que cabia no meu orçamento - e jogamos sobre o ombro.
- Moça, você também não teria meias?
- Claro. - Ela jogou para nós uns pacotinhos de meias de cupcake rosa.
- Só tem essas? - Perguntei, fazendo uma careta.
- Só. - A moça respondeu pacientemente.
Olhei para o Caio e ambos demos de ombro. Pegamos um par de meia cada um e devolvemos o resto.
Virei-me para a mulher novamente e perguntei:
- Quanto ficou tudo?
Ela pensou um pouco antes de responder:
- Cinquenta reais de cada um.
Caio me olhou e assentiu.
Ambos tínhamos levado exatos cinquenta reais e uns trocadinhos - que gastamos mais cedo na lanchonete - para o show. Estávamos com sorte.
Entregamos o dinheiro e pegamos as roupas.
- Moça, será que a gente poderia se trocar no seu provador?
- Claro. É atrás daquela porta. - Ela indicou uma porta do lado direito do balcão. Seguimos para lá, mas parei no meio do caminho, me virando para a mulher.
- E será que poderia nos arrumar uma toalha, sabe, pra gente se secar?
- Desculpa, mocinha. Não estou autorizada a isso.
Franzi as sobrancelhas.
- Qual é? O que mais tem aqui é pano! Com certeza você tem um velho aí pra emprestar pra gente.
- A dona da loja não permite algo do tipo.
Caio pegou meu braço, me arrastando para o provador e sussurrando um "deixa pra lá, Hana", mas me desvencilhei da mão dele.
- Caio, para de ser boiola e me ajuda!
Ele abaixou a cabeça e ficou calado. Voltei-me para a mulher.
- A dona "Gigi" não permite? - Fiz aspas com os dedos. - Avisa ela que os clientes devem ser tratados todos com respeito, até os que chegam ensopados precisando de uma toalha.
- Pode deixar, eu aviso. - A mulher assentiu impaciente.
- Ah, e avisa pra ela também que com esse nome, Gigi, ela não vai muito longe, não. Fala sério, Gigi? Tudo bem que o nome dela pode ser horrível, tipo Gislorrâine ou Ginorréia, mas ela podia se apelidar Lola ou Niki, que é mais bonito. Ou, se ela quiser, pode usar meu nome. É Hana, com H. Minha mãe diz que é chique. Será legal para a loja, e se ela topar, pode usar meu nome à vontade, desde que nos ceda uma toalhinha. - Abri um sorriso amarelo. - Afinal, qual é o nome da Gigi?
A vendedora, sem reação, respondeu:
- O nome dela é Givanéia.
Caio e eu tentamos prender a risada em nossa garganta, mas ela acabou escapando junto com os sons mais estranhos que já ouvi. Quando percebi, estávamos nos retorcendo no chão, gargalhando, quase sem ar.
- Que nome de doença, véi. - Eu quase não conseguia falar. - Givanéia... Ai, ai, parece uma daquelas doenças que minha vó tem. - Caio de novo na risada. (Desculpa o trocadilho, Caio. Não tive a intenção).
- Parece diarréia. - Caio fala por entre seu ataque de risos, limpando lágrimas dos olhos.
A vendedora pegou uma vassoura atrás do balcão, se aproximou de nós e nos fuzilou com o olhar.
- Eu sou a Gigi.
Paramos de rir abruptamente, tentando rapidamente recuperar o fôlego para fugir das vassouradas que a mulher dava freneticamente no ar.
Agarramos nossas roupas novas e nossas mochilas e corremos até a porta. Paramos na calçada, sem que a mulher nos acertasse uma só vez.
Gigi fechou a porta da loja com força, murmurando xingamentos estranhos, até voltar para sua revista de fofocas.
Assustados, olhamos um para o outro, antes de eu murmurar:
- Diarréia...
E o ataque de risos recomeçou.
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É tudo culpa do Linkin Park
RomanceHana é fã da banda Linkin Park, e mal pode acreditar que em poucas horas vai realizar seu maior sonho: ir para o show da banda. Por ironia do destinho, conhece na fila do show o Caio, um garoto cabeludo e que usa óculos de Harry Potter. Por uma iron...