Capítulo 7

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Estávamos andando pela calçada, já recuperados do ataque de risos. A noite estava ficando mais fria, nos deixando batendo os dentes dentro daquelas roupas molhadas.

- A gente precisa achar um lugar pra trocar de roupa urgentemente.

- Apoio. - Respondi, passando as mãos frenéticamente pelos meus braços numa tentativa frustrada de me aquecer.

Encontramos um bar não muito cheio há dois quarteirões da loja da Gigi. Resolvemos ir até lá e pedir para usar o banheiro para trocar de roupa.

Entramos no bar. No rádio tocava uma música do Bruno e Marrone. Calma gente, antes de dizerem como ela sabe?, deixa eu explicar. Minha mãe adora eles por causa do meu pai - que Deus o tenha - porque eles costumavam dançar essas músicas juntos. Eu sei, parece clichê, e é, mas vai, até que é romântico. Daí, quando meu pai morreu em um acidente de trânsito, quando dirigia seu táxi, ela ouviu todas as músicas da dupla compulsivamente durante um mês. É de lei que eu saiba as músicas também. E de qualquer maneira, não me envergonho de conhecer. Tudo bem, sou uma pessoa rude e, assumo, bem antipática, mas não posso negar o que sou. Não é como fingir uma dor de barriga pra não ir à escola.

Mas certo, chega de papo furado. Voltando à minha incrível descrição do bar...

Tinha uns pôsters de duplas sertanejas - essas eu não conhecia - e uns enfeites que lembram o interior, tipo chapéus de caubói, chapéus de palha, violões e molduras de madeira ao redor de algumas fotos. Daria até pra me sentar e brincar de ser vaqueira - se eu não estivesse numa missão ultra secreta, claro.

Me aproximei do homem por trás do balcão. Ele era baixinho e gordinho, de cabelos brancos e barba também branca. Tinha a aparência de um típico dono de boteco, mas, na minha percepção adulta e madura que construí em todos os meus dezoito anos de idade, ele me lembrava muito o Papai Noel.

- Podemos usar o banheiro? - Perguntei, tentando parecer educada (Juro que tentei, até mudei um pouco minha voz, deixando mais afeminada.).

O homem passou um pano sobre o bacão, limpando, depois ergueu os olhos para nós e respondeu impaciente:

- O banheiro é só para clientes.

As poucas pessoas que estavam bebendo no bar nos olhava com atenção, como se nunca tivessem visto uma garota com um cabelo de vassoura e um garoto magrelo com óculos de Harry Potter vestidos com camisetas iguais e ensopados.

- Bom, isso não é problema. - Senti Caio cutucar meu braço. Dei um tapa em sua mão gelada e ele se aquietou. - Prepara aí duas coxinhas, uma lata de refrigerante e... uma caixinha de chiclete.

O homem abaixou a cabeça e continuou limpando o balcão.

- Qual refrigerante? - Perguntou, ainda de cabeça baixa.

- Qualquer um. Bom, onde fica os banheiros?

O homem apontou para o fundo do bar.

- Naquelas duas portas ali.

- Obrigada.

Caio e eu nos dirigimos até as portas com desenhos de uma menina e um menino feito em folha pautada, diferenciando o banheiro feminino do masculino.

Quando entrei no banheiro, me arrependi imediatamente. O cheiro de porcaria humada era terrível. Na parede, acima do vaso, havia uma marca de mão feita com sangue - meu Deus - e um absorvente sujo estava grudado um pouco abaixo da marca.

Senti meu estômago se contrair e tapei a boca. Resolvi acabar logo com aquilo. Fechei a porta e a tranquei. Joguei minha bolsa no chão e comecei a tirar minha roupa. Milagrosamente, consegui prender a respiração por sete segundos, coisa que é bem difícil pra mim, mas que salvou minha vida. Peguei minha camiseta do Pato Donald e vesti, e em seguida, o shorts laranja. Coloquei as meias de cupcake, calcei de novo meus tênis e joguei a roupa molhada na mochila.

É tudo culpa do Linkin ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora