Capítulo 6

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Andamos alguns minutos até pararmos na frente de uma lojinha pequena com o nome de Gigi Fashi-on. Com esse nome de classe, tava mais que na cara que acharíamos roupas novinhas por dez reais.

Entramos na loja. Era minúscula e tão apertada que Caio e eu tivemos que andar em fila indiana. Nos dirigimos até o balcão onde uma mulher lia uma revista de fofoca. Quando nos aproximamos, a mulher ergueu o rosto. Aparentava ter uns quarenta e poucos anos, baixa e cheinha.

- Com licença. Precisamos das roupas mais baratas que a senhora tiver. Nossas roupas estão ensopadas. - Eu disse, e Caio concordou com a cabeça.

A mulher virou-se para uma prateleira atrás de si e pegou algumas peças.

- As mais baratas são estas. - Disse ela, jogando as roupas sobre o balcão.

Mexi nas peças e tornei a encará-la.

- Não tem roupas masculinas?

- Desculpa. Esta é uma loja exclusivamente feminina.

- E não poderia nos informar uma loja que venda roupas masculinas baratinhas?

- Não. Por aqui só há duas lojas masculinas e são caras.

Olhei para o Caio que deu de ombros.

- Caio, a gente pode achar aqui roupas que não sejam tão femininas.

- O quê?! - Caio berrou. - Me recuso a usar roupas de menina.

- Ô Senhor Machista, ou usa ou não vai conseguir ver o show.

A mulher olhava para nós atentamente.

Caio suspirou e acenou com a cabeça.

- Está bem. Mas algo que não tenha moranguinhos e nem corações.

- Filho, nem eu uso isso. - Soltei uma risadinha.

Mexi nas roupas e achei uma camiseta preta com mangas compridas e com a estampa dos Rolling Stones feita em lantejoula.

- O que acha? - Mostrei a camiseta para ele.

- Mas tem lantejoulas...

- E daí? Com todo seu estilo, é provável que você até lance moda entre os garotos.

Joguei a blusa no ombro e continuei procurando peças.

- Por que tenho a impressão de que você está me zoando? - Ele pôs as mãos na cintura.

Olhei para ele e ri.

- Porque talvez eu esteja.

Ele bufou e começou a mexer nas roupas também.

- Olha, Hana. Uma camiseta do Pato Donald. Sete reais. É essa que você vai usar! - Ele estendeu a camiseta para mim.

- É. Acho que dá. - Peguei a camiseta e joguei-a também sobre o ombro e voltei a mexer nas roupas.

- Moça, não tem calças baratinhas? - Perguntei, tentando não aborrecê-la com nossa economia.

- Só bermudas.

- Serve.

Ela pegou alguns modelos de bermudas e colocou sobre o balcão. Caio e eu pegamos uns que nos serviam. Ele, uma bermuda azul. Eu, um shorts de academia laranja - era o que cabia no meu orçamento - e jogamos sobre o ombro.

- Moça, você também não teria meias?

- Claro. - Ela jogou para nós uns pacotinhos de meias de cupcake rosa.

- Só tem essas? - Perguntei, fazendo uma careta.

- Só. - A moça respondeu pacientemente.

Olhei para o Caio e ambos demos de ombro. Pegamos um par de meia cada um e devolvemos o resto.

Virei-me para a mulher novamente e perguntei:

- Quanto ficou tudo?

Ela pensou um pouco antes de responder:

- Cinquenta reais de cada um.

Caio me olhou e assentiu.

Ambos tínhamos levado exatos cinquenta reais e uns trocadinhos - que gastamos mais cedo na lanchonete - para o show. Estávamos com sorte.

Entregamos o dinheiro e pegamos as roupas.

- Moça, será que a gente poderia se trocar no seu provador?

- Claro. É atrás daquela porta. - Ela indicou uma porta do lado direito do balcão. Seguimos para lá, mas parei no meio do caminho, me virando para a mulher.

- E será que poderia nos arrumar uma toalha, sabe, pra gente se secar?

- Desculpa, mocinha. Não estou autorizada a isso.

Franzi as sobrancelhas.

- Qual é? O que mais tem aqui é pano! Com certeza você tem um velho aí pra emprestar pra gente.

- A dona da loja não permite algo do tipo.

Caio pegou meu braço, me arrastando para o provador e sussurrando um "deixa pra lá, Hana", mas me desvencilhei da mão dele.

- Caio, para de ser boiola e me ajuda!

Ele abaixou a cabeça e ficou calado. Voltei-me para a mulher.

- A dona "Gigi" não permite? - Fiz aspas com os dedos. - Avisa ela que os clientes devem ser tratados todos com respeito, até os que chegam ensopados precisando de uma toalha.

- Pode deixar, eu aviso. - A mulher assentiu impaciente.

- Ah, e avisa pra ela também que com esse nome, Gigi, ela não vai muito longe, não. Fala sério, Gigi? Tudo bem que o nome dela pode ser horrível, tipo Gislorrâine ou Ginorréia, mas ela podia se apelidar Lola ou Niki, que é mais bonito. Ou, se ela quiser, pode usar meu nome. É Hana, com H. Minha mãe diz que é chique. Será legal para a loja, e se ela topar, pode usar meu nome à vontade, desde que nos ceda uma toalhinha. - Abri um sorriso amarelo. - Afinal, qual é o nome da Gigi?

A vendedora, sem reação, respondeu:

- O nome dela é Givanéia.

Caio e eu tentamos prender a risada em nossa garganta, mas ela acabou escapando junto com os sons mais estranhos que já ouvi. Quando percebi, estávamos nos retorcendo no chão, gargalhando, quase sem ar.

- Que nome de doença, véi. - Eu quase não conseguia falar. - Givanéia... Ai, ai, parece uma daquelas doenças que minha vó tem. - Caio de novo na risada. (Desculpa o trocadilho, Caio. Não tive a intenção).

- Parece diarréia. - Caio fala por entre seu ataque de risos, limpando lágrimas dos olhos.

A vendedora pegou uma vassoura atrás do balcão, se aproximou de nós e nos fuzilou com o olhar.

- Eu sou a Gigi.

Paramos de rir abruptamente, tentando rapidamente recuperar o fôlego para fugir das vassouradas que a mulher dava freneticamente no ar.

Agarramos nossas roupas novas e nossas mochilas e corremos até a porta. Paramos na calçada, sem que a mulher nos acertasse uma só vez.  

Gigi fechou a porta da loja com força, murmurando xingamentos estranhos, até voltar para sua revista de fofocas.

Assustados, olhamos um para o outro, antes de eu murmurar:

- Diarréia...

E o ataque de risos recomeçou.

É tudo culpa do Linkin ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora